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Revista / Exclusivo

Aos 88 anos, Elza Soares pede união das mulheres na luta contra violência: 'Tento ajudar como posso'

Sem amarras, ela fala dos desafios e critica o atual cenário musical

Tainá Goulart Publicado em 29/01/2019, às 16h13 - Atualizado às 16h23

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Elza Soares - Rogério Pallata
Elza Soares - Rogério Pallata

Se tem uma coisa que Elza Soares (88) aprendeu na vida foi acreditar. Com uma média de cinco shows por mês, além de outros compromissos de trabalho, a cantora brinca que não existe receita mágica, mas é a fé que faz tudo acontecer. “Às vezes, até eu me pergunto como eu dou conta de tudo”, brinca. “É muita coisa mesmo, mas quando você tem fé, as coisas fluem, funcionam de verdade. Mesmo eu estando com a coluna um pouco ruim, eu não paro de trabalhar e acho que nunca vou parar”, completa ela, que lançou recentemente uma nova biografia, feita pelo jornalista e apresentador Zeca Camargo (55), cujo título é apenas Elza.

A frase “Não tenho idade, eu tenho tempo” faz parte da obra, que narra os altos e baixos de uma longa carreira na música brasileira, sem nunca pensar em desistir. “A música é o alimento da minha alma, meu remédio. Sem ela, não estaria aqui, é a minha motivação diária para seguir. Se bobear, coloco na hora que eu acordo e não paro mais.” A alimentação “normal” também é balanceada, sem restrições. Elza conta que come de tudo, sem ficar com “frescura” de “não como isso; não como aquilo”. “A energia também vem da saúde e cuido bem dela. Eu fui criada com horta, alimentos naturais. Sem contar que, quando a gente não tinha nada para comer, eu andava até o quartel militar e pegava o que eles tinham para dar. Por isso, fico triste quando ouço pessoas falando que não comem pão ou carboidrato”, explica ela.

Entre as paixões musicais estão Caetano Veloso (76), Maria Bethânia (72) e o cantor e trompetista americano Chet Baker (1929–1988). “Buscar referências nas antigas é imprescindível. Nossa cultura tem muita coisa boa no passado e já faço um alerta para os jovens não esquecerem disso. Tadinhos, hoje em dia eles não têm tanta música boa como antigamente. A juventude não está ouvindo sons com raízes, amor, com incentivo”, reflete ela. Apesar da crítica ao cenário atual, Elza segue se atualizando, o que se reflete em seus recentes trabalhos, como A Mulher do Fim do Mundo, de 2015, e Deus É Mulher, lançado no ano passado. “Quer coisa mais atual do que minha música Maria da Vila Matilde? Infelizmente, em 2019, nunca teve tanta mulher ligando para o 180 para se livrar de assassinos em casa. É isso que a gente precisa fazer, denunciar mesmo.”

Para a veterana dos palcos, as mulheres avançaram muito quando se fala em assuntos feministas. No entanto, ainda faltam outras etapas para vencer, especialmente a competição de umas com as outras.

“Só vamos conseguir fazer isso juntas, de mãos dadas. Esta competição nos mata todos os dias. Infelizmente, ainda existem muitas mulheres desinformadas ou que se informam errado e, por isso, nós precisamos nos ajudar. Muitas fãs chegam em mim pedindo socorro, e eu tento ajudar como posso”, avalia ela, que diz não se arrepender de nada na vida. “Para falar a verdade, eu lamento o que não fiz. As pessoas esquecem que elas são seres humanos e que podem errar. Eu, inclusive, errei demais e agradeço por isso. Cair e depois levantar melhor é uma dádiva.”