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O furacão Susana Vieira em Angra dos Reis

O orgulho por ser franca e autêntica: ‘Nunca vivi da minha beleza’

Roberta Escansette Publicado em 17/01/2017, às 09h28

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Com bom humor, a atriz, com 56 anos de carreira, curte o verão na Ilha de CARAS antes de dar vida a uma vilã na novela das 23h Os Dias Eram Assim - CADU PILOTTO
Com bom humor, a atriz, com 56 anos de carreira, curte o verão na Ilha de CARAS antes de dar vida a uma vilã na novela das 23h Os Dias Eram Assim - CADU PILOTTO

Ao desembarcar na Ilha de CARAS, Susana Vieira (74) inverte os papéis e é ela quem faz a primeira pergunta: “Posso ser eu mesma?” E foi assim, sentindo-se à vontade, que a estrela da próxima novela das 23h da Globo, Os Dias Eram Assim, com estreia em abril, mais uma vez deu um show de autenticidade e bom humor. “No Brasil, franqueza é um defeito, mas, para mim, é qualidade. Não posso ligar para quem não entende isso. Quem eu seria?”, questiona, às gargalhadas. Com a mesma garra que encara os estúdios de gravação, a atriz sobe e desce pelas encostas da ilha para a sessão de fotos. Nos intervalos, pega o celular para contar para a família como está seu dia. “A única coisa que tenho segura é o amor deles. Mandei para o Bruno a foto do helicóptero que eu vim”, conta a atriz, referindo-se ao neto mais novo, o mais parecido com ela segundo a própria.

A atriz também é avó de Rafael (20), ambos da relação de seu único filho, Rodrigo Vieira (52), com Luciana Cardoso (48). Apesar dos quatro não morarem com ela, todos participam ativamente da vida de Susana. “Outro dia o Ro me perguntou: por que voltei a fazer peça se não preciso?”, comenta ela, que, no auge dos seus 56 anos de carreira, volta aos palcos em São Paulo na sexta-feira, 13, com Uma Shirley Qualquer, de Miguel Falabella (60), mesmo autor de A Partilha, um dos seus grande sucessos teatrais. “Nunca vivi da minha beleza. Sempre me achei até meio feia comparada ao elenco da Globo. Fui melhorando isso dentro de mim porque fico ouvindo o tempo inteiro que sou linda. Então, caramba, ou estou louca ou as pessoas estão loucas. Acho que é do meu vigor que elas gostam”, acredita ela, que atualmente está solteira.

A verdade é que você tem tesão pela vida, não é?
Se tem uma palavra que não tirei do meu dicionário é essa. O meu pai, Mario, já falava que não entendia como, aos 60 anos, continuava com essa mania “de homem”. Ele dizia que eu não sossegava. Respondia que não consigo. Não sei qual a idade que a pessoa deve parar de namorar. Mas percebo quando um homem não ama ou quando deixo de ter tesão por alguém. Encaro outras questões do mesmo jeito. Quando falam, por exemplo, que a partir de certa idade não se usa mais minissaia ou biquíni. Quem disse que só é para usá-los com o corpo perfeito e aos 25 anos?

Com tantas realizações, é mais difícil sonhar?
Não dá para imaginar que um dia serei a rainha da Inglaterra. Não tenho sonhos. Quero continuar com saúde, alegria de viver e vendo o que pode ser feito para eu continuar sem me estressar. Sou uma pessoa do zero ou do 80. Ou estou plácida na minha cama, quando não me levanto por nada, mesmo vendo um filme horrível, fico ali encantada com aqueles cachorrinhos em volta, ou sou muito eloquente, no bom sentido. O meu caráter é de primeira. Fui criada com honestidade, ética e gentileza. Tudo continua igual. Às vezes, a vida vai te endurecendo. É óbvio que não sou uma boazinha, uma menina que saiu do colégio agora. Sou uma mulher de 74 anos. É um número que nunca entendi. Me sinto igual como antes, mentalmente e fisicamente.

No teatro você interpreta uma mulher que vive na mesmice. Já passou por isso?
Preciso discordar de você. A vida de uma mãe nunca será assim. Tenho um filho de 52 anos e ainda quebro a cabeça com ele. Há coisas que ele faz de errado e não me conformo. Me preocupo quando sobe no avião. A relação afetiva da personagem é que cai no ostracismo. É o que acontece com a maioria dos casamentos duradouros. Shirley, como muitas mulheres, é dependente do sentimento do marido. E, quando percebe isso, entra em pânico.

Mas, de alguma forma, você acredita que todas as mulheres sejam iguais?
Sou como qualquer mulher. Sofro por amor. Fico esperando o telefonema de uma pessoa que ame. É tudo igual. Os sentimentos de saudade, do cuidado com um filho, de desarmonia ou de traição, são iguais para todo mundo. Acontece é que mulheres como Shirley ficam mexidas quando os filhos saem de casa. Não sou agarrada assim. Mas também não criei filho para o mundo. Gosto de tê-lo por perto. Assim como também acho que mãe não tem que ser avó atuante. Tem que ser avó afetiva.

E com muito alto astral?
As pessoas falam disso. Mas isso não é mágica e não uso drogas. O astral é a predisposição que tenho de não ficar com nada entalado. É óbvio que há milhões de coisas dentro de mim que nem sei. Mas no dia a dia, não tenho segredos. Não devo nada a ninguém. 

Acredita que essa autenticidade ajuda a aproximá-la ainda mais do público?
Poderia trabalhar em um banco, teria exatamente a mesma personalidade: expansiva e comunicativa. Tenho um fã-clube que me curte como pessoa física e jurídica. E me considera uma boa atriz. Então, gente, não vou aproveitar isso? Sou chamada até hoje para fazer novelas, teatro, participar do Vídeo Show e vou dizer não? Sou Susana sempre, sim. Enquanto tiver saúde, postura, coxa grossa, simpatia e jogo de cintura, jamais vou dizer não para a vida.

Você já declarou em entrevistas que é preguiçosa. Mas é difícil acreditar nisso vendo sua vivacidade...
Mas é a pura verdade, preciso de um empurrão e aí vou me envolvendo com um projeto. Fazer teatro, por exemplo, é uma mão de obra. Tira o fim de semana. É uma vida de entrega. Para mim, o único dia que me deixa com preguiça quando trabalho é domingo. É o dia em que as almas estão aquietadas, as pessoas estão mais unidas, existe a coisa da família, de almoçar junto. Acho que o mundo dá uma parada. Só o que não para é a guerra da Síria.

Como fará para não se repetir após mais de 50 novelas?
Não sei se me repito, sinceramente. Sempre tem alguma coisa que liga dentro de mim, o talento talvez. A grande diferença é o estilo de cada autor para criar os personagens, além do figurino. Mas sei muito bem qual é o meu talento e o meu temperamento. Além disso, admiro várias atrizes que sabem se caracterizar. E sei quem é melhor do que eu. Só quem faria muito bem a Viúva Porcina, por exemplo, é a Regina Duarte. Adriana Esteves também é ótima atriz. Aquela baixinha se entrega de corpo e alma a um personagem. Entra em cena sem preconceito, como eu e muitos atores fazemos até hoje. E nesses momentos não dá para ficar pensando sobre qual é o seu salário nem achar que está demorando demais a gravação. Também não gosto de colocar ‘caco’ em texto. É um vidro que se quebra. Prefiro ser criadora na vida real. Tenho um texto engraçado. E sei me comunicar com todas as classes.