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A MISTERIOSA MORTE DE MICHAEL JACKSON, GENIAL CRIADOR DO POP

Aos 50 anos, sai de cena precocemente o artista cuja música transcende fronteiras e deixa uma legião de fãs no mundo

Redação Publicado em 29/06/2009, às 22h21 - Atualizado às 22h30

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Michael Jackon nos anos 1960, época dos Jackson Five - FOTOS: BRAINPIX E REUTER
Michael Jackon nos anos 1960, época dos Jackson Five - FOTOS: BRAINPIX E REUTER
Um astro, um rei, um prodígio, um paradoxo. Michael Jackson foi tudo isso e muito mais. O cantor, compositor e extraordinário dançarino a quem especialistas atribuem a criação do pop, ao ser o primeiro a oferecer às multidões uma música capaz de congregar negros e brancos, criou hits que não conheceram fronteiras. Quando seu coração parou de bater, às 14h26 do dia 25, e a notícia se espalhou por todos os meios de comunicação, uma onda de incredulidade varreu os milhões de fãs do mundo todo. Afinal, Michael, aos 50 anos, se preparava para a retomada da carreira, com uma turnê-avalanche de 50 shows em Londres. Seria a volta aos palcos do fenômeno que ganhou 13 prêmios Grammy e vendeu 750 milhões de discos a sequiosos ouvintes dos quatro cantos do planeta. Michael estava inconsciente quando foi levado de ambulância da mansão alugada onde vivia em Los Angeles para o hospital da Universidade da Califórnia, a poucas quadras. Em sua última foto, ele tem respiração induzida. O rei do pop estava morto. O motivo, parada cardíaca. A causa, um mistério. A suspeita: ingestão de potentes analgésicos, dos quais o cantor fazia uso havia muito tempo a fim de aliviar todo tipo de dor. Os minutos finais do cantor foram presenciados pelo médico Conrad Murray, contratado para acompanhar o astro ao longo da turnê que se iniciaria dia 13 de julho, após 12 anos longe dos palcos. Interrogado por três horas pela polícia, o cardiologista sobre quem pairava a suspeita de aplicar no paciente uma injeção de analgésicos responsável pela parada cardíaca foi liberado após os esclarecimentos. Notícias não confirmadas dão conta de que a necropsia oficial - a família acabou pedindo um segundo exame necrológico - revelou comprimidos no estômago do cantor, reduzido a uma figura esquelética de apenas 51 quilos (ele tinha 1m78), repleto de cicatrizes de intervenções cirúrgicas com finalidade estética e costelas quebradas pela força do procedimento de ressuscitação num corpo frágil. Integrantes do staff do cantor disseram que ele quase não comia, dormia à base de remédios e talvez sofresse de anorexia. O que de fato ocorreu só será conhecido dentro de seis a oito semanas, segundo as autoridades de Los Angeles, quando sairão os resultados dos exames toxicológicos. O ambíguo Joseph Walter Jackson (79), pai do astro, declarou não acreditar que a parada cardíaca do filho tenha sido causada por estresse decorrente de excesso de trabalho, embora nos bastidores circulasse o rumor de que Michael estivesse apavorado com a turnê, por saber não ter condições físicas de enfrentar tantos shows. Um final indubitavelmente triste para um astro da envergadura de Michael, mas coerente com sua vida de garoto cuja infância foi roubada de forma brutal por um pai que moldou os artistas da família na base das cintadas. Joe, o patriarca, lançou o Jackson Five em 1966, quando o caçula tinha 8 anos. Com os irmãos Marlon (52), Tito (55), Jermaine (54) e Jackie (58), o garoto de cabelo black power, voz angelical e pés endiabrados fez shows em todo o tipo de palco no Estado natal de Indiana, incluindo prostíbulos. Durante os ensaios exaustivos, qualquer passo errado era pretexto para uma surra. Numa entrevista ao famoso programa de Oprah Winfrey (55), em 1993 - e já consagrado com álbuns como o arrasa-quarteirão Thriller (1982), o disco mais vendido de todos os tempos, Bad (1987) e Dangerous (1991) -, o cantor revelou que temia tanto a violência do pai que bastava Joseph se aproximar para a tensão fazê-lo vomitar. "Ele dizia eu eu era feio, cheio de espinhas, que meu nariz era grande", revelou ele, emocionado. Daí as especulações de psicólogos de que Michael sofresse de dismorfia corporal, distúrbio em que o paciente olha no espelho e só enxerga defeitos superdimensionados. O fato é que, a partir de 1984, o astro iniciou a infindável série de cirurgias e procedimentos destinados a livrá-lo da imagem que tanto o incomodava. Começava ali a troca de identidade. O jovem