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A importância da alegria na recuperação de crianças em hospitais

Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria, fala de sua experiência com crianças em hospitais e conta como os palhaços ajudam os pequenos pacientes a lidar com a doença

Redação Publicado em 04/12/2012, às 15h01 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Turma da ONG Doutores da Alegria - Luciana Serra
Turma da ONG Doutores da Alegria - Luciana Serra

Em novembro deste ano, um evento diferente aconteceu em São Paulo. A Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro, recebeu os maiores e mais respeitados ‘besteirologistas’ do país no II Encontro Nacional de Palhaços que Atuam em Hospitais. Exatamente: besteirologistas. E não pense que isso é algum tipo de brincadeira. Afinal, a ONG Doutores da Alegria, que organizou o encontro, é coisa séria. Sem perder o bom humor, claro. “A alegria não tem contraindicação”, diz Wellington Nogueira, ator e fundador do grupo de palhaços que há 21 anos visita crianças doentes em hospitais. Em uma conversa com Caras Bebê, ele contou que o encontro reuniu palhaços do Brasil inteiro e um muito especial vindo dos EUA: Michael Christensen, o primeiro artista a levar elementos do circo para dentro de um hospital. Para provar que a atividade está em plena expansão, em outubro de 2013 já está programada a Conferência Internacional de Palhaços que atuam em hospitais, no Centro de Convenções Rebouças, com participação confirmada de Christensen. Foi ele que, em 1988, inspirou Wellington a repensar seu ofício como artista e levou à criação dos Doutores da Alegria. Hoje, com o apoio de patrocinadores, a ONG conta com 50 profissionais e atende 22 hospitais gratuitamente. No bate-papo com Wellington Nogueira, ele contou como a ideia do palhaço no hospital veio para o Brasil. E como a alegria é essencial no tratamento de crianças internadas. Confira:

Como o palhaço entrou na sua vida?

Tudo começou em 1983, quando me mudei para Nova York para estudar teatro e me deparei com uma disciplina que, a princípio, me deixou perplexo: o clown theater, que ensinava técnicas de palhaço. Da perplexidade à paixão absoluta, levei exatamente uma aula. Depois disso, me tornei palhaço em tempo integral.

E a ideia de levar o palhaço para dentro dos hospitais?

Conheci o trabalho do Michael Christensen em 1988 nos Estados Unidos e me encantei. Depois, em 1991, voltei ao Brasil devido à doença do meu pai. E foi ele quem me pediu que colocasse a ideia em prática justamente na ala infantil do hospital onde estava internado. Aquele foi meu laboratório.

Por que acha que o palhaço exerce esse fascínio nas crianças?

O palhaço fala a língua das crianças, é um contato de igual para igual. Por isso, a identificação é imediata. Não é um adulto infantilizado. É um cara grande que brinca, se arrisca, faz coisas certas e erradas. É engraçado observar que às vezes a própria criança faz o papel do ‘educador’ nessa brincadeira, mostrando onde palhaço está errando.

Saiba mais sobre a presença do palhaço no universo infantil

E no adulto, qual é o efeito?

Ah, no adulto o palhaço evoca as lembranças da infância. Ele recorda o que fazíamos quando crianças e que hoje não fazemos mais. E mais: ensina a rir de nós mesmos e a correr riscos. Brincar é fascinante. E acho, sinceramente, que deveria haver playgrounds para adultos, para que não perdêssemos essa vontade de brincar.

Como funciona a visita dos Doutores da Alegria em hospitais?

Procuramos saber qual é a doença da criança, isso ajuda a entender o contexto. Existe uma estrutura básica predeterminada na apresentação, como o “check-up divertido”, mas a interação com o pequeno paciente é que dita o desenrolar da brincadeira. A criança é sempre nossa parceira de cena.

E como a presença dos palhaços afeta o pequeno paciente?

A criança elabora o seu drama através da brincadeira. Uma vez, visitamos um menino que corria o risco de ter a perna amputada. Assim que entramos, ele avisou: ‘Hoje o médico sou eu’ e “serrou” as pernas do palhaço. A criança não tem pena dela mesma. Por meio do palhaço, ela vive a experiência da alegria, que é extremamente importante para encarar a internação.

O que mais chamou sua atenção quando iniciou esse trabalho?

Quando cheguei aos hospitais, vi que as metáforas usadas para descrever o processo de tratamento eram todas ligadas à guerra: “vamos vencer a batalha, vamos usar todas as armas para lutar contra o inimigo”. Quis mudar para metáforas ligadas ao jogo. Porque no jogo ninguém morre, só perde.

Acha que a arte cura?

A arte ajuda a elaborar as emoções de forma não racional. Ela nos ajuda a expressá-las. E acredito que a alegria não tem contraindicação.

Por Ana Paula de Andrade