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Atualidades / Pressão social

Cultura do cancelamento: o maior inimigo dos participantes do Big Brother Brasil

Victor Hugo, Lumena Aleluia e Babu Santana contam como lidaram com o cancelamento após a saída do reality

Natalia Queiroz e Valentina Rosa Publicado em 05/04/2021, às 13h12 - Atualizado às 13h50

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Cultura do cancelamento: o maior inimigo dos participantes do Big Brother Brasil - Reprodução/Instagram
Cultura do cancelamento: o maior inimigo dos participantes do Big Brother Brasil - Reprodução/Instagram

A cultura do cancelamento é um movimento das redes sociais que visa boicotar as atitudes e falas de uma pessoa que “errou” diante de discussões dentro e fora do mundo virtual.

Essa foi um das grandes pautas da vigésima edição do Big Brother Brasil e acabou se tornando uma das maiores preocupações dos participantes do BBB21.

No início da edição atual, os confinamos criaram o lema de “cancelar o cancelamento”, tendo em vista que eles se podam e pensam muito antes de agir por conta desse “inimigo” dentro do jogo.

A ex-BBB, Lumena Aleluia, conta como a pressão do público pode afetar a sua vivência no programa e revela se tomaria decisões diferentes: “Acredito que lá dentro por conta da pressão que o próprio jogo proporciona, reconheço que tive alguns excessos em relação a algumas atitudes. Faria diferente e seguiria com maior foco no jogo. Acredito que me perdi um pouco no jogo por conta de algumas distrações de cunho emocional. Por isso um dos meus maiores arrependimentos é de não ter focado mais nas estratégias de me manter no jogo e focada no prêmio”, afirmou ela para a CARAS Digital

Como mencionado pela DJ, algumas atitudes tomadas por ela não foram bem vistas pelo público, causando um cancelamento dos fãs do reality. Entretanto, algumas pessoas conseguiram deixar gestos e falas da participante engraçados, transformando-os em memes. Quando saiu da casa, Lumena se surpreendeu com os dois lados e disse até gostar das piadas que surgiram nas redes.

Eu particularmente me diverti muito com os memes e os filtros que rolaram durante a minha participação no programa. De verdade, descobri um pessoal muito criativo por aí. Não vejo problema na galera usar, até porque está autorizado!! A minha questão é somente com algumas empresas que estavam usando a minha imagem, usando suas fotos e frases para conseguir vender produtos que verdadeiramente eu nem tinha conhecimento. Até porque dizer que eu autorizei algum produto e que eu aprovo algum serviço usando a minha imagem como assinatura, pode ser um espaço de enganar as pessoas e eu sou contra isso”, declarou ela.

Victor Hugo, do BBB20, concorda com Lumena e acredita que os canceladores são apenas uma parcela dos telespectadores. Ele também se divertiu ao relembrar como era visto pelo público. “Eu me senti confuso no primeiro momento tentando entender tudo. Mas assim que eu percebi meu papel na história do BBB me senti aliviado por ter sido visto como alguém engraçado e não como um vilão. Adoro ver os memes, me divirto com os comentários na maioria das vezes. E fiquei bastante feliz de ver que até hoje falam de mim na casa”.

Essas pessoas intituladas ‘canceladoras’ são apenas uma parte da sociedade e não, um todo. No começo ficava horas lendo comentários, hoje evito e quando venho a ler alguma coisa não fico focado nisso: tanto coisa boa quanto coisa ruim”, continuou ele.

A cada edição que passa, os participantes tendem cada vez mais pensar na opinião do público. Para Babu Santana, este era um pensamento constante: “Eu sabia que a opinião ali iria importar, num programa que o voto é das pessoas que estão vendo de fora. Essa linha de raciocínio era permanente. Mas não dá pra negar que a opinião de quem está decidindo o jogo importa. Até que ponto você jogava para estar no jogo e você defendia sua integridade moral, psicológica, física. O jogo é esse equilíbrio, do que eu acho e do que as pessoas estão achando”, comentou.

Diferente de Babu, que já estava acostumado com as câmeras por ser ator,  Lumena confessa que às vezes nem lembrava que estava sendo televisionada: “Como eu nunca vivenciei algo semelhante à experiência do programa, seja por confinamento ou por estar em frente as câmeras, entrei muito vislumbrada com tudo. Às vezes tinha esse momento de refletir sobre o que o público achava sobre mim, mas logo algo acontecia (festas, provas etc) e eu perdia o foco desta análise”, declarou ela.

Apesar do pensamento constante do julgamento do público, a psicóloga Alessandra Augusto, afirmou que não podemos deixar de ser quem somos: “Não podemos perder a identidade, seja fiel a sua bandeira, a sua opinião”. E completa: "As pessoas criam esse pavor da rejeição, vivem por padrões, por normas. É claro que temos um fundo de fragilidade emocional, por isso, ela precisa buscar uma ajuda, não deveríamos ter medo de perder o amor do outro, por que eu preciso entender que eu não vou agradar a todos, preciso lidar com essa frustração”.

Em relação ao crescimento do cancelamento nas redes sociais, os três têm a mesma opinião: “Acredito que a cultura do cancelamento precisa ser revista. Não por apontar as falhas das pessoas, mas sim por existir um movimento que se aproveita deste espaço de erro para promover o cyberbullying. Neste sentido, consigo afirmar que recebi muitas críticas que de fato foram construtivas e me ajudaram a refletir sobre o meu comportamento. O que eu acho muito bacana! Mas, por um outro lado, existe um movimento dentro desta cultura que usou das minhas falhas para me enviar mensagens racistas, homofóbicas e machistas. Logo, a cultura do cancelamento vem crescendo por meio de duas intenções: a primeira é por humanidade na vivência social e por buscar ajudar o outro, e a outra por manutenção do ódio e promoção de palavras de cunho preconceituoso", contou Lumena.

