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Stent pode não ser a melhor opção para desobstruir artérias carótidas

Jorge Agle Kalil Publicado em 19/07/2007, às 14h04

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Jorge Agle Kalil
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Modismos são freqüentes em Medicina. Nos últimos anos, talvez por força do marketing dos fabricantes e pelos inúmeros relatos de casos na literatura médica, cresceu muito a indicação do tubo de malha metálica conhecido como stent para tratar casos de obstrução na carótida, principal artéria do pescoço, que irriga o cérebro. Mas tal indicação, como primeira alternativa, é discutível. Pesquisas mostram que o stent pode ser eficaz nas doenças das artérias coronárias, dos membros inferiores e da aorta, porém há polêmica sobre sua adoção indiscriminada nas carótidas. Estudos comparativos já comprovaram que oíndice de reestreitamento (reestenose) desses vasos nos tratamentos com stent é maior do que quando se faz a cirurgia convencional (endarterectomia). Além disso, o custo desta última é menor - pelo fato de a maioria dos stents usados no Brasil ser importada dos Estados Unidos - e o índice de complicações é igual ou menor que o da colocação do dispositivo, por volta de 5%. Em um recente curso na Universidade de Berlim, cirurgiões alemães disseram recorrer ao stent nas obstruções de carótidas apenas quando se trata de "pescoço hostil", ou seja, que passou por cirurgias ou sofreu irradiações no tratamento de câncer, por exemplo, o que dificulta a cirurgia; e em pacientes que apresentam pulmão e coração comprometidos, aumentando o risco da anestesia geral. As artérias carótidas são fundamentais porque, junto com as artérias vertebrais, levam sangue oxigenado ao cérebro. As carótidas direita e esquerda sobem pelas porções laterais do pescoço e irrigam os hemisférios cerebrais. Já as artérias vertebrais saem da artéria subclávia (perto do encontro entre pescoço e ombro) e vão, uma em cada porção posterior do pescoço, até o cérebro. Como ocorre com todos os vasos, as artérias podem ser obstruídas. A causa mais freqüente é a aterosclerose, danificação dos tecidos internos do vaso, com a deposição de gordura e a formação de uma placa. Tabagismo, sedentarismo, dieta rica em gorduras, altas taxas de colesterol e de triglicérides no sangue, hipertensão e outros fatores favorecem o processo. Das possíveis conseqüências, a mais grave é o acidente vascular cerebral (AVC), "sofrimento" momentâneo ou dano de uma porção dotecido cerebral por falta de sangue e oxigênio, também conhecido como derrame cerebral. Até algumas décadas atrás, a doença era mais comum em homens com mais de 50 anos. Hoje há quase um equilíbrio com relação às mulheres, que adotaram o tabagismo e outros hábitos capazes de predispor à obstrução ou estreitamento das artérias. Nos casos em que a obstrução não chega a 70% e não existem sintomas - tontura, perda momentânea da visão, da consciência ou do equilíbrio e formigamento na face -, o tratamentoé clínico. Os remédios - estatinas e antiagregantes plaquetários como a aspirina - devem ser tomados continuamente e controlados com exames periódicos. A cirurgia se destina aos pacientes que apresentam sintomas, aos que têm "ferimentos" na placa de ateroma, que facilitam o desprendimento de coágulos, podendo causar AVC, e àqueles nos quais a obstrução é superior a 70%. O tratamento cirúrgico constitui-se da cirurgia convencional ou da angioplastia com stent. Na primeira, abre-se a carótida e retira-se a placa. A segunda, que começou a ser feita há cerca de três anos nas carótidas, consiste em introduzir um cateter no vaso, pelo qual se libera o stent, que mantém a artéria dilatada. Prevenção, entretanto, é a melhor terapia. Um ultra-som semestral permite diagnosticar e tratar precocemente a doença, evitando complicações como o AVC e até a cirurgia.