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Confissões do mestre Ary Fontoura

Aos 80 e 15 casamentos, Ary Fontoura ensina que nunca é tarde para começar

Redação Publicado em 16/04/2013, às 15h03 - Atualizado em 19/03/2020, às 13h04

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Na Ilha de CARAS, cheio de vigor, o ator avalia a trajetória de 60 anos dedicados à dramaturgia.
Com orgulho, relembra o passado como porteiro, engraxate e cozinheiro. - Leandro Pimentel
Na Ilha de CARAS, cheio de vigor, o ator avalia a trajetória de 60 anos dedicados à dramaturgia. Com orgulho, relembra o passado como porteiro, engraxate e cozinheiro. - Leandro Pimentel

Poucos atores transitam com tanto brilhantismo pela TV, teatro e cinema como Ary Fontoura. E é com o seu jeito educado e simples, beirando a modéstia, que, ao completar 80 anos de vida, sendo 60 de carreira, ele abre o coração na Ilha de CARAS. “Não me considero ainda absolutamente completo. Tenho a percepção de que há muita coisa a aprender”, diz. Com mais de 40 novelas, 20 filmes e 40 peças, ele relembra quando saiu de Curitiba, aos 30 anos, onde já era profissional reconhecido da TV, para realizar o sonho de seguir a carreira no Rio. “Deixei a família, um curso de Direito e fui para uma terra praticamente estranha, onde iria recomeçar. Era uma competição grande. Ou enfrentava ou não”, conta. Prestes a retornar à TV como o Dr. Lutero, diretor clínico de hospital em Amor à Vida, trama das 9 com estreia em maio, Ary também revela: já teve 15 casamentos, foi infiel e sente um vazio por não ter filhos.

– Como vê suas escolhas?

– Claro que também fraquejei, são 80 anos. Tem horas em que penso: ‘será que é por aí?’ Momentos de dúvida, solidão, de profundo egoísmo, principalmente ao deixar pessoas que amava para me dedicar só a mim. Sabia que, mais cedo ou mais tarde teria que pagar por isso. Deixei de ter uma família. Quando cheguei ao Rio, estava quase noivo. Mas vim, em 1964, época difícil, de mudanças no Brasil. Era um ilustre desconhecido e para sobreviver trabalhei de cozinheiro, engraxate, porteiro. Não queria começar uma família assim.

– Depois disso, como foi sua vida amorosa?

– Tive uma infinidade de relações. Umas não prosseguiram por minha causa, outras, por conta de dizerem ‘você se dedica muito mais ao que faz do que a mim’. E é uma verdade. Amar e ser amado é um processo complicado. Daí você toca o barco conforme é e escreve historinhas. Escrevi várias, uma, por exemplo, de três anos. Acabou porque apareceu outro cara no meio da jogada e ela foi embora.

– Ela o traiu?

– Por que uma pessoa trai? Porque você não tem efetivamente o que ela precisa. Antes, não sabia. Mas depois achei que, como eu traía, as pessoas deveriam fazer também e eu passei a lidar com isso de maneira normal. Você tem que viver eternamente com uma pessoa? Uma ligação afetiva tem que ser dadivosa, agradável.

– Você foi muito infiel?

– Eu nunca fui realmente infiel, mas quando era atingido nos meus conceitos, nos meus sentimentos, traía legal. Sabia amar e trair.

– Foram muitos casamentos?

– Uns 15. Estou com 80 anos. O que você quer?

– Mas há uniões duradouras...

– Não acredito. Creio que em seis, sete anos, dá uma crise desgraçada. Casamento não é mais para mim, mas estou aberto para tudo, dentro das minhas possibilidades, porque quando jovem, via como era bom.

– Arrepende-se de não ter construído uma família?

– Em certos momentos, sim. É um vazio, ainda hoje sinto.

– Podia já ter netos...

– É, também. Mas começo a analisar uma série de coisas. Atualmente seria difícil cuidar das pessoas e de mim. A gente sabe que determinadas atitudes que tomamos poderiam ter sido melhores, mas aí já foi. Não vivo do passado, mas do presente. Quando se é jovem, gasta as energias, nem sente culpa. Já mais velho, sabe que cada minuto é importante. Absorvo isso com ganância.

– Você tem muito vigor.

– E dou graças a Deus ainda de ter essa capacidade de buscar as coisas, de me movimentar. Sempre sou muito ágil, não me entrego pensando na aposentadoria. Vejo o quanto me ligar a pessoas mais jovens é importante. Não gosto quando caracterizam minha idade como a melhor. É uma bela idade, mas a melhor é a da juventude.

– O que a idade lhe tirou?

– Não consigo mais plantar uma bananeira, fazer estrela, mas me submeto a tudo, faço ginástica, tenho personal trainer.

– Ainda tem muitos planos?

– Não planejo com muita antecipação para não me decepcionar. Não é justo, depois dessa idade toda, ficar planejando, por exemplo, ser milionário.

– Já se submeteu a plásticas?

– Os procedimentos que fiz foram naturais. Mas no rosto nunca mexi. Nunca fui assim vaidoso. Também não sou contra quem faz. Mas preciso desesperadamente do meu rosto, das minhas expressões para poder continuar trabalhando. Nunca fui galã, nem Deus me deu esse dom de ser um homem belo, um artista que arrebatasse corações. Sempre tive noção de que não possuo beleza. Preferia pensar na arte generosa que é o teatro. Em qualquer época da sua vida, aos 80 anos, por exemplo, você pode começar. Sempre há um avô, um tio, um pai para interpretar.