CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil

Territórios vastos e desabitados são chamados gerais, elipse de campos gerais, do latim generale, que...

...pertence a um gênero. Para percorrê-los a pé, é preciso ter fortes tornozelos, estranho diminutivo de torno, do grego tórnos, aparelho usado para arredondar peças.

Deonísio da Silva Publicado em 18/07/2008, às 16h21

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Elefantíase: do grego eléphantíasis, pelo latim elephantiasis, elefantíase, doença crônica caracterizada por obstrução da circulação linfática e hipertrofia da pele e dos tecidos subcutâneos, que afeta de modo especial os membros inferiores e a genitália externa. O nome provém de eléphantos, genitivo do grego eléphas, marfim, que passou a designar o elefante. A doença elefantíase faz com que a pessoa que sofre de tal hipertrofia se pareça com o mamífero proboscído, isto é, de focinho alongado, a tromba, porque o porte e as juntas lembram o animal. Gerais: de geral, do latim generale, declinação de generalis, que pertence a um gênero. Nesse sentido, tem pouco a ver com a patente militar designada por general, que é redução de capitãogeneral, aplicada ao chefe dos capitães, em tempos de guerra e de paz. Tal sutileza levou, no exército imperial brasileiro, a uma curiosa hierarquia: o tenentegeneral estava acima do marechal-de-campo e abaixo do marechal-deexército. O dicionário Aurélio, ao contrário do Houaiss e do Michaelis, apresenta esse plural como verbete isolado e não só como plural de geral. Gerais é elipse de campos gerais para designar vastas extensões territoriais desabitadas. O escritor cearense José de Alencar (1829-1877), em O Sertanejo, registra o vocábulo com propriedade: "Amigo Aleixo, nasci e criei-me nestes gerais: as árvores das serras e das várzeas são minhas irmãs-deleite". Mas quem melhor nos explicou os gerais foi o mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), no romance Grande Sertão: Veredas: "Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães é questão de opiniães". Médico e romancista, Rosa estudava diversas línguas, como confindeciou em carta à prima Lenice Guimarães de Paula Pitanguy: "Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional."Marechal: do francês maréchal, marechal, do latim mariscalcus. Os romanos adaptaram o vocábulo com que os francos designavam o empregado doméstico, skalk, que cuidava dos cavalos, marh. Ele cuidava sobretudo das ferraduras dos animais, e no exército a palavra passou a denominar o oficial encarregado de examinar o lugar onde os cavaleiros travariam a batalha. Por sua importância e por ter o poder de impedir ou autorizar que a cavalaria fosse a determinado campo, tornou-se patente de grande autoridade, mandando também nos capitães-generais e depois nos generais. O Exército brasileiro aboliu essa patente. Tornozelo: provavelmente de um estranho diminutivo de torno, do grego tórnos, pelo latim tornus, aparelho que gira e permite arredondar peças de barro, de madeira, de ferro, de aço. Em outras línguas, o osso presente na articulação do pé com a perna tem designações cujos étimos estão ligados a palavras com conceitos diferentes. Em inglês, por exemplo, é tarsus, palavra latina que veio do grego tarsós, entrelaçamento de raízes. E também ankle, do mesmo étimo de clavícula, do latim clavicula, diminutivo de clave, chave. Aos gregos pareceu, por metáfora, que os pés e os dedos semelhavam as raízes de uma planta, daí a designação tarso e metatarso. Entre os romanos, o tornozelo lembrou-lhes o ferrolho, a tramela ou a chave, clavis, de madeira para trancar as portas e as janelas. Mas, sendo osso pequeno, tornou-se clavícula, chavezinha. No espanhol, tornozelo é tobillo, cujo étimo está ligado ao vasco txurmillo. Em francês é cheville du pied, chave ou articulação do pé. É tamanha a obsessão com a aparência física que pacientes já solicitam lipoaspiração no tornozelo, que o médico Jorge Menezes (47), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, não recomenda, pela delicadeza da região. Quem lipoaspira tornozelo pode vir a ter problemas como deficiência vascular no local.