"O tempo diante da tela e o acesso à tecnologia de maneira fácil. O humano sempre foi cruel com sua própria espécie. Há uma projeção típica dos realities shows de se identificar com pessoas que tenham perfis que o público se identifique. Quando essa identificação não ocorre, o público quer repreender de alguma forma. Antes a repreensão era a eliminação. Hoje ela é mais hostil e coordenada. Vem em nome de uma justiça coletiva que sequer existe", disse Victor. O ex-BBB ainda lembra do discurso do apresentador,Tiago Leifert, durante a eliminação de Karol Conká: "O Tiago foi muito feliz no discurso de eliminação da Karol Conká quando ele disse que "ali dentro não é vida real" é um jogo. Mas acho que é um absurdo termos que lembrar isso. Prova que o cancelamento é irracional".

E Babu, opinou: "O Brasil já vinha polarizado, Ou é tudo, ou é nada, ou é isso, ou é aquilo. A gente nunca consegue ter um meio termo ou ideias combinadas. Isso é um problema mundial. Acho que essa questão da gente estar sempre se comunicando com pedacinho de placa eletrônica na mão, essa falta de contato com o outro, essa falta de empatia um com o outro, esse falso poder que a internet nos dá, de achar que a nossa opinião é o que basta. Eu fico vendo muitas coisas assim: ‘é o que eu penso, é a minha opinião, é isso!’ e as pessoas estão irredutíveis. Uma opinião querendo sobrepor a outra e a gente está esquecendo o dialogo, Acho que é isso que está acontecendo. Não só no reality, na vida".

Lumena também lembrou que, após a sua saída do programa, recebeu milhares de mensagens de cunho preconceituoso e, por mais que as suas atitudes tenham sido erradas ao seu modo de ver, os julgamentos passaram do ponto: “Entendo o porquê do ranço das pessoas e reconheço os erros, mas sou totalmente contra as mensagens de ódio que venho recebendo, mensagens racistas, xenofóbicas, homofóbicas. O meu desejo principal agora é fazer uma auto avaliação para seguir no meu processo de amadurecimento, mas às vezes encontro dificuldade para isso."

"Eu estou disposta a melhorar a cada dia, mas tem pessoas que querem que você viva os seus erros todos os dias. Neste sentido, essas pessoas não dão a chance ao outro para reconhecer e mudar. Vejo que algumas pessoas usam desse espaço de cancelamento só para compartilhar o ódio. Muitas pessoas me julgam por ter apontado dedos, obviamente reconheço que isso é errado, mas agora, essas mesmas pessoas que me julgaram por apontar dedos na cara das pessoas, fazem o mesmo comigo”, completa ela. 

A psicóloga, Alessandra, orienta que, nesses casos, quando a internet é usada para cometer um crime, é necessário denunciar: “Não existe outra forma a não ser denunciar. Hoje nós temos as delegacias de crimes digitais. Precisamos falar. Muitas pessoas que sofrem as ameaças, se sentem constrangidas e envergonhadas e não procuram auxílio. Mas precisamos denunciar, precisamos quebrar o silêncio, se não vira um ciclo vicioso. Não vamos deixar impune, havendo o crime, percebendo a intenção do crime, denuncie”.

Porém, ela entende que é preciso separar o âmbito profissional do pessoal, ainda mais quando se trata de pessoas públicas: “Eu sou ali um jornalista, um influencer, um blogueiro. É aquele personagem que está ali, então a crítica vai ser para aquele personagem, para aquele nome que eu assumi, para aquela posição que eu assumi naquele momento. Saiu dali, desliguei o computador, saí daquele meio social, eu me torno esposa, me torno mãe, me torno filha, sobrinha, tia. Eu preciso fazer esse corte, essa divisão. Esse mal estar na vida de alguns indivíduos é quando se misturam muito, a vida pessoal com essa vida profissional. Aí quando vem a crítica, quando vem o cancelamento, detona todo o indivíduo, fica sem base emocional, sem nenhuma rede de apoio. Então o ideal seria manter a minha vida pessoal a parte da vida profissional, precisa haver esse corte”.

E finaliza: “A vida pessoal do indivíduo precisa ser preservada. Quem está ali é o profissional, então essa crítica vem para o profissional. E sendo no campo profissional, eu vou responder de uma forma profissional, eu vou responder de uma forma formal. O grande problema é que mistura tudo, a gente vê hoje ataques a família de quem está ali no blog, na página, no canal. Atacam a família, atacam a pessoa, atacam a sua cor, a sua postura, a sua religião. Isso que não está legal. A gente precisa revisar isso, a gente precisa respeitar o outro. Vivemos uma era de profundo desrespeito ao humano".

Os ex-participantes do BBB concordam que a cultura do cancelamento ultrapassa a porta da Casa Mais Vigiada do Brasil e impede os confinados a cometerem erros: “A única maneira de evitar o cancelamento é ser um robô. Vou errar, você também, todos erramos. E os que cancelam erram até mais", afirma Victor Hugo.

Lumena completou: “Uma das perguntas que tenho feito sobre o cancelamento é acerca do real objetivo. Porque no meu caso, as consequências foram bastantes dolorosas. Transcenderam as críticas em relação a minha experiência no jogo e muitas das críticas tiveram cunho racial, atacaram a minha sexualidade, atacaram a minha religião e também a minha família. Minha mãe, minha companheira e minha família de santo foram extremamente atacados, sofreram psicologicamente. Ainda hoje sentimos os efeitos do ódio emanado nas redes sociais".

"Minha opinião sobre a cultura do cancelamento? Cancela essa cultura, por favor?", brincou Babu, ao finalizar o papo.