Nunca paramos de aprender sobre sexo - e ainda bem que é assim!

por Alberto Lima* Publicado em 15/06/2010, às 13h09 - Atualizado às 13h10

Nunca paramos de aprender sobre sexo - e ainda bem que é assim! -
Sexo é aprendizagem. E a melhor parte: nessa escola só há alunos, que são também os professores; os pupilos é que dão o sinal; a aula dura o quanto seja desejável; o conteúdo é prazeroso; o comparecimento, facultativo; a frequência, a que se preferir; e, por fim, repetir não significa ser reprovado! Quando maduras o suficiente para iniciar sua vida sexual, é importante que as pessoas estejam cientes de que não precisam ter mestria no assunto. Nem há como. O conhecimento do sexo, bem como o da própria sexualidade e da do parceiro ou parceira, não se esgota nunca. Tenho 56 anos e me sinto no frescor das primeiras lições, ávido por aprender mais, vivenciar mais, desfrutar mais. Seria de esperar que isso fosse óbvio, mas não é. Uma cultura exigente como a nossa, com seus rigores patriarcais, leva o rapaz e a jovem a crer que deveriam entrar na cena da vida sexual "tirando de letra" - como se a competência nessa seara fosse adquirida por decurso de prazo e se tornasse disponível, como num passe de mágica, no início da vida adulta. Mesmo quando se considera que existe uma disposição inata para a cópula - afinal, é arquetípica -, há que se considerar que ela deverá ser humanizada, ou seja, coordenar-se com os demais conteúdos já sistematizados que compõem o acervo consciente de uma pessoa. Ora, não há como se ter consciência de algo que ainda não foi vivenciado. Acertadamente, as escolas hoje se ocupam de educação sexual. Isso, de fato, não pode faltar, mas não raro observo falhas no processo. Lembro-me de que, aos 11 ou 12 anos, minha filha indagou: "Pai, aqui está escrito que o espermatozoide passa do corpo do homem para o corpo da mulher. Como assim, 'passa'? Ele pula? Escorrega do corpo do homem e cai no corpo da mulher? Ele encosta a mão nela, o espermatozoide faz um buraquinho e entra?" Li os textos didáticos e percebi que eles cercam o assunto de uma cientificidade asséptica, da qual o pênis, a vagina e suas interações praticamente não participam. Falta sensualidade. Faz sentido que a escola se ocupe com os aspectos biológicos, mas seria conveniente que o fizesse com clareza, dentro do universo de significados possível de ser assimilado em cada faixa etária. Antes do encontro sexual propriamente dito, há outra etapa importante, que consiste numa espécie de apadrinhamento: pessoas mais experientes, não necessariamente os pais, devem orientar os jovens, da mesma forma como procedem em relação a outros assuntos importantes. Há de existir a vida de cada jovem um mentor que o ajude nessas iniciações. Na sua falta, o jovem que começa a ter relações fica à deriva, ou pressupõe que deveria estar pronto para exercer a sexualidade com rigor, criatividade e excelência, com a mesma facilidade com que solta um espirro. Mais preocupantes ainda são aqueles casos em que a falta de orientação é preenchida com recursos pouco recomendáveis, como o acesso a material pornográfico, que não pode ser a única tradução para uma sexualidade plenamente exercida. Uma vez apadrinhados, estamos livres e seguros para mergulhar na fantástica aventura de aprender sobre o sexo, para o resto de nossa vida, de posse de nossa certificada autonomia para tanto, de preferência no palco amoroso, onde o sabor desse saber é inigualável!
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