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Revista / Entrevista

Bicampeã olímpica de vôlei, Sheilla Castro se despede das quadras e curte as filhas

Sheilla Castro comemora nova fase em sua vida: 'Me conhecendo, reconectando'

Por Fernanda Chaves Publicado em 15/11/2022, às 10h21

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Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS - Fotos: Ronaldo Andrade Jr
Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS - Fotos: Ronaldo Andrade Jr

Entre a escolinha e a carreira profissional, foram 28 anos dedicados ao vôlei. “É muito mais da metade da minha vida”, contabiliza a agora ex-jogadora Sheilla Castro (39). Com uma trajetória vitoriosa, a bicampeã olímpica se despede das quadras para se dedicar às filhas gêmeas, Liz e Ninna (4), e ao mundo dos negócios. Tudo, claro, sem perder a ligação com o esporte. Morando na capital mineira, Belo Horizonte, ela, que se separou do pai das meninas, o ex-jogador de basquete Brenno Blassioli (43), diz não estar solteira, mas é discreta sobre o novo relacionamento. “Estou feliz nessa nova fase, me conhecendo, reconectando”, afirma Sheilla, que recebeu CARAS em seu lar, doce lar.

– Como foi encerrar um ciclo e começar a transição de carreira?

– Estou me preparando há alguns anos para isso, já tinha desacelerado, mas é difícil. A quadra era meu porto seguro, quando estava triste, era onde eu desafogava tudo. Então, não é nada fácil. E não vou nem falar que é fisicamente, mas eu vi que chegou a hora, sabe? Esse momento de vida, minhas filhas. Não gosto de falar que foi para priorizá-las, porque não quero que fique nas costas delas um dia: ‘Minha mãe parou de jogar por causa da gente’. Não é isso. Mas são outras prioridades.

– Vocês, atletas, se aposentam muito cedo, né?
– Eu aguentaria mais uns quatro anos no máximo, mas sei que fisicamente ia começar a pesar. E eu precisava também começar a conhecer um outro lado da vida, um lado mais business, mais empreendedor e achei que agora era o momento de fazer isso. Dá uma insegurança, um medo, mas estou com uns mentores bem especiais me ajudando. Eu tenho possibilidade de ficar na comissão técnica do Minas Tênis Clube, mas hoje, pensando em tudo que está acontecendo, se eu ficar, vou me amarrar muito igual um atleta e não vou conseguir dar andamento a outros projetos. Mas não quero deixar o vôlei porque essa é minha paixão, então quero estar sempre atrelada a isso no lado business.

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

– Pensa em ser comentarista ou palestrante?
– Eu já comentei alguns jogos. E, com certeza, vou preparar uma palestra. É um desafio, porque tenho um pouco de medo de falar em público. Mas adoro falar de disciplina. Eu não acredito em motivação, acredito em disciplina, pois nem sempre você está motivado. É a disciplina que vai te fazer alcançar o que você quer. Posso dar um exemplo meu. Minha avó estava com câncer, morando longe de mim e eu tendo que treinar. Eu não tinha motivação, eu tinha disciplina.

– No Brasil, fora o futebol, os outros esportes não são tão valorizados. A realidade de um jogador de futebol e de um jogador de vôlei são diferentes...
– Muito diferente e a gente pode falar de tudo, de exposição, de salário, que não se compara nunca. Tem um abismo de um esporte para o outro, mesmo o vôlei sendo muito vitorioso, muito assistido. O brasileiro não tem muito a cultura esportiva. Nas Olimpíadas, todo mundo fica mais atento ao esporte, mas depois volta tudo.

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

– Sofreu algum preconceito no esporte por ser mulher?
– Sempre existiu diferença de premiação para homem e mulher em campeonatos pela Seleção, mas depois que sai da Seleção, igualou. O lado da mulher também melhorou. Quando me tornei mãe, ouvi ‘Ela vai viajar e deixar as filhas com quem?’. Teoricamente, só a mãe que tem que ficar com os filhos, tem esse tipo de preconceito ainda. Até para a atleta engravidar, tem que pensar mil vezes antes, porque às vezes o clube não vai querer mais, vai romper contrato, ficar preocupado se o filho ficar doente: o que a mãe vai fazer? Com o pai não tem nada disso. 

– Teve medo de a maternidade afetar sua carreira?
– Sempre pensei muito no momento que eu teria filho, porque não queria parar no auge e acabou que eu parei (risos). Hoje fico pensando se fiz a coisa certa ou não, mas eu amo as minhas filhas, não me arrependo. Poderia ter congelado óvulos e estar tendo filhos agora? Poderia. Mas foi uma decisão tomada naquela época, que eu achava que era a melhor decisão e, talvez, com a cabeça de hoje, eu tomaria diferente. Mas a gente fica com aquele medo do relógio biológico da mulher.

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

– Como conciliou o trabalho e a maternidade?
– É uma loucura, mas a gente descobre a nossa força. Quando começaram os treinos, minhas filhas estavam com uns 6 meses, não dormiam a noite inteira ainda. Então, eu ficava sem dormir. Acho que quando temos filhos, a gente tem mais força ainda, porque a gente quer fazer por eles também. Minha prioridade passou a ser minhas filhas e antes era o vôlei, mas, ao mesmo tempo, a gente passa a ter força para tudo. Fora a preocupação que você tem de ser um ser humano melhor em todos os aspectos, porque você é um exemplo para suas filhas.

– A maternidade é tudo que você imaginava?
– Eu não tinha esse sonho de casar e ser mãe, que a maioria das mulheres antigamente tinham. Mas chegou uma época que me deu muita vontade de ser mãe e foi a decisão mais acertada da minha vida. Foi a coisa mais desafiadora da minha vida, sem dúvida, mas é a maior felicidade também.

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

– Elas curtem o esporte?
– Elas gostam de viver esse meio e eu acho que é bom para elas. A gente ainda tem uma sociedade muito patriarcal, é difícil ver mulheres em posição de liderança e no vôlei feminino tem muitas. A convivência que elas têm com essas mulheres líderes, vencedoras, exemplos, elas vão levar para a vida toda, para ser mulheres empoderadas, decididas. É um mundo legal para as meninas, independentemente se elas quiserem ser atletas ou não, isso aí é decisão delas um dia. Vou apoiá-las no que quiserem, desejo que minhas filhas sejam felizes.

– Sensação de dever cumprido?
– Sim! Desde os 15 anos, dizia que seria campeã olímpica e sou bicampeã! Tem coisas que não tenho, como um Mundial, mas sou feliz por ter conquistado meu objetivo de atleta. Lógico que sempre vão surgir novos objetivos, sempre estou em busca de conhecimento, mas sou grata a tudo que vivi, a dedicação que sempre dei ao vôlei e a tudo que o esporte me retribuiu e me retribui até hoje. 

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

Sheilla Castro em entrevista na Revista CARAS

Fotos: Ronaldo Andrade Jr