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Cao Hamburger: "Precisamos de mais Villas Bôas"

Em entrevista, Cao Hamburger e Fernando Meirelles defendem o espaço dos índios no Brasil e questionam que tipo de progresso o país está disposto a buscar

Ana Carolina Addario Publicado em 04/11/2011, às 08h26 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

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Cao Hamburger - Divulgação
Cao Hamburger - Divulgação

"Este é um bom momento, mas estamos precisando de outros Villas Bôas por aí". Foi com esta máxima que o cineasta Cao Hamburger definiu em entrevista à CARAS Online na noite desta quinta-feira, 3, durante a cerimônia de abertura da oitava edição do Amazonas Film Festival, a função de seu novo filme, Xingu, que entra no circuito mundial em abril de 2012. Atual e questionador, o filme lança luz à necessidade de compreender as urgências do país, segundo Cao.

"Xingu é um filme de época que se passa no século passado mas é muito atual e muito urgente. As questões nele tratadas são muito contemporâneas e atuais, além de resgatar esses personagens da nossa história no século XX, tanto os irmãos Villas Bôas quanto os brancos, índios e todos que ajudaram eles a criar essa grande reserva", afirmou.

Muito aplaudido após a sessão especial para convidados, o cineasta espera que o filme incentive as pessoas a agirem mais conscientemente em relação às fragilidade do país. "Acho que o público entende que estas são questões muito urgentes para o nosso país, e então comece a se perguntar que tipo de progresso a gente quer", completou.

Produzido pela 02 filmes e dirigido por Cao (que retoma os temas polêmicos da história recente do Brasil após O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias), o filme Xingu narra a aventura dos três irmãos Villas Bôas, que decidem se aventurar desbravando territórios ocupados por tribos indígenas na floresta amazônica e fundam a reserva ecológica do Parque Nacional do Xingu, que completa 50 anos em 2011. Com fortes inclinações políticas, Xingu questiona a filosofia de desenvolvimento a qualquer custo que orienta a noção de crescimento econômico pela qual o mundo é orientado. Com sua história, que repercute até hoje na relação entre os índios brasileiros, a floresta amazônica e o 'desenvolvimento econômico', Xingu pergunta a seus telespectadores: será que o crime compensa? E ele não pergunta isso sozinho não.

ParaFernando Meirelles (55), a grande discussão por trás de Xingu é um filme de claro caráter político. "Esta história que a gente viu aconteceu 50 anos atrás, as pessoas entravam na floresta e expulsavam os índios em nome do progresso e hoje acontece a mesma coisa. Esse código florestal que foi aprovado da usina de Belo Monte é um exemplo disso. O branco, nós, continuamos cometendo os mesmos erros que fazíamos naquela época quando ninguém sabia de nada disso", polemizou Meirelles.

Bastante ligado à discussão do bem estar dos índios no Brasil, Meirelles lançou seu grito de alerta sobre como o filme pode ajudar a trazer a discussão ainda mais a tona. "Ontem foi demitido da Funai o (cacique kayapó) Megaron Txucarramãe porque ele criticou a usina de Belo Monte. Os índios estão sendo cada vez mais encurralados, então este filme não podia ser mais atual. Espero que as pessoas sejam tocadas e inspiradas", finalizou.

A julgar pela reação do público que conferiu à estreia especial para convidados, realizada no Teatro Amazonas, a inspiração está garantida. "Depois da estreia do filme hoje, em que o público foi tão caloroso, aplaudiu cinco vezes, eu fiquei mais animado. O filme estreia no ano que vem e a gente acha que tem história e filme suficiente para ser um dos grandes acontecimentos deste ano que entra", torceu, Fernando Meirelles.

Detalhes da produção

Xingu foi rodado em diversas partes do Brasil, dentre elas em sua maioria nas regiões de Tocantins e na própria reserva indígena. Os atores profissionais passaram temporadas intercaladas vivendo nas aldeias com os índios para conseguir adaptar sua relação com a floresta e os costumes dos nativos que, por sua vez, foram orientados por uma equipe de treinamento de atores para contracenar no longa.

O filme foi realizado com um orçamento de 15 milhões de reais, tem previsão de lançamento para o dia 6 de abril e, segundo Fernando Meirelles, só veio ao mundo em função de muita insistência de Noel Villas Bôas, filho do desbravador Orlando, interpretado por Felipe Camargo (51) no filme.

"Estava no meu escritório na O2 um dia e me pediram para descer porque havia uma pessoa querendo falar comigo. Quando desci, dei de cara com o Noel, que tinha ido só para me pedir para que eu fizesse um filme contando a história de seu pai", contou Meirelles em tom de bom humor.

"De primeira, na correria, ouvi e acabei seguindo com os meus projetos. Então ele foi uma segunda vez, levando um livro. Deixei o livro na minha mesa e continuei meus projetos, mais uma vez. Mas quando ele apareceu pela terceira vez, resolvi ler o que ele tinha me dado e foi quando conheci [o livro] 'A marcha para o Oeste' e me apaixonei, foi então que decidi contar essa história", revelou Meirelles.

Confira abaixo entrevista com o elenco do filme, Cao Hamburger e Fernando Meirelles: