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Música / Coronavírus

Emicida fala sobre racismo e coronavírus no Domingão do Faustão: ''Um paradoxo muito triste''

Emicida dá aula ao falar sobre racismo, coronavírus e violência doméstica no 'Domingão do Faustão'

CARAS Digital Publicado em 15/06/2020, às 09h28 - Atualizado às 09h40

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Emicida fala sobre racismo e coronavírus no Domingão - Reprodução/Globo
Emicida fala sobre racismo e coronavírus no Domingão - Reprodução/Globo

Emicidacomentou sobre racismo, coronavírus e violência doméstica e deu uma aula no Domingão do Faustão.

Neste domingo, 14, o cantor conversou com o apresentador Fausto Silva e comentou sobre os protestos nos Estados Unidos e o racismo estrutural que o Brasil enfrenta, citando a morte do menino Miguel Otávio, no Recife, e de João Pedro, no Rio de Janeiro.

"A gente finge que esse é um problema de lugares como a África do Sul ou os Estados Unidos. O imaginário do brasileiro médio foi conduzido através de uma reflexão que faz ele acreditar que a gente vive de fato em uma democracia racial, o que não é verdade. E é por isso que quando uma nova geração emerge e traz à tona um discurso de que a gente vive um estado de desespero, de emergência e muito perigo. Quanto mais escura for a cor da sua pele, mais perigoso é. Essa tragédia que aconteceu com o George Floyd está fazendo o mundo inteiro fazer uma reflexão de como estruturalmente muitas pessoas corroboram com essa estrutura racista. Mas o Brasil tem emergências que precisam que ele se debruce sobre a sua realidade doméstica", comentou o artista.

"Estamos falando aqui uma semana depois de uma garota em Pernambuco abandonar uma criança no elevador e essa criança cair do nono andar e falecer. Isso é uma tragédia gigante. A gente precisa sim se perguntar por que uma pessoa em pleno gozo de sua faculdade mental abandona uma criança de cinco anos dentro de um elevador? Porque ela não consegue reconhecer nem a humanidade daquela criança e nem a necessidade de cuidado. Porque ela acha que esse cuidado são cuidados que ela deve ter com pessoas que se pareçam com ela. Esse é o grau de profundidade dessa questão", falou sobre o caso de Miguel, que caiu do nono andar do prédio em que morava a patroa de sua mãe.

"E há duas semanas o menino João Pedro no Rio de Janeiro tomou um tiro nas costas e faleceu enquanto cumpria sua quarentena em casa. Um tiro que foi disparado por um policial. A nossa realidade tem situações tão ou mais desesperadoras. E precisamos nos levantar contra isso também", disse, citando a morte de João Pedro, assassinado por um policial.

Ele também comentou sobre a pandemia do coronavírus no país. "As mudanças que a gente precisa não estão ligadas ao coronavírus. A pandemia não é uma escolinha onde a gente está aqui parado aprendendo sobre a situação e como a gente é humano e precisa ajudar todos os outros seres humanos. Muito pelo contrário. O que eu acredito que a gente está vivendo é um paradoxo muito triste. Por um lado a gente enfrenta um vírus que se espalha muito rápido, mas não tem uma letalidade tão grande"

"O que é extremamente letal são os abismos sociais que a nossa sociedade produziu e finge que não existem. Todas as pessoas estão sujeitas a se contaminar, mas nem todas as pessoas podem se tratar após se contaminar. Temos uma situação muito emblemática no Brasil que a primeira vítima do coronavírus é uma empregada doméstica que pegou o vírus de sua patroa, aparentemente. Isso é muito simbólico. As pessoas pobres se contaminam mais, tem menos condições de se cuidar e essa letalidade é amplificada não pelo vírus, mas pelos abismos sociais", completou. 

Emicida também compartilhou uma história de sua infância e falou sobre violência contra a mulher, que aumentou durante o período de isolamento social. "Eu venho de uma realidade de bastante pobreza. Lembro dos primeiros anos da minha vida a gente morava em um cortiço. Tinha um escadão e tinha uma casa que era colada na nossa, parece com parede. E lá o marido agredia a mulher dia após dia. Esse inclusive foi o motivo pelo qual a minha mãe decidiu se mudar dali. Estou falando aqui sobre os anos 1980, mas a gente não pode agir como se isso também não fizesse parte da realidade do nosso país nos dias de hoje". 

"A violência contra a mulher ainda faz parte da nossa realidade. Nesse momento que estamos reclusos em casa muitas mulheres estão trancadas com os seus agressores. Mulheres trans também estão sendo vítimas, e tem projetos para que elas também sejam protegidas pela Lei Maria da Penha. Tem um caminho muito longo ainda para que a gente possa se orgulhar como sociedade", disparou.

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