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A luta de Betty Lago contra o câncer

No Castelo de CARAS, em NY, atriz desabafa: "Pensei que meu tempo tinha acabado"

Redação Publicado em 16/10/2012, às 09h52 - Atualizado em 19/03/2020, às 15h10

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Fim de tarde bucólico nos jardins do Castelo de CARAS em Tarrytown, New York, local que Betty escolheu para a primeira viagem internacional após o duro tratamento. - Martin Gurfein
Fim de tarde bucólico nos jardins do Castelo de CARAS em Tarrytown, New York, local que Betty escolheu para a primeira viagem internacional após o duro tratamento. - Martin Gurfein

Uma alegria renovada, evidente no sorriso fácil e gostoso que surge frequentemente, o humor afiado com piadas perspicazes e a naturalidade com que cativa as pessoas em sua volta são as provas de que a atriz Betty Lago (57) está de bem com a vida, mesmo após a descoberta de um raro câncer de vesícula e o duro tratamento de quimioterapia para combater o avanço da doença. Da batalha inicial, a apresentadora traz lições que a transformaram, de corpo e alma. A vontade de voltar logo à televisão é grande, já que, no início do ano, no auge do sucesso da personagem Marizete, a empregada que fica rica após ganhar na loteria em Vidas em Jogo, da Record, ela deixou a trama, que teve de ser reescrita, e reapareceu somente no último capítulo. Agora, Betty encara novo desafio, o de apresentar, ao lado de Leo Jaime (52), o reality show de relacionamentos Detox do Amor, no GNT, que já começou a gravar, e espera voltar a fazer novela. No Castelo de CARAS em New York, sua primeira viagem internacional após a quimio, ela conta, com exclusividade, como encara o medo da morte, a queda do cabelo e as reações aos medicamentos, além de falar da força interior, das mudanças, da gratidão pelos fãs e do apoio e amor incondicional do filho, Bernardo Conde (34). Depois de novos exames, ela aguarda orientações médicas para nova fase do tratamento. “Fiquei chateada que ainda não acabou e queria que tudo estivesse excelente, mas como os médicos disseram, o mais importante é como estou me sentindo. E estou ótima”, revela.

– De onde veio a força para enfrentar a doença e o tratamento?

– Você aprende que a força está em você, mas são as outras pessoas quem nos mostram isso. Nunca precisei usar a fé que tinha dentro de mim, nem a que as pessoas me passavam. Manifestações de gente que eu não conheço, do Brasil todo. É como se essa força de fora dissesse: ‘Vamos, reage!’ Isso te levanta. Você ganha energia e assume o comando da sua vida.

– Como reagiu à descoberta?

– Nunca tive uma gripe mais séria. Era para eu retirar a vesícula, o que eu já deveria ter feito há oito anos, mas o médico abriu e encontrou outra coisa. Na hora, nem consegui chorar. Eu tremia, de meus dentes baterem. Nem fiz a pergunta ‘Por que eu?’ Mas mexe com nossa mortalidade, em primeiro lugar. A vida é muito bacana. Você não pensa que um dia não estará mais aqui. É uma consciência real de que seu tempo pode ter acabado. Poxa, mas tem tanta coisa que eu quero fazer! Sou jovem! Como diz minha amiga Claudia Jimenez, a gente sabe o que tem deste lado, mas do lado de lá não sei se tem bolsa Chanel, Louis Vuitton... (risos)

– E a quimioterapia?

– O câncer não é mais a doença que era há 20 ou 30 anos. Meu médico falou que o tratamento é padrão no mundo todo. Não queria sair de perto da minha casa, da família e dos meus cachorros, apesar de não poder ter muito contato com eles por causa da baixa imunidade. Mas era importantíssimo que eles estivessem ali o tempo todo. Meu filho mudou para a minha casa. A Mari Vianna, que trabalha comigo, também abriu mão da família dela para ficar conosco. Quando comecei a quimioterapia, vieram as reações e, aos poucos, fui melhorando. O cabelo começou a cair e não quis raspar porque evitei fazer a ‘leitura’ da vaidade. Como atriz, já troquei de cor, de corte e já deixei crescer. Uso chapéu para proteger e não acho que está feio.

