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TV / ANÁLISE

O peso do discurso de Paula Fernandes sobre violência obstétrica para as mulheres

A cantora reproduziu uma fala machista durante participação no programa Encontro, e incomodou a audiência feminina

Ana Beatriz Gonçalves Publicado em 28/02/2019, às 09h43 - Atualizado em 01/03/2019, às 13h34

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Paula Fernandes e Fátima Bernardes - Instagram/Reprodução
Paula Fernandes e Fátima Bernardes - Instagram/Reprodução

Paula Fernandes causou polêmica ao participar do programa Encontro na última quarta-feira, 27.

A cantora provou não entender nada sobre violência obstétrica, tema escolhido para a discussão da manhã. A reprodução machista presente no comentário da artista, que acredita na ''fragilidade da mulher na hora do parto'' reflete, principalmente, em uma falta de consciência generalizada sobre o assunto entre as próprias mulheres.

Tudo veio à tona depois da apresentadora Fátimas Bernardes introduzir didaticamente a questão, ao explicar que muitas mulheres não sabem que foram violentadas no momento de dar à luz. ''O nascimento de um bebê deveria ser um momento muito especial na vida de toda mãe, todo pai, toda família. Mas infelizmente muitas mulheres não têm boas memórias desse momento por conta das violências, tanto psicológicas como físicas, que sofrem exatamente no momento do parto. Muita gente não sabe, não imagina o que seja uma violência obstétrica. Eu não conhecia esse termo, por exemplo, até começar a pesquisar para o programa de hoje”, disse a jornalista.

Após relatos chocantes expostos antes de dar início ao debate coletivo, a cantora de sertanejo fez uma declaração que gerou um desconforto generalizado: "A mulher já é sensível por natureza, né? Então obviamente chega esse momento delicado de você colocar uma vida no mundo", reforçando uma ideia machista que põe em cheque a força das mulheres, e também a romantização do parto.

Ainda perdida no assunto, a artista concluiu ressaltando que ''a vida do bebê não pode ser tratada de forma violenta'', provando a sua falta de clareza em torno da violência que tem como principal alvo a mulher. Nesses casos, a mulheres não escolhem como querem colocar o filho no mundo, sofrem riscos desnecessários em césarias, têm a capacidade questionada o tempo todo, entre outras diversas formas de abusos.

Obviamente, não demorou para que as mulheres engajadas no assunto se indignassem com o discurso da cantora:"Paula Fernandes, que não é mãe, diz que 'mulher é sensível por natureza, e na hora do parto mais ainda'. Não, meu bem. Mulher é f*da por natureza. Para parir tem que ser nada menos do que isso", escreveu Maria Luiza Breves, uma internauta do Twitter.

A colocação de fragilidade e sensibilidade ligada ao sexo feminino realmente pegou 'mal' para Paula, mas também deu abertura para outro ponto importante do debate: a falta de consciência entre o público feminino acerca seus direitos. Infelizmente no Brasil, uma em cada quatro mulheres sofre violência durante a gestação ou parto segundo a pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado, feita pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC, em 2010. Mesmo sendo algo recorrente, o assunto ainda é considerado um tabu na sociedade. 

O fato da Globo pautar o tema durante o programa matinal já indica uma mudança significativa, mesmo que ainda pequena. Até mesmo a gafe da cantora em expor uma opinião banalizada e alienada, é uma forma de conscientização por meio do questionamento. Sem dúvidas, o tema precisa de mais visibilidade, seja na TV ou na Internet.