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Contar histórias ajuda o bebê a desenvolver a fala e a lidar com as emoções

Além de aproximar pais e filhos, contar histórias desde a gravidez ajuda a desenvolver a fala e o emocional da criança, tornando-a mais segura. Pedagogos e contadores de história mostram como introduzir o hábito na sua casa. Confira!

Ana Paula de Andrade Publicado em 29/08/2013, às 15h36 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Crianças têm que ter contato com a literatura desde o primeiro ano de vida - Getty Images
Crianças têm que ter contato com a literatura desde o primeiro ano de vida - Getty Images

Sentir-se amado é uma das principais necessidades de um bebê. E saiba que essa sensação pode ser proporcionada, já no útero, por algo que ele ainda não compreende: as palavras. Se você acha que 'conversar com a barriga’ é bobagem, está na hora de mudar seus conceitos. Um estudo liderado pela professora Barbara Kisilevsky, da Queen's University, no Canadá, provou o que se especulava há algum tempo: o feto não só escuta a voz da mãe no útero como consegue memorizá-la e reconhecê-la antes mesmo do nascimento. Segundo a pesquisadora, isso influencia decisivamente o desenvolvimento da fala e da linguagem do bebê. “Além disso, conversar com o feto promove um vínculo emocional: os recém-nascidos, comprovadamente, preferem a voz de suas mães às outras”, afirma. Mas o que conversar? A pesquisadora acredita que a gestante não precisa dizer nada em especial, o importante é expor o feto à sua voz repetidamente. 

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Algumas mães encontraram na literatura um meio de ‘quebrar o gelo’ e construir essa ligação emocional com seus filhos. “Tive uma certa resistência a conversar com a barriga quando estava grávida, achava meio esquisito. Então, comecei a ler os meus livros em voz alta, nada a ver com literatura infantil!”, conta Letícia Volponi, mãe de Laura (5 anos) e Miguel (1 ano), e autora do blog Pelos Cotovelos e Cotovelinhos. Contar histórias virou hábito depois do nascimento de Laura – durante as mamadas e antes de dormir – e mais tarde promoveu outra forte ligação: da menina com os livros. “É impressionante como contar histórias contribuiu para a formação do vocabulário dela”, diz Letícia. Hoje, Laura conta histórias para o irmão caçula e troca com frequência a TV pela companhia dos livros.

O escritor Leo Cunha, autor de mais de 40 obras infanto-juvenis, também estabeleceu o costume desde cedo com o filhos André (4 anos) e Sofia (13 anos). “Li histórias e cantei para os dois desde que estavam na barriga da mãe, e continuo lendo até hoje para o mais novo”, revela. Como resultado, ele conta que a mais velha se tornou uma leitora assídua. “Acredito que o contato com o texto literário enriquece a desenvoltura das crianças com as palavras e o mundo das ideias em geral”, diz. 

Fernanda Teixeira, diretora pedagógica da escola paulista Capítulo 1, concorda e afirma que as vantagens do convívio precoce com a leitura são evidentes. “Aqui na escola, percebemos que os alunos que possuem esse estímulo desde cedo têm melhor desempenho escolar, tanto cognitivo, quanto social e emocional”, conta. E a ciência também reconhece os benefícios do faz de conta. “Ouvir histórias faz a criança pensar e imaginar. Ela se torna cognitivamente e emocionalmente mais preparada e segura”, diz Antonio Carlos de Farias, neurologista infantil e especialista em desenvolvimento e saúde mental do Hospital Pequeno Príncipe. 

Além de estimular a linguagem, o raciocínio lógico e a associação de ideias, a contação de histórias tem um papel fundamental: ajuda os pequenos a lidar com as emoções, que muitas vezes ainda nem conseguem nomear. “As crianças começam a relacionar a ficção a situações da sua vida cotidiana e entram em contato com sensações que incluem tristeza, alegria e medo”, assinala a psicóloga Juliana Mattoso Del Vigna. Segundo ela, por meio dos personagens dos contos de fadas, é possível explicar às crianças conceitos complexos como superação, persistência, coragem e respeito. A escritora e contadora de histórias Vanessa Meriqui vive isso em seu dia a dia. “Muitas vezes, quando interfere na narração da história, a criança coloca aquilo que mais a incomoda ou que lhe é importante no momento”. Por isso, ao ler para os pequenos, deve haver entrega e o tom deve ser de acolhimento. “O contar histórias tem como matéria-prima o afeto. E quando uma criança é tratada com amor, fica mais preparada para encarar desafios no futuro e enfrentar situações difíceis com mais segurança”, acredita. 

Esse potencial educativo dos contos de fada chamou a atenção da pedagoga Nereide Tolentino há 36 anos, quando fundou a escola infantil Casa da Vovó, em São Paulo. A metodologia pedagógica criada por ela é baseada em histórias clássicas, como Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho. “Por meio dos personagens, a criança consegue vivenciar o bem e o mal brincando e, assim, assimila os valores transmitidos de acordo com a sua maturidade”, diz a educadora.

Para os especialistas, isso acontece porque os personagens trazem características reais, que as crianças encontram nelas mesmas, em seus pais, irmãos e amigos. “Escolhemos o que é significativo para a formação de valores em cada história. A da Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, traz a lição das escolhas, ou seja, independentemente do caminho escolhido, você vai encontrar desafios, vai ganhar e perder”, explica Nereide. Mas ressalta: “Não é dar ‘lição de moral’ na criança, e sim ensiná-la que cada escolha tem um preço”. 

Se contar histórias é um hábito recomenda já na gestação, os livros podem – e devem – ser apresentados à criança desde o primeiro ano de vida. Os ilustrados, que estimulam os sentidos, são os mais indicados. Para evitar que sejam danificados pelo bebê, ofereça versões cartonadas – com folhas mais grossas – ou feitas de pano, plástico e borracha, que podem ser mordidas e manuseadas à vontade. O importante é incentivar o contato com o livro e deixá-lo à disposição da criança. “Ao contrário do que muitos pensam, ler não é algo natural. É preciso educar para a leitura”, afirma Christine Fontelles, diretora de Educação e Cultura do Instituto Ecofuturo, uma ONG que vê a leitura como essencial na formação da cidadania. Christine destaca que, para se tornar uma leitora, a criança deve ter o exemplo em casa, afinal ela aprende observando e imitando os pais. 

Mas lembre-se: promover o contato precoce com o livro não quer dizer que você deve pular etapas e pressionar seu filho a ler antes do tempo. O estímulo é importante, mas é necessário respeitar a maturidade da criança para não gerar estresse, frustrações e traumas que dificultarão, mais tarde, o aprendizado formal. Tudo tem seu tempo. E a primeira infância é um tempo de encantamento. Use o poder das histórias para estimular e ensinar seu filho. Mas, principalmente, para transmitir afeto e ficar ainda mais próximo dele.

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