negro se metamorfoseava em branco. O cabelo perdeu a característica afro e se tornou cada vez mais liso (há suspeita de que nos últimos anos ele usasse peruca). O nariz foi afilado indefinidamente, até ter de ser sustentado por uma prótese. As sobrancelhas foram arqueadas, os olhos, modificados. No final, Michael era uma máscara de lábios pintados de vermelho. O homem por trás da máscara de cal era um poço de fragilidade que só se sentia seguro no palco. Ao longo da vida, Michael buscou apoio e colo de mãe - a verdadeira, Katherine Jackson (79), fervorosa testemunha de jeová, aparentemente nada fez para evitar as agressões sofridas pelo filho. Encontrou aconchego primeiramente na cantora Diana Ross (65), a quem os empresários do Jackson Five entregaram o garoto para livrá-lo da constante fúria paterna. O astro e a diva trabalharam juntos no filme The Wiz, musical baseado no clássico O Mágico de Oz. E cada vez Michael foi ficando fisicamente mais semelhante a Diana. Depois foi a vez de Liz Taylor (77) oferecer apoio ao amigo, especialmente no difícil período que antecedeu o julgamento de Michael, em 2005, sob acusação de molestar menores na mansão Neverland, sua Terra do Nunca particular. Depois de quase cinco meses de desgaste e depoimentos, Michael acabou inocentado. Na propriedade gigantesca comprada na Califórnia, o cantor ergueu seu mundo de faz-de-conta, com carrossel, roda-gigante, montanha-russa, zoológico e carrinho de pipoca. Ali, o homem que passou a infância chorando toda vez que via meninos de sua idade brincando, enquanto ele ensaiava exaustivamente, finalmente pôde resgatar o passado roubado. "Tudo o que eu amo está atrás daqueles portões", declarou Michael, referindo-se a sua propriedade. "Serei sempre Peter Pan em meu coração." Em polêmicos depoimentos ao jornalista inglês Martin Bashir (46), em 2003, o rei do pop confirmou achar normal convidar garotos para dormir em seu rancho. Astro mirim na época, Macaulay Culkin (28), do sucesso Esqueceram de Mim, era um dos frequentadores de Neverland. Assim ele explicou sua amizade com Michael: "Eu tenho 8 anos, sou uma criança, e o Michael também é. Vamos celebrar nosso aniversário de 8 anos juntos porque nunca pudemos ter de fato essa idade." O mais talentoso dos Jackson Five, que, segundo declaração de sua mãe ao biógrafo J. Randy Taraborrelli (53) no livro Michael Jackson - The Magic and the Madness -, ainda bebê demonstrava todo seu suingue ao segurar a mamadeira e dançar no mesmo ritmo da máquina de lavar roupas, conquistou a simpatia de personalidades como o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton (62), que convidou o astro para se apresentar em sua posse, em 1993; e o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela (90). Em 1998, Michael cantou no aniversário do ativista negro e no ano seguinte num concerto beneficente organizado por ele na Alemanha. "A morte de Michael Jackson será sentida no mundo todo", declarou Mandela. As esquisitices de Michael muitas vezes fizeram sombra a seu decantado talento. Uma das cenas que ninguém entendeu ocorreu em Berlim em 2002. Na Alemanha para receber o prêmio Bambi, o astro decidiu mostrar o caçula, Prince Michael Jackson II (7), então com 9 meses, à multidão de fãs na frente do hotel. Inconsequente, sacudiu o bebê, coberto por um lenço, da sacada do 5o andar. Em seguida desculpou-se, dizendo que havia se deixado levar pela excitação do momento. Pouco depois, voltou à janela usando máscara no rosto - hábito cultivado ao longo de anos. Seu casamento em 1994 com a filha do ídolo do rock Elvis Presley (1935-1977), Lisa Marie Presley (41), também foi visto com estranheza. Após dois anos, cada um seguiu seu rumo. Abalada, Lisa declarou estar triste e confusa: "Estou com o coração partido por seus filhos, que eram tudo para ele e sua família. Esta é uma perda enorme, as palavras me faltam." Ela se referia a Michael Jackson Jr. (12), Paris Michael Katherine Jackson (11) e Prince Michael Jackson II. Nos últimos meses, o astro que em 1993 encantou brasileiros em São Paulo e, em 1996, gravou cenas do clipe They Don't Care About Us no morro Dona Marta, Rio, e com músicos do Olodum no Pelourinho, Salvador, Bahia, dizia ter medo de morrer como Elvis Presley, vítima de colapso fulminante. Assim como o rei do rock, o rei do pop saiu da dimensão do real para habitar o panteão dos deuses. Como legado, deixa sua música e moonwalk, o mais imitado dos passos de dança, marca indelével de um gênio.