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Suco de açaí feito sem higiene pode sim disseminar a doença de Chagas

Marcelo Nascimento Burattini Publicado em 10/09/2007, às 16h59

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Marcelo Nascimento Burattini
Marcelo Nascimento Burattini
Os meios de comunicação divulgaram que 116 pessoas contraíram a doença de Chagas no Amazonas, Pará e Amapá após ingerir suco de frutas regionais como bacaba e açaí. Dados do Ministério da Saúde confirmam que houve 15 surtos da moléstia nos últimos 15 meses. E em 2005, vale relembrar, houve um surto de Chagas em Santa Catarina envolvendo pessoas que tomaram garapa em um quiosque de beira de estrada. Chagas é uma doença infecciosa causada pelo Trypanosoma cruzi, protozoário que vive em um inseto conhecido como barbeiro. Ele é hematófago, ou seja, se alimenta de sangue. Vive na natureza e infecta o homem e outros mamíferos. No passado, era comum em frestas nas paredes das casas de pau-apique sobretudo na zona rural. A forma clássica de contaminação é esta: a fêmea do barbeiro - e só ela - pica o homem em geral à noite e, como ato reflexo, deposita as fezes no local. A picada incomoda. A pessoa reage coçando a região e, assim, colabora para a entrada do protozoário em seu corpo. Com a melhora das habitações, o país eliminou esse tipo de transmissão da doença nos Estados litorâneos, com excessão da Região Sul e Amazônia. O Brasil até recebeu em 2006 um certificado da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) atestando que sua região litorânea está livre da forma clássica de transmissão de Chagas. Grande parte da população, pois, não corre mais o risco de adquirir o Trypanosoma cruzi por picada do barbeiro. Mas a moléstia persiste na natureza. Passaram a ter importância, então, outras formas de transmissão. Como explicar os surtos de Chagas em pequenas localidades da Amazônia, envolvendo grupos restritos de pessoas? A explicação é simples. Palmeiras como a açaí são um hábitat do barbeiro. Ele contamina os cachos de frutas com suas fezes. Alguém os apanha. Não higieniza as frutas e as esmaga ou tritura. É grande o risco de quem tomar o suco ou consumir a polpa ingerir junto o Trypanosoma. É o que tem corrido. O microrganismo penetra no homem pela picada do inseto ou, se ingerido, pela mucosa da boca ou da faringe. A doença de Chagas pode se manifestar de forma aguda ou crônica. A forma aguda requer grande quantidade de microrganismos, portanto rara no caso da picada. Mas é comum quando os Trypanosomas são ingeridos. Os sintomas são: mal-estar, febre repentina e prolongada; inflamação do miocárdio e do sistema nervoso central; e, nos casos mais graves, inflamação do encéfalo, às vezes com coma e óbito. Quem não morre na fase aguda pelas complicações pode ter a impressão de que se "curou" e passar décadas bem. É a fase latente de Chagas. O organismo não elimina o Trypanosoma. Ele se esconde no coração e em células do sistema nervoso ao redor do aparelho gastrointestinal. A maioria dos portadores, felizmente, vive bem com o protozoário a vida inteira. Em um grupo deles, porém, causa dilatação, arritmia e insuficiência cardíacas; danifica o esôfago, levando à dificuldade de deglutição, e também o intestino, que perde a capacidade de evacuar, o que é chamado de megacólon chagásico. O ideal, claro, é ficar longe do protozoário. Pode-se evitar a contaminação com atitudes básicas. Fuja de acomodações improvisadas no mato. Não tome garapa, açaí e outros sucos de frutas em locais cuja higiene desconheça. Na dúvida, dê preferência às polpas industriais pasteurizadas. Quem suspeita que tenha sido contaminado deve consultar um médico. Se tratado logo com medicamento específico, a evolução clínica é favorável. Quando a doença se torna crônica, o tratamento consiste em controlar os problemas que vão surgindo.