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Thiago Lacerda comemora o sucesso de 'Hamlet' sem pressa de voltar às novelas

Rafael Andrade Publicado em 31/01/2013, às 18h21 - Atualizado em 12/09/2019, às 12h37

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Thiago Lacerda - Fabio Miranda e João Caldas/Divulgação
Thiago Lacerda - Fabio Miranda e João Caldas/Divulgação

Vestindo jeans e camiseta, de chinelos e com um chimarrão nas mãos. Foi assim que o carioca Thiago Lacerda (34) chegou ao teatro Tuca em um final de tarde para um bate-papo com CARAS Online sobre a montagem de Hamlet com a qual está em cartaz em São Paulo até domingo, 3, e que estreia em 22 de fevereiro no Rio. Era de lá, aliás, que ele havia acabado de desembarcar. Nos últimos meses, o ator tem passado os finais de semana na capital paulista por conta do espetáculo. Mas, de segunda a sexta, mora na Barra da Tijuca com a esposa, a também atriz Vanessa Lóes (41), e os filhos do casal, Gael (5) e Cora (2).

Para diminuir a distância da família, Thiago tem coladas no espelho do camarim uma foto da mulher com as crianças e uma cartinha em que os herdeiros desejam muita "merda" para o paizão (no caso de Thiago, o superlativo não se emprega apenas como sinônimo de superprotetor. Ele é, de fato, um homem grande: tem um e noventa e cinco de altura). Sentado, enquanto se preparava para começar a gravar para a TV CARAS, ele soltou uma confissão sobre o cabelo cheio de falhas. "Eu que corto. Eu que faço essa cagada toda. É de propósito. Eu corto, saio metendo a tesoura", disse ele, entre risos.

O riso de Thiago não é aquele fácil. Mas, quando acontece, é sonoro e tão marcante quanto o olhar do galã que estreou na TV em 1997, em Malhação, e dois anos depois conquistou o primeiro protagonista em novelas das 9, em Terra Nostra. O último trabalho na telinha foi como o Dr. Lúcio Pereira de A Vida da Gente, trama que chegou ao fim no início de março do ano passado. "Adoro fazer televisão, me comunicar com as pessoas naquela coisa de muita gente. Mas estou achando ótimo me dedicar ao teatro. É um processo muito duro de preparação. E eu sou homem, não consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo. Prefiro uma coisa de cada vez", contou.

Leia a íntegra da entrevista:

- Como tem sido sua rotina aqui com o Hamlet?

- A gente está em cartaz com a peça desde outubro. Paramos para as festas de final de ano e retomamos agora em janeiro. Minha rotina é mais ou menos rígida e óbvia, mas não tenho nada que seja obrigatório. A não ser duas coisas. Tento chegar cedo ao teatro, no mínimo três horas antes do espetáculo para preparar o camarim e dar uma conferida na contraregragem. Gosto de chegar antes para desacelerar, tirar essa velocidade que a gente traz da rua e me conectar com a história e o personagem. Outra coisa que faço questão é de um aquecimento de corpo e voz. Sempre em cena, sempre no palco. É um trabalho que leva quarenta e cinco minutos, mais ou menos. A medida que o elenco chega a gente vai trocando uma ideia, conversando um pouco sobre como foi a semana.

- E por que Shakespeare agora?

- É meio uníssono. Se você perguntar para qualquer ator o que significa a obra do Shakespeare a resposta será mais ou menos parecida. Agora, é curioso. Porque, de todos os textos dele, o Hamlet não era uma opção minha. Eu tinha decidido não fazer esse texto. Porque é o mais montado, é o personagem mais investigado ao longo desses quase cinco séculos. Até que um dia tocou meu telefone e era o Ruy Cortez, que é o curador do espetáculo e concebeu a ideia junto com o Ron Daniels, nosso diretor. O Ruy me fez o convite em nome do Ron e eu imediatamente aceitei porque ele falou duas palavrinhas mágicas: a primeira era Hamlet, e a segunda o nome do próprio Ron, que é uma figura importantíssima para o teatro brasileiro, inglês e americano.

- Após ter aceito de imediato, como e quando aconteceu a preparação?

- Levou um ano, um ano e pouco talvez para que conseguíssemos levantar tudo. Nesse meio tempo a gente fez uma preparação em Atibaia, aqui no interior de São Paulo. Foi uma espécie de workshop, uma espécie de apresentação para o Ron, para que pudéssemos chegar à conclusão de que tipo de atores a gente tinha. O período de ensaios propriamente dito levou doze semanas antes de estrear, o que é bastante tempo para teatro. A gente teve uma preparação com bastante calma. Tecnicamente, o que me interessa é basicamente o texto. É claro que a bibliografia sobre o Hamlet é enorme. Eu li tudo o que podia ler, lá no início. Vi os filmes, tenho algumas referências pessoais, todos os espetáculos que pude ver sobre o Hamlet eu assisti. E muito antes de começar a ensaiar, abri mão delas para que o debruçar em cima da nossa tradução, do nosso texto, fosse mais limpo, mais honesto, mais íntegro.

