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Milton Nascimento reafirma sua vocação para fazer o bem

Na Ilha de CARAS, Milton Nascimento valoriza a família e confessa ter saudade de Elis Regina e Ayrton Senna

Redação Publicado em 03/01/2012, às 18h47 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

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De violão em punho ao cair da noite na praia da Ilha, Milton canta na areia e relembra o primeiro violão que teve, com o qual aprendeu a tocar ainda na infância. - Murillo Constantino
De violão em punho ao cair da noite na praia da Ilha, Milton canta na areia e relembra o primeiro violão que teve, com o qual aprendeu a tocar ainda na infância. - Murillo Constantino

Nem o talento e a genialidade de Milton Nascimento (69) conseguem esconder uma das vocações do cantor e compositor, lenda viva que tem se dedicado nos últimos anos a ajudar novos talentos musicais. Bituca, como também é conhecido o intérprete que encanta o Brasil com sua tenra voz, tem muito gosto em fazer o bem — na última contagem, ele tinha 117 afilhados.

A solidariedade, como ele próprio diz, é herança de família, uma vez que seus pais nunca se negaram a dar apoio a quem precisou na pacata Três Pontas, Minas Gerais. Foi para lá que ele voltou para buscar novos músicos para gravar seu mais recente CD. No interior mineiro, se reencontrou com passado, origens e fortaleceu a identidade.

Durante relax na baía de Angra dos Reis, após um ano de muito trabalho em shows pelo País todo, Milton, que é fã da natureza que envolve a Ilha de CARAS, abre o jogo sobre sua alegre infância, os laços com a família e a importância da amizade, se revelando um contador de (boas) histórias.

– Voltou para Três Pontas?

– Não é bem ter voltado. Fui até Três Pontas para pegar os novos pássaros musicais para seguirem comigo. Foi a melhor coisa que fiz. Digo que é um jardim da música. Todo mundo lá canta e bem.

– Quais suas lembrança de lá?

– Uma das melhores lembranças é saber que eu morava na mesma rua do Wagner Tiso, apesar de não sabermos disso nem nos conhecermos, mas nos observarmos. Até que um amigo em comum, o Dida, nos apresentou, e estamos juntos até hoje, Tiso e eu.

– Sua vida é em família...

– Tenho 117 afilhados. No candomblé, dizem que eu sou filho de Oxalá e que estou rodeado de espíritos de crianças, os erês. Sempre, em todo lugar que eu vou tem criança. Desde pequeno é assim. Então, fui batizando as crianças e continuo até hoje, pois é algo muito bom. É família. Deve ter a ver com esse negócio de eu ser filho adotivo... Meus pais me ensinaram tantas coisas que estou aqui por causa deles. Devo tudo a eles. Os meus afilhados também são uma dádiva de Deus. Prometi que iria adotar também, assim como meus pais fizeram comigo. Tenho cinco filhos adotivos, todos já grandes. Tem músico, médico, bancário. Músico, só um. Ô raiva! Queria poder formar uma banda! (risos)

– Amizade também é herança?

– Sempre falo da minha mãe porque, geralmente, as donas de casa não gostavam que as crianças fossem para a casa delas porque sujaria o chão. Mas na minha, não. Sempre tinha meninada, ela fazia chocolate... Cresci bem dentro da amizade. Não era só eu e as crianças. Tinha dias que eu ouvia meus pais falando de coisas dos amigos deles e, geralmente, era alguém que estava precisando de alguma coisa e que, apesar de não sermos ricos — algumas pessoas pensavam isso —, eles sempre ajudavam amigos. A coisa mais importante para eles era a amizade. Peguei esse lance e carreguei a vida inteira.

– Além da música, há outra paixão que traz da infância?

– Quando era pequeno, meu pai tinha um telescópio e sempre via revistas dos Estados Unidos e da Nasa. Decorávamos tudo sobre as estrelas... Minha segunda opção de vida era a Astronomia! Qualquer coisa que diga respeito ao céu me fascina e me chama a atenção. Quando fiz 18 anos, anunciei em casa que iria para Belo Horizonte para fazer Astronomia. Mas não tinha. Pensei em Contabilidade, mas acabei optando por Economia. Meu pai dizia que música não era questão de talento, mas de sorte. Então, ele me disse para fazer um curso qualquer, somente para não passar aperto. Fui pegar os papéis para fazer o teste de admissão, mas queimei tudo gritando ‘Viva a música!’. E nunca mais voltei atrás...

– Alguma saudade ainda dói?

– Eu morro de saudade da Elis Regina, que se foi tão cedo. Até hoje penso como ela estaria cantando, se estaria cantando. Fazia minhas músicas pensando nela e ela cantava do jeitinho que eu imaginava. Não há outra, nem busco outra. Ela foi única. Na música, tenho saudade da Elis. Mas na vida tenho muita saudade dos meus pais, que já se foram. E também sinto falta do Ayrton Senna. Acho que fui o melhor amigo dele. Haja saudade de tudo. Sinto falta do Clube da Esquina e de gente com quem trabalhei. Estão todos aí, esta é a diferença. A gente mantém contato e faz músicas juntos. Com o passar do tempo, mais gente aparece. Agora é a vez dos meninos de Três Pontas.