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Decoração / Anuário

Zanini de Zanine: herança criativa

Um dos grandes nomes do design atual, Zanini de Zanine se inspira no pai e diz que é preciso projetar com consciência

Camila Carvas Publicado em 21/07/2011, às 15h10 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

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O designer Zanini de Zanine - Divulgação
O designer Zanini de Zanine - Divulgação

Carioca da gema, Zanini de Zanine, 33, é o típico garoto de praia. Surfista, bronzeado, tatuado... E ganhador de muitos prêmios de design, como os do Salão Casa Design e do Museu da Casa Brasileira. Formado em Desenho Industrial pela Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RIO), Zanini teve a quem puxar. Filho do arquiteto, escultor e moveleiro José Zanine Caldas (1919-2001), desde pequeno não lhe faltaram  inspirações. Além da convivência com os amigos famosos do pai, como o músico Tom Jobim, o arquiteto Lucio Costa e o designer Sergio Rodrigues, com quem inclusive estagiou, Zanini teve desde a infância a chance
de olhar as formas com outros olhos. Hoje, está atento a isso o tempo todo. E o próprio Rio de Janeiro é fonte de boas ideias. “Gosto de ser influenciado 100% pela minha cidade, pelo meu país”, diz o designer que hoje mora numa “casa simples e com pouca informação”, bem diferente daquela onde viveu durante a infância. Em seu trabalho, Zanini faz uso da madeira, que tanto influenciou a história deseu pai, e materiais reciclados, como rodas de skate, sobras de pranchas de surf e grades antigas. O reúso, sem dúvida, faz parte do seu vocabulário. Em 2009, Zanini lançou a marca Doïz Design, com peças conceituais feitas com diferentes  materiais. “Assim como o meu pai, sou inquieto e muito observador”, pondera. “De parecido, tenho a vontade de aprender e melhorar que ele tinha. E de diferente, talvez eu seja menos falante do que ele”. Mas se não fala muito, cria bastante.

Quando você começou a se interessar por design?
Na verdade, acredito que esse interesse começou cedo, já no meu subconsciente. Meus pais sempre me deram muita liberdade para escolhas. Eu acumulei uma bagagem visual de toda essa convivência com a forma, material e produção, presentes na rotina do meu pai, e de fato tudo isso me influenciou. E também, desde pequeno, tive contato com pessoas importantes para a cultura brasileira, como os arquitetos Lucio Costa,  Janete Costa, Sérgio Bernardes eSergio Rodrigues; o artista plástico Juarez Machado, o músico Tom Jobim e outros contemporâneos dos meus pais. Depois, quando percebi que poderia aliar criação e mobiliário, dois assuntos que me interessavam, decidi que Desenho Industrial seria a minha carreira.

Como era a convivência com o seu pai? Sua casa era diferente das outras?
Tive a sorte de passar 20 anos da minha vida ao lado dele. Moramos em diferentes cidades e sempre com grande cumplicidade. Eram rotinas bem agitadas, ele adorava o que fazia e, por conta disso, não parava. E a minha casa era sim diferente, porque 90% dos móveis eram maciços. Havia também muito artesanato brasileiro, africano e asiático.

E como foi ser estagiário no escritório de Sergio Rodrigues?
A oportunidade que tive ao lado dele foi fundamental para minha formação e decisão de que era, de fato, essa profissão que gostaria de seguir. Pude conhecer mais o trabalho dele e o ser humano Sergio Rodrigues.

Você deve ouvir algumas comparações com seu pai. Ser filho dele ajuda ou atrapalha?
Comparações não, não teria cabimento... Não teria capacidade de fazer 10% do que ele fez. E ser filho dele não me pesa, mas soma.

Como funciona o seu ateliê? Com quais materiais você mais trabalha?
Uso madeira certificada ou de demolição, plástico reciclável, metal, estofado... Com madeira maciça de demolição, trabalho séries ou peças únicas feitas a partir de antigas colunas, vigas e mourões de casas demolidas. No galpão onde fica o meu ateliê trabalham cinco pessoas. E praticamente 80% do trabalho é manual. Uso métodos de carpintaria com utensílios manuais.

O seu estilo pode ser definido?
É experimental. Não sigo nenhum caminho à risca, gosto das mudanças de linguagem.

Existe um “design brasileiro” ou o design é universal?
Sim, o Brasil tem um design com a sua cara. Improviso, sensualidade, informalidade e alegria são algumas palavras que podem resumi-lo. Mas é claro que quando eu faço um banco, por exemplo, ele pode ser usado
por pessoas de qualquer nacionalidade, desde que elas se identifiquem com a minha interpretação, com aquela minha ideia em forma de mobiliário.

Quem são os seus ícones? Quem são os designers que, de alguma maneira, te inspiram?
Meu pai, José Zanine Caldas, pelo capítulo importante que ajudou a escrever no começo da industrialização do mobiliário brasileiro e pela criação de um estilo chamado por ele de “Móvel Denúncia”, que consistia em transformar os resíduos do desmatamento da Mata Atlântica em móveis no final da década de 1960. Sergio Rodrigues, pela consolidação de uma identidade brasileira no mobiliário. Carlos Motta, pela elegância
e brasilidade aplicada ao uso da madeira. E os irmãos Campana, pela criação de uma nova linguagem de móvel nacional.

Para você, o que é o bom design?
Um produto que tenha uma função com proporção e equilíbrio.

Parece que assistimos a um retorno do artesão, do trabalho feito sob medida, personalizado. Você enxerga esse movimento?
Com a globalização, a tendência seria tudo caminhar para ter a mesma cara. Mas é exatamente o contrário que as pessoas estão buscando. Elas querem uma identidade, personalidade, regionalismos.

E qual o seu papel como designer?
Acredito que seja traduzir os sentimentos em forma de móveis com funcionalidade e responsabilidade ambiental.