Em suas apresentações no Brasil, o guitarrista Pat Metheny e a cantora e instrumentista americana Esperanza Spalding - um nome em ascensão do jazz - provaram que a música brasileira é rica, ampla e tem potencial para ser (ainda mais) trabalhada nos vocais e acordes do jazz. E Metheny inseriu a canção Insensatez, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, ao repertório do show da sua Unity Band em São Paulo. Esperanza, por sua vez, cantou em português. Aliás, sua relação com a música brasileira é longa: gravou uma versão de Inútil Paisagem, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, no álbum "Chamber Music Society", de 2010, que também tem referências da bossa nova e uma canção gravada em parceria com Milton Nascimento. Para Zé Nogueira, curador do BMW Jazz Festival, “o mundo toca a música brasileira, que é ampla e ainda pode ser muito trabalhada. É um mundo musical que os artistas estrangeiros querem entrar de certa forma”.
Esperanza Spalding encanta o público de São Paulo com o repertório do premiado ‘Radio Music Society’
Pat Metheny brilha no BMW Jazz Festival e arrisca algumas palavras em português
Como a música brasileira é vista no cenário internacional?
Dentro do meio musical, o mundo toca música brasileira. O foco da música internacional é muito voltado para o Brasil. É um mundo no qual eles querem entrar de certa forma, por isso surgem as parcerias entre cantores nacionais e internacionais. A nossa música é muito respeitada pelo mundo afora. As pessoas cantam samba no mundo inteiro. A bossa nova, por exemplo, teve seu momento de entrar no jazz e nunca mais saiu.
Então a parceria entre músicos nacionais e internacionais é bom para ambas as partes?
Lá fora, os músicos têm um olhar muito forte para o Brasil. A cantora Céu começou a fazer sucesso no exterior e depois ficou conhecida por aqui. E como estava fazendo todos os festivais de jazz lá fora, foi chamada por um músico como Herbie Hancock.
Por que alguns cantores fazem mais sucesso fora do Brasil?
A audiência lá fora é voltada para a qualidade musical. E aqui, falta uma cultura para o público entender a importância disso. No primeiro mundo, todos os festivais de música são frequentados por pessoas que têm discernimento musical. No Brasil, a gente engatinha. Não em matéria de músico ou música, mas em matéria de público. Falta conhecimento e aprendizado, mas vamos chegar lá com os festivais.
O que você acha dos músicos que incluem o jazz ao seu próprio ritmo musical?
Na verdade, acontece o contrário: o jazz é que inclui todos os ritmos.
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O jazz é uma música para ouvir fazendo o que?
É preciso aprender a ouvir música sem precisar fazer mais nada. Só ouvir. Mas o mundo se encaminha para isso: a gente acha que a música sempre vem acompanhada de alguma coisa. Algumas pessoas correm ouvindo música, outras colocam um som para receber os amigos em casa. Tem que existir um momento em que não é preciso fazer mais nada além de ouvir música.