– Que momento pesou mais?

– Tinha enjoo do nada, não podia nem mexer a cabeça. Dá um vazio... Acho que é muito medicamento, você fica muito parada, colocando a vida em xeque o tempo todo, sem pensar no futuro. Precisamos botar em prática o que todo mundo fala a vida toda: pensar no presente. Antes da quimio, eu fiquei reclusa e chorei muito. Na quarta sessão, meu corpo começou a sentir de verdade. Tive dormência nas mãos e nas pontas dos pés, parecia que tinha areia nos meus sapatos. Incomoda um pouco, mas você se acostuma a conviver com o problema e sabe que o tempo é o juiz das situações. É preciso ter domínio sobre a cabeça e o comportamento para não virar uma ‘coitadinha.’ É preciso dominar os ímpetos. Se sentir qualquer fraqueza, tem de se levantar.

– Se apoiou na religiosidade?

– O segredo do bem-estar é equilibrar mente, corpo e espírito. Comecei a frequentar o Frei Luiz, centro de atendimento e estudos espíritas no Rio, que já faz parte de mim. Sempre ouvia falar de lá, mas era um lugar que eu não conhecia. Não acreditava nem desacreditava. Toda vez que eu vou lá, me sinto muito bem. A crença e a fé estão juntas neste sentido. Fui criada como católica, mas Deus é um só. Quem não é religioso o tempo todo, quando está bem com a vida, não se lembra de pedir nada ou de agradecer. Todos me diziam que eu precisava ter muita fé. Vi uma entrevista do Reynaldo Gianecchini, que teve câncer no sistema linfático, em que ele falava que tinha dado um mergulho para dentro de si mesmo. Não consegui entender isso. Mas comecei a ver que tudo o que acontecia com ele estava acontecendo comigo. É um processo que ocorre sozinho e que só se percebe quando o tempo passa. É quase um confronto de você com você mesma, com os valores e as coisas em volta. Tudo muda, porque você é forçada. Quando cheguei à quimioterapia, vi um lugar democrático. Hoje em dia, as pessoas não têm mais tanto preconceito, mas algumas ainda falam: ‘Estou com aquela coisa.’ Por outro lado, tem gente que chega e conta que já passou por isso e você vê que é mais comum do que parece. O escritor Deepak Chopra diz que o mundo está dividido entre 50% de pessoas que têm câncer e 50% de pessoas que não têm e podem vir a ter. É o lifestyle da gente: comida, bebida, cigarro...

– O que mudou efetivamente?

– Nas coisas práticas, por um lado totalmente instintivo, eu resgatei e li muitos livros que tinha sobre Ayurveda, a tradicional medicina indiana, e alimentação saudável. Diz minha nutricionista que meu anjo da guarda estava de plantão! Cortei completamente óleo, gordura, doce, carne e bebida. Já não fumava. Comia carboidratos aos poucos para não perder a energia. No primeiro mês, eu emagreci 10 kg, não por causa do tumor, mas pela reeducação alimentar, comendo de 3 horas em 3 horas. Depois, passei a comer de 2 horas em 2 horas. Gostei de voltar a ser magra. Estava tudo errado, saía muito, bebia... Estava acima do peso. A vesícula estava mal. 

– Está pronta para voltar à TV?

– Tenho muita vontade de trabalhar porque me divirto. Fiquei empolgada que o Carlos Lombardi assinou com a Record e sei que vamos fazer uma novela em 2013. Amo comédia e tenho saudades das palhaçadas que ele escreve. Pode ser clichê, mas dá um prazer enorme saber que as pessoas estão rindo do que fazemos. Pode perguntar a qualquer ator que faz comédia. Tem gente que chega perto de mim e começa a rir. Daí me pergunto: ‘Mas o que foi que eu fiz?’ E a pessoa lembra da Abigail, de Quatro por Quatro, de 1994. É gratificante. Depois da doença, tudo fica mais simples. Estou com menos pressa após essa experiência.