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Esporte / Conquistando espaços!

Ana Thaís Matos conta como superou a resistência dos colegas: "Nunca foi tranquilo"

"Temos um time muito grande, que está crescendo e não vai parar de crescer", afirmou Ana Thaís Matos em entrevista exclusiva para a CARAS Digital

Daniela Santos

por Daniela Santos

dsantos_colab@caras.com.br

Publicado em 24/07/2023, às 07h10

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Ana Thaís Matos exalta presença das mulheres em cobertura da Copa do Mundo - Crédito: Globo/João Cotta
Ana Thaís Matos exalta presença das mulheres em cobertura da Copa do Mundo - Crédito: Globo/João Cotta

Primeira comentarista nas transmissões de jogos de futebol da TV Globo, Ana Thaís Matos já está preparada para cobrir a Copa do Mundo Feminina de Futebol. O torneio, que acontece na Austrália e Nova Zelândia, dessa vez terá uma cobertura mais diversa. 

A jornalista, que conquistou seu espaço no futebol, conversou com exclusividade com a CARAS Digital, e além de ressaltar a importância de ter mais mulheres nas coberturas esportivas, também palpitou sobre as chances da Seleção Brasileira, que está em busca de seu primeiro título. 

"É minha terceira Copa na Globo. Em 2019, a Copa do Mundo Feminina na França foi a minha primeira como comentarista. Depois eu fiz a Copa do Mundo Masculina do Catar (2022). Primeira vez que uma mulher acompanhava a Seleção Brasileira como comentarista, e esse lugar foi um divisor de águas na minha história", confessou.

Ana, então, analisou a evolução na cobertura dos jogos com a presença de mais mulheres. "Agora mais uma Copa do Mundo Feminina, e a grande diferença, e bem significativa, é que há quatro anos eu estava sozinha nessa como comentarista na TV Globo, e quatro anos depois nós temos um time muito grande, que está crescendo e não vai parar de crescer, com mais comentaristas, com narradoras, o que não tínhamos em 2019 e temos agora."

"O ponto fundamental disso, que eu tenho destacado muito, é que hoje nós temos novas contadoras de história. Em 2019, a gente ainda emprestava, bem entre aspas, o que era o futebol masculino. A TV Globo conseguiu com que a gente criasse a nossa própria história, e hoje nós também somos referências para falar de futebol, não só o feminino, mas também o masculino", pontuou. 

Críticas e comentários machistas

Por ser pioneira como comentarista esportiva, Ana Thaís recebeu diversas críticas, e até hoje ainda precisa lidar com comentários negativos. Ela confessou que antigamente sofria bastante e buscava aprovação, mas com o tempo, mudou a forma de lidar com haters.

"Quando comecei a sofrer os ataques, como eu já vinha da carreira do rádio, eu já tinha um pouquinho da ideia do que era você ocupar esse lugar de opinião, como a maioria dos homens se incomodam com isso. Até 2020, 2021, eu sofria muito. Espera ter aprovação das pessoas nas redes sociais. Até eu perceber que meu trabalho, o impacto dele é muito maior e muito além do que está escrito nas redes sociais."

"Ter comentado uma Copa do Mundo Masculina mostra a força do meu trabalho e das pessoas que acreditam em mim. Então hoje, eu acho que o hater precisa mais de mim do que eu dele. Ainda sofro um pouco com as críticas, mas eu sei que tem críticas que são destrutivas e não construtivas, elas estão ali só para tentar silenciar a gente de alguma forma. Eu evoluí, o hater não mudou, o que mudou foi a minha relação com eles", refletiu. 

A jornalista também contou como era sua relação com os colegas de profissão quando passou a ser comentarista."Nunca foi tranquilo. Melhorou muito. Alguns resistiram, outros abraçaram a causa, mas eu acho que foi importante todo mundo entender que a gente não ocupa o lugar de ninguém, nós criamos o nosso, um novo espaço, que é para as mulheres, a gente não tomou o lugar de nenhum homem. Quando as pessoas começaram a entender isso, elas pararam de ficar inseguras em relação ao espaço delas. E a relação sempre foi crescendo e melhorando, e hoje todo mundo se aceita e isso melhorou muito", contou. 

Ela ainda opinou sobre o que deve ser melhorado para que cada vez mais mulheres conquistem espaço no jornalismo esportivo. "Precisa ter mais mulheres. Parece uma conta meio boba, mas é a verdade. Eu voltei do Catar, da Copa do Mundo masculina, pensando nisso. O Catar tinha muitos homens nos estádios, no dia a dia, onde você olhava tinha homens. É um país muito masculino, e eu fiquei pensando como aquele ambiente acaba sendo nocivo para as mulheres."

