Fé, tradições e as paisagens do país encantam o ator, que se prepara para estrear no cinema
CARAS Publicado em 22/01/2014, às 11h35 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20
No pequeno povoado indígena de Saraguro, nos Andes do Equador, a mais de 2000 metros de altura, Marcos Frota (58) junta folhas em um jardim de flores diante da igrejinha. A praça estava limpa, mas algumas delas, que estavam em uma lixeira, caíram no chão. Marcos está compenetrado, não sabe que é observado de longe. Instantes depois, explica: “É um lugar tão lindo, com uma energia especial, achei que tinha de limpar. As pessoas pensam nas ações grandiosas, mas é com pequenos gestos que as coisas começam”.
Marcos Frota é um homem místico. Mas não pense nessa característica como algo negativo. Ao contrário. Em um mundo cada vez mais rápido e conectado, ele quer apreciar os pequenos detalhes e enxergar além do que está diante dos olhos. Mas, acima de tudo, ele busca valorizar cada instante. E isso pode significar até mesmo deixar um jardim mais belo. E por acaso do destino ou guiado por forças superiores, Marcos foi levado ao Equador. Uma viagem que pontua também uma nova etapa na vida do ator. Após anos de dedicação ao circo — hoje ele têm cinco lonas e mais de 120 funcionários — e está à frente da Universidade Livre do Circo, a Unicirco, além de projetos sociais para mais de 1000 alunos de comunidades carentes. Agora, Marcos quer se reinventar no universo do cinema.
– De onde surge essa curiosidade espiritual tão intensa?
– Tenho um marco na minha vida e foi quando fiquei viúvo da Cibele. Ficamos juntos 18 anos e tivemos três filhos, Amaralina, Apoena e Tainã. A partida delatrouxe a necessidade de me abrir, buscar um conhecimento maior. E vivi isso com muita intensidade, foi um momento de extrema dor. Mas, por incrível que pareça, hoje até consigo agradecer aquele momento de tanto sofrimento, porque ele me fez reavaliar a vida.
– Reavaliar de que maneira?
– Existe uma razão para tudo. Tudo na vida é maravilhoso. E o amor verdadeiro é incondicional, sem esperar nada em troca. E ele sempre volta. Às vezes, não de forma direta. Mas volta e volta muito maior. Momentos difíceis e pessoas difíceis também me ensinaram... É ótimo chegar aos 60 anos e estar em paz de verdade.
– Como assim?
– Já cometi todos os erros, pecados e caí em todas as armadilhas que a carreira oferece. De voltar para casa profundamente arrependido sem saber o que aconteceria no dia seguinte. Ao experimentar o sucesso verdadeiro, que rompe limites, você se sente onipotente. Já estive no alto e embaixo... Tive sérios problemas na minha formação para a carreira. Mas diversas pessoas tiveram muita paciência comigo, o que me permitiu ter oportunidades. E, de certa forma, o que faço hoje nos projetos sociais é também tentar dar oportunidades às outras pessoas.
– Como é o relacionamento com seus filhos?
– No meu primeiro casamento, tive filhos muito jovem e era voltado para eles. Depois, vivi uma linda história de amor com a Carolina Dieckmann e ela me deu um presente lindo que é o Davi. Eu criei meus filhos para o mundo. E eles romperam comigo de uma maneira bacana, me enfrentaram de uma certa maneira. É difícil ser pai, mãe e ídolo ao mesmo tempo para eles. Mas cada um a seu tempo veio e falou verdades. E isso amadureceu a relação.
– Você planeja estrear no cinema. Por que fazer um filme?
– O grande desafio na vida é inventar o próprio destino. E em algum momento você esgota as possibilidades e precisa se reinventar. Estou maduro para trabalhar como diretor e também voltar às minhas raízes de ator. Estou produzindo um filme sobre a Irmã Dulce, a sua vida e obra. Depois, quero fazer um grande filme sobre o universo do circo. Acho que é o momento certo para este projeto.
– E quais as suas impressões sobre o Equador?
– É um país lindo cheio de paisagens maravilhosas e pessoas felizes. Tem ainda a energia incrível dos povos milenares e as tradições aqui seguem vivas e valorizadas.
