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Quanto menos o preconceito, mais honestas e felizes serão as relações

CARAS Publicado em 10/07/2013, às 16h48 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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No mês de junho tivemos em São Paulo a Parada Gay. Foi a 17ª edição. Há quem a defenda, há quem ache graça, há quem se choque e há até quem fique indiferente. Sem entrar em opiniões ou julgamentos, o que não podemos deixar de notar é que o mundo está mais cordato, mais aberto, mais flexível do que quando esse movimento começou, há 17 anos, e infinitamente diferente do mundo no qual eu vivi a minha juventude, há cerca de 40 anos. No que diz respeito às relações, então, houve uma verdadeira revolução. 

Quando eu era criança, nos anos 1950, tudo era proibido e o preconceito era geral. Na época, o que escandalizava eram os desquites — ainda não havia divórcio — e alguns casamentos, pelo tipo de pessoas que uniam, porque eram fortes os preconceitos racial e social. 

Não na minha casa, felizmente. Meu pai era liberal e tínhamos uma grande diversidade de amigos. Havia casados, solteiros, negros, japoneses, artistas, ricos, pobres e até um mendigo, que vinha almoçar aos domingos. Mas mesmo neste lar diferenciado era possível detectar reservas quanto ao comportamento. Lembro-me de haver alguns amigos solteirões, aos quais ninguém perguntava se tinham namorada. Eram aceitos e amados, mas havia um segredo sobre suas vidas — e nunca nenhum deles apareceu acompanhado. 

Houve uma ocasião em que um amigo de meu pai se desquitou e pouco depois esteve em nossa casa com a nova namorada. A ex-mulher, comadre de minha mãe, cortou relações conosco. Outra senhora amiga se recusava a estar no mesmo lugar em que estivesse a nova mulher do seu ex-marido. Numa festa de casamento fez um escândalo, após encontrá-lo com o “filho bastardo”! 

Nos idos anos de 1960, quando uma mulher se desquitava, amigas eram proibidas pelo marido de recebê-la ou de sair com ela. Certas mulheres também não gostavam de sua presença porque, sendo desquitada, não era considerada respeitável e poderia muito bem seduzir seus maridos. A mulher que se separava era sempre excluída. A maior ironia é que os primeiros a tentar conquistá-la eram os amigos do ex-marido. 

Todo o preconceito acabou? Não. Mas as coisas mudaram. Ex-mulheres são amigas das novas, casais separados se frequentam, negros e brancos se casam e têm lindos filhos, homens cuidam das crianças enquanto as mulheres trabalham, casais homossexuais adotam bebês, mulheres de 70 anos se casam com homens de 20. São as novas famílias. 

O fato de haver mais separações e mais novos casamentos leva alguns a pensar que as pessoas estão mais infelizes depois de toda essa abertura. Eu não acredito nisso. 

Os casamentos podem até durar menos, mas são mais verdadeiros. Hoje é difícil encontrar uma mulher que “sofre calada”, porque é sustentada, ou que pensa coisas como
“não sou feliz, mas tenho marido”. Também já não é comum o homem que acha razoável ficar casado porque “ela é boa mãe e boa cozinheira” (se não gostar de sexo, ele arranja outra na rua). 

As mulheres estão mais orgulhosas e os homens agora querem uma companheira de verdade, não um bibelô ou uma empregada doméstica. Quem pode negar que isso é bom? Viva o século XXI! Que todos, homo ou heterossexuais, possam amar e viver seus amores sem reservas. Que se casem, que se separem, mas que vivam sem mentira — ao menos no que diz respeito à vida a dois.