"Então só a gente mudando os profissionais, as pessoas que consomem futebol, estimulando ter mais torcedoras, apresentadoras, comentaristas, mais mulheres em posições estratégicas, de chefia... a gente vai construir um ambiente melhor para as mulheres serem mais ouvidas. Enquanto a gente for minoria no sentido de duas mulheres para dez homens em qualquer ambiente, é difícil... e nem todas as mulheres estão dispostas a se indispor por causa de espaço. A gente só vai conseguir melhorar quando tivermos mais de nós, e assim ter forças para combater esse ambiente mais tóxico do futebol, interno e externamente", refletiu. 

As chances da Seleção Brasileira na Copa do Mundo

A Seleção Brasileira Feminina de Futebol, comandada por Pia Sundhage, está em busca da conquista inédita em Copa do Mundo, e Ana acredita que as meninas têm grandes chances de fazer um bom Mundial. "A Seleção Brasileira com a técnica Pia Sundhage chegou em um bom nível para essa Copa, teve problemas na preparação, que é algo normal."

"Eu acho que o estilo da treinadora, mais para frente vamos poder questionar, mas o trabalho da Pia internamente foi positivo no sentido de estruturar o profissionalismo de uma Seleção Brasileira. Isso foi fundamental e foi um divisor de águas na preparação de uma Copa do Mundo na história da Seleção, mas eu acho que o Brasil está no bolo, as 10 primeiras colocadas do ranking da Fifa estão no bolo para ser campeã", analisou a comentarista.

O Brasil aparece na oitava posição do ranking, e a jornalista opinou sobre a realidade das brasileiras na competição. "Eu hoje falo que uma campanha do Brasil até as quartas de final é uma campanha dentro da realidade. Se cair antes disso eu vou ficar muito frustrada, mas se fizer uma campanha histórica, se chegar em mais uma semi ou uma final, vai ser dentro da realidade do futebol feminino. Lembrando que a gente também tem que entender as frustrações das derrotas das mulheres. A gente não tem que acertar sempre. Estamos construindo essa história, ela é muito recente, o futebol feminino foi muito boicotado no Brasil e no mundo", ressaltou. 

Para a comentarista, a França será o maior desafio da nossa seleção na primeira fase. "É uma revanche de 2019 e, porque ela está há alguns anos na frente do Brasil em relação a preparação... A estreia do Brasil, embora seja contra um adversário bem frágil, que é o Panamá, estreia em Copa do Mundo é bem diferente e muito difícil, mas fazer uma boa estreia vai fazer com que o Brasil faça uma primeira fase mais segura. Elas estão preparadas para superar esse desafio e classificar para as oitavas de final", afirmou. 

Ela ainda escolheu o time que gostaria de ver o Brasil enfrentando na final da Copa. "Seria legal os Estados Unidos, a maior potência do futebol feminino, quatro vezes campeãs. Já ganharam do Brasil, já perderam do Brasil", disse ela, fazendo uma análise. "A rivalidade no futebol feminino, é importante destacar, ela não tem os mesmos parâmetros do masculino. Nossas adversárias são Austrália, Estados Unidos, a França depois de 2019, então por essa rivalidade e construção do futebol feminino, seria legal uma final contra os Estados Unidos. Quem sabe a gente não consegue dessa vez ganhar delas."

No fim, Ana deixou um recado para as pessoas que amam futebol, mas não gostam de acompanhar as mulheres em campo. "Antes de falar que não gosta, você precisa assistir... Exitem muitos jogos masculinos muitos ruins, como existem muitos jogos femininos que são muito ruins, assim como existem jogos masculinos bons, e jogos femininos bons também. As pessoas precisam ao menos conhecer, acompanhar, aproveitar que a Copa do Mundo começou."

"Então para se despirem desse preconceito elas precisam acompanhar e a oportunidade está aí. Nunca se teve tanto futebol feminino transmitido no Brasil e nas diversas plataformas digitais. Quem se apoia no clichê de que não gosta, de que o futebol feminino não é bom, acho que tá perdendo tempo de não assistir, acompanhar. E quem não quer assistir, não precisa lembrar todos os dias que não gosta e que o futebol feminino não é bom, é só trocar de canal, fazer outra coisa. O que não dá é a pessoa acordar quatro horas da manhã para falar mal do futebol feminino", finalizou. 

Datas e horários dos jogos do Brasil na fase de grupos da Copa

Brasil x Panamá - 24 de julho (segunda-feira), às 08h - Hindmarsh Stadium, em Adelaide.

França x Brasil - 29 de julho (sábado), às 07h - Brisbane Stadium

Jamaica x Brasil - 2 de agosto (quarta-feira), às 07h - Melbourne Rectangular