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Gordinhas criticam Perséfone em Amor à Vida: Ela não nos representa!

Renan Botelho Publicado em 30/09/2013, às 14h38 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Perséfone (Fabiana Karla) - Divulgação/ Globo
Perséfone (Fabiana Karla) - Divulgação/ Globo

Perséfone (Fabiana Karla) passou cerca de 100 capítulos em Amor à Vida com uma única missão: perder a virgindade. A enfermeira do Hospital San Magno, que não segue os padrões de beleza de outras mocinhas retratadas no horário nobre, foi desprezada por vários homens e passou por situações constrangedoras. Para algumas mulheres acima do peso, a história da personagem demonstra um preconceito real contra as ‘gordinhas’, mas acaba alimentando mais a gordofobia do que ajudando a combatê-la. 

“Acho importante que questões relacionadas ao universo de quem é obeso sejam abordadas, sim, mas não concordo com a forma como isso está sendo feito”, diz a jornalista Paula Bastos, criadora do blog Grandes Mulheres. “Todo mundo já sabe o que um gordo enfrenta e não vejo problemas de isso ser explorado no horário nobre, mas a personagem é praticamente humilhada em todos os capítulos. Para nós, gordas, é uma caricatura exagerada que só está ajudando a alimentar ainda mais o preconceito que já existe”, comenta.

Apesar de o autor Walcyr Carrasco ter declarado que a ideia da personagem era alertar os telespectadores sobre os problemas que obesos podem sofrer na sociedade, Paula avalia que ele errou a mão na hora de escrever a história da enfermeira. “Mais da metade da novela já se passou e ela só foi submetida a situações muito ruins, sempre como sendo a ‘coitada virgem’, a amiga que aceita emprestar o apartamento pra gostosona transar, a que passa vontade, a que tentou emagrecer não porque ela quis, mas para agradar aos outros. Ainda não houve uma cena de superação, de volta por cima”, argumenta. “Quem é gordo sabe que a nossa vida é feita de quedas e voltas por cima. Eu não conheço uma gorda que seja tão coitada como a Perséfone é retratada”, afirma.

Após ler uma carta aberta escrita por Paula, Walcyr respondeu em seu blog que também já sofreu por estar acima do peso. "Acredito que atualmente gordos são mais discriminados que os negros. Já vivi isso na pele, porque já fui praticamente obeso. Perdi vários quilos, continuo gordinho, mas nada como antes", disse o autor, que prometeu que as 'gordinhas um dia me agradecerão'. 

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Após a repercussão, Kalli Fonseca, criadora do blog Beleza Sem Tamanho, iniciou um abaixo-assinado online para pedir que Walcyr mudasse a personalidade de Perséfone. Até o fechamento desta matéria, mais de 3,6 mil pessoas haviam assinado o documento. “Sabemos que a mídia influencia diretamente no senso comum. Este papel ajuda a propagar ainda mais a gordofobia que já é tão forte em nossa sociedade”, diz o texto divulgado.

“A Perséfone acata tudo, engole tudo, tem uma péssima visão de si mesma. As gordas que eu conheço são mulheres que julgo normais: fazem dieta, enfiam o pé na jaca e recomeçam, se sentem lindas em determinados dias e feias em outros, conquistam um cara e depois tomam um pé na bunda e aí se recuperam e começam tudo de novo, sofrem preconceito e ficam mal, mas, em outro dia, se sofrem preconceito, rebatem.... Isso é o normal e por isso insisto em dizer que essa personagem não nos representa”, completa Paula.

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Na nova fase da novela, a história de Perséfone tem uma reviravolta. Ela ainda não conseguiu ter a noite incrível de amor que tanto sonha, mas pelo menos encontrou seu ‘príncipe encantado’, Daniel (Rodrigo Andrade). Porém, de mulher rejeitada pelos homens, ela se torna a gordinha humilhada pela família do namorado.

Nova fase

‘Gorda ridícula’. É com essas palavras que Leila (Fernanda Machado), de Amor à Vida, irá dizer para Perséfone desistir de casar com Daniel, alegando que o médico está com a enfermeira ‘só por pena’. A família do galã não entende por que ele foi se apaixonar por uma mulher ‘fora de forma’.

“Isso acontece, sim. Eu tenho casos de leitoras que não são aceitas pela própria família e precisam de ajuda psicológica. Essa é uma questão real que o autor vai abordar, mas eu só espero que ele vá desta vez retratar uma realidade, que ele saiba fazer a personagem contornar a situação porque isso vai ser o tipo de coisa que vai marcar e influenciar as pessoas”, fala Paula. “O ideal é que isso sirva para passar uma mensagem positiva de superação, pois muita gente se influencia pela novela”.

A jornalista comenta que as piadas podem atingir os namorados das mulheres mais cheinhas ao ponto de fazê-los romperem o relacionamento. “Um homem tem que estar muito apaixonado e ser muito seguro de si para namorar uma gorda, porque as piadinhas e os comentários maldosos acontecem e ele tem que saber como contornar. Se o cara for cabeça fraca, as piadinhas dos amigos já são o suficiente para ele desistir do relacionamento. Isso, inclusive, aconteceu comigo. Infelizmente isso ocorre porque são décadas de preconceito sendo alimentado. Só agora é que começamos a lutar por respeito e por nosso espaço e estamos tentando desconstruir essa imagem negativa do gordo”, conta. 

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Para as pessoas que duvidam que um galã de novela possa se apaixonar por uma gordinha, Paula rebate: “Qualquer pessoa pode se apaixonar por um gordo ou gorda, mesmo aquelas que dizem que isso jamais acontecerá. Uma mulher magra pode se apaixonar por um gordo; um marombado pode se apaixonar por uma gorda. O amor não escolhe onde vai bater e às vezes simplesmente acontece sem que alguém ao menos sonhe um dia ficar com determinado tipo físico de pessoa”.

Apesar da mudança na história, Paula não acha que Walcyr conseguiu se redimir com as gordinhas. “Não adianta dar um final feliz pra ela depois dela ter passado meses e meses sendo humilhada e rechaçada na novela. O público esquece muito rápido o final feliz, mas os exemplos negativos duram muito mais em nossa memória”, diz. “Meu sonho é que o Maneco (Manoel Carlos, autor da próxima novela das nove) criasse uma personagem gorda que fosse real e não um estereótipo forçado e caricato de gordo como é a Perséfone. Ele sim é um autor que sabe trabalhar questões humanas com maestria e que faria algo de bom por nós, para ajudar”, encerra.