- São quantos os atores em cena?

- Somos em quinze, o que é muito para um teatro que não seja uma ópera, um musical milionário. Isso torna tudo muito difícil, mas a gente tem uma homogeneidade muito bonita, uma coxia muito legal. Esse é um dos méritos da nossa montagem, do nosso amor aqui. Conseguimos formatar um grupo que joga junto, que se dá bem. A gente se respeita e bate uma bola muito legal. Isso para teatro é fundamental. E, para um elenco desse tamanho, onde as diferenças são muitas e enormes, às vezes é muito complicado, difícil. Mas aqui é maravilhoso.

- Você fez o Calígula antes, que também é um personagem muito forte. É claro que, ainda estando na pele do Hamlet, talvez ainda não tenha um distanciamento para fazer essa análise. Mas já é possível dizer qual personagem teve maior impacto em você enquanto ator?

- É impossível passar imune ao Calígula. Foi meu último espetáculo antes do Hamlet. É impossível passar imune àquele movimento de ideias do [Albert] Camus. É uma experiência que transforma qualquer ator, e comigo não foi diferente. E é impossível passar imune ao Hamlet, passar indiferente a uma obra de Shakespeare. Talvez a coincidência positiva da carreira, de ter me trazido primeiro o Calígula e depois o Hamlet é que isso só valoriza cada momento. Olhando para trás, me parece que o meu Hamlet teria sido diferente se eu não tivesse feito Calígula. Na verdade, para mim, os dois personagens são iguais. A diferença é que o Calígula tem uma esquizofrenia absoluta que o leva à loucura. E o Hamlet é o oposto extremo: a consciência e a lucidez absoluta o levam à loucura. De resto, a trajetória é igual. Os personagens são muito parecidos. O existencialismo contido no Hamlet certamente foi usado pelo Camus para escrever o Calígula na década de 1940. Mas não consigo eleger um que tenha sido mais transformador. Acho que as coisas se completaram.

- E novela? Você tem convite, pretende voltar ao ar em breve?

- Adoro fazer televisão. Adoro me comunicar com as pessoas no volume da televisão, naquela coisa de muita gente. Mas estou achando ótimo esse processo de me dedicar ao teatro. É um processo duro de preparação. Eu sou homem, não consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo. Prefiro uma coisa de cada vez. Mas sempre tenho engatilhado alguma coisa para TV. É uma questão também de esperar o momento certo de voltar. À medida que o tempo passa, e que os personagens passam, a gente vai ficando mais seletivo, mais crítico, mais chato. Eu não quero nada diferente do Hamlet, do Calígula ou do Capitão Rodrigo [de O Tempo e O Vento, que tem estreia prevista para ainda este ano nos cinemas]. Então torço para que o que vier pela frente seja muito bacana também.

- Em TV, geralmente, os personagens tendem a ser menos densos...

- Não, os personagens podem ser sempre verticais. Podem ser sempre densos. As opções da direção e do veículo e a disponibilidade dos atores é que precisam ser na mesma diapasão. Não adianta o ator querer se doar e ter disponibilidade e a direção dizer que está demais, ou a casa não topar. Às vezes é o contrário. Às vezes você tem a possibilidade de ir fundo e o ator não está disponível porque prefere se manter em uma determinada região de conforto. O fato é que é um casamento. Você precisa ter um grande personagem, estar disponível e bater bola com uma equipe inteira.

- Em breve, Hamlet estreia no Rio, que é onde você mora. Vai passar mais tempo com a família?

- A vantagem de fazer um espetáculo em casa é que não tem essa coisa de viajar. Mas foi importante, para mim, sair um pouco para ficar sozinho e começar um trabalho como esse. Acho que não saberia se tivesse em casa. Precisaria sair um pouquinho para trabalhar, para chegar nesse personagem. Mas a temporada no Rio vai ser linda. A gente estreia lá em 21 de fevereiro e ficamos até 14 de abril. Depois a gente faz Belo Horizonte, Brasília, Recife, Curitiba e depois Porto Alegre. Encerramos a temporada em 26 de maio, em Porto Alegre, no Theatro São Pedro. Um encerramento com chave de ouro.

- E você vai tomar muito chimarrão lá...

- Vou tomar muito chimarrão e comer muita carne (risos).