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Sem perceber, algumas pessoas podem sabotar a própria felicidade

Rosa Avello Publicado em 23/10/2007, às 17h06

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Rosa Avello
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Tenho recebido muitas mensagens de leitores comentando um artigo que escrevi nesta seção, na edição 718, de 10 de agosto. Nele, eu dizia que o amor é privilégio de poucos: aqueles que conseguem se superar enquanto se empenham no crescimento do ser amado. Entre as perguntas que me chegaram, uma foi recorrente: "Tenho alguém que me escolheu para amar e que está empenhado em me fazer crescer, mas, mesmo assim, continuo infeliz. Por quê?" Para responder, devo esclarecer alguns pontos. O filhote humano é o menos preparado para adaptar-se ao mundo. Um cãozinho de 2 meses sobrevive sem a mãe, caso seja abandonado. Um bebê humano morre nas mesmas condições. Por isso, os adultos humanos instruem suas crias com regras de sobrevivência, lhes transmitem ensinamentos sobre o mundo e sobre como é preciso ser/fazer para "se dar bem" nele. Assim, ao longo da vida, vamos compondo uma espécie de "manual de funcionamento de mundo", que usamos na hora de fazer escolhas. O problema é que esse manual é quase todo inconsciente. A gente esquece por que age de determinada maneira frente aos acontecimentos. Achamos, simplesmente, que "é assim que as coisas são". Por exemplo: na hora de comer, nem pensamos em não usar talheres. Certamente os adultos lançaram mão de mensagens punitivas para nos ensinar esse hábito, mas, uma vez adultos, não o adotamos por medo de punição, mas apenas porque "sabemos" que é o melhor para nós. É claro que se trata de um exemplo grosseiro. O fato, porém, é que algumas vezes o que pensamos ser "o melhor para nós" pode já não ser tão bom assim. O mundo muda à nossa volta, mas nosso manual não. Ele está no inconsciente e exige muito esforço para ser acessado e atualizado. Então, nossas escolhas afetivas resultam de regras defasadas e cujas mensagens são sempre no sentido de nos preservar. Resultado: nas relações, quase sempre pensamos mais em nós do que no outro. Se fizermos uma análise profunda, poderemos constatar desejos egoístas ocultos até em nossas ações pretensamente altruístas. Por isso, amar não é simples. Ao buscar a evolução da outra pessoa, precisamos colocar em cheque o nosso manual, atualizá-lo o tempo todo. Isso requer esforço máximo e prova o nosso grau de amadurecimento. Impelidos a ajudar a quem amamos, nos mobilizamos para fazer coisas que vão além de nossos limites. Mudamos e crescemos em conseqüência de amar. Se uma pessoa é infeliz com aquela que a escolheu para amar é porque não consegue se entregar. Talvez seu manual tenha uma regra que diz: "você será feliz se contar apenas consigo mesmo". A resistência na entrega visa "provar" que o manual está certo. A pessoa fica na relação, mas querendo sair dela, sua vida torna-se um inferno e tal situação confirma o manual, levando à comodidade de não precisar mudá-lo. Nesse caso, um ato de amor seria permanecer na relação, mas empenhado em entregar-se, tornar-se íntimo e cúmplice. O rompimento, ainda que soe como alternativa para proteger outro, seria uma ação em benefício da própria paz, mesmo que ilusória. Atos de amor não contemplam mensagens egoístas como esta. Eles têm o outro como alvo. São transformadores na medida em que exigem a evolução de quem os manifesta e de quem os recebe. Quando ambos são capazes dessa entrega, um encontro humano singular e grandioso acontece. Infelizmente isso é muito, muito raro.