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Os muitos amores do cantor Roberto Leal

Casado há 35 anos com Márcia, ele divide o coração entre sua Portugal e o Brasil

Redação Publicado em 01/03/2010, às 13h46 - Atualizado em 30/08/2012, às 13h29

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O casal curte o dúplex em Alphaville, Grande SP, decorado com mobiliário antigo vindo de Portugal. - MARCO PINTO/SAVONA
O casal curte o dúplex em Alphaville, Grande SP, decorado com mobiliário antigo vindo de Portugal. - MARCO PINTO/SAVONA
E m 1972, um jovem de 19 anos e densa cabeleira loira foi eleito Rei da Juventude Brasileira pelo mais popular programa de auditório da época: A Buzina do Chacrinha. Um ano antes, o garoto desembarcou de ônibus no Rio de Janeiro, vindo de São Paulo, disposto a tudo para que o Velho Guerreiro, o grande comunicador Abelardo Barbosa (1917-1988), lhe desse uma chance. Um pouco de ousadia, uma pitada de sorte e um amigo com boa vontade colocaram o novato frente a frente com o homem que revelaria ao país o talento de Roberto Leal (57), português de Trás-os-Montes com alma repartida entre a terra em que nasceu e aquela que o acolheu. "Naquela época, eu parecia um extraterrestre", relembra o artista, com bom humor. "Usava roupas espalhafatosas e o cabelo pelo ombro. Quando Chacrinha me viu, não entendeu nada." O apresentador pode não ter compreendido de imediato, mas, assim que Roberto Leal começou a cantar e dançar Arrebita, a plateia pegou fogo. As adolescentes imitaram a coreografia e o sucesso foi instantâneo. Quase 40 anos depois, o cantor e compositor que imigrou em 1962 com os pais e nove irmãos, em cinco viagens sucessivas, se reinventa. Ao recorrer às raízes lusitanas, grava um álbum premiado na Europa e agora prepara outro com os fados que mais lhe falam à alma. Nessa longa trajetória, Roberto Leal colhe o extraordinário número de 17 milhões de discos vendidos no Brasil, e uma infinidade de homenagens e títulos, incluindo um de grande apreço: o de embaixador da música portuguesa, resultado de pesquisa que o apontou como o português mais conhecido no país, deixando para trás até Pedro Alvarez Cabral (1467-1520). Em paz com a dualidade que por muito tempo teve de enfrentar, afinal era um estrangeiro aqui e, quando voltava a Portugal, acabava também sendo considerado como tal, Roberto Leal hoje sabe que seu coração tem espaço para acomodar seus dois amores. Se alguém ainda duvida, basta ouvir seus CDs, em que sonoridades lusitanas e brasileiras se mesclam. O mesmo se dá na vida pessoal: Roberto é casado com uma mineira, Márcia Lúcia (58), parceira nas composições e mãe de seus três filhos, nascidos no Brasil: Rodrigo (30), produtor e músico; Manuela Fernandes (27), atriz; e Victor Diniz (20), pintor. Embora tenha casa em Portugal, onde moram os herdeiros, o casal passa parte do ano em seu dúplex em Alphaville, na Grande São Paulo. No mesmo prédio eles inauguraram, em parceria com o publicitário Wellington Amaral (56) e a artista plástica Leslie Amaral (53), o restaurante Marquês de Marialva, especializado em gastronomia portuguesa. - Como você se prepara para os shows no Brasil e exterior? Roberto Leal - Faço academia três vezes por semana e me alimento bem. Nos últimos três anos emagreci dez quilos. - Você sempre usa uma cruz pendurada no peito, é um sinal de sua espiritualidade? - Eu e minha família temos muita fé. Em minha casa em Portugal existem cem estatuetas de santos, muitas das quais ganhei de fãs. Quanto a esta cruz, ganhei há 30 anos de alguém muito especial, Chico Xavier, que me considerava um homem de paz. Prestes a morrer, ele me enviou uma mensagem: um aroma de rosas, que simbolizavam a energia dele, invadiu meu quarto. Era um sinal de que ficaríamos sem sua presença física. - Tem um ritual para compor? - Me recolho. Primeiro cai uma lágrima, então a música vem. - No premiado CD Raiz, de 2009, você canta no dialeto mirandês, de sua terra natal. Como foi essa mudança? - Esse CD foi escolhido pela Rádio e TV de Portugal como Melhor Álbum do Ano de Música Tradicional Portuguesa. É um projeto amoroso, de grande pesquisa musical. Agora preparo aquele que será o melhor disco de minha vida, Os Meus Fados, gravado aqui e em Portugal. São clássicos como Foi Deus e Nem às Paredes Confesso. E pela primeira vez gravo Fado Tropical, de Chico Buarque. É um disco da maturidade. - Seu apartamento tem muitas telas e objetos de antiquário. - Adoro arte. Em Portugal se costuma dizer que uma casa sem recheio é uma casa pobre. Tenho móveis que me acompanham há 32 anos, como a arca de madeira comprada em Sintra, Portugal. O relógio, de 200 anos, também está na lista de objetos com os quais tenho relação afetiva. - Seus filhos também seguiram a profissão dos pais? - O Vitor é pintor, a Manuela é atriz e o Rodrigo é músico e produtor dos meus shows. - O Roberto Leal dos tempos do Chacrinha tinha visual exagerado. Como é hoje? - Roupa é estado de espírito. Se o dia está bonito, escolho uma camisa branca e jeans. Para shows um brilho discreto vai bem. Não saio sem um blazer. - Seu nome artístico é uma homenagem a Roberto Carlos (Roberto Leal nasceu António Joaquim Fernandes). Como é seu relacionamento com o Rei? - É de carinho e gratidão. Numa ida a Portugal, já no avião comecei a sentir saudades do Brasil. Roberto fazia um show no Cassino do Estoril e lhe enviei o seguinte cartão: 'Que você seja tão feliz em meu país como eu sou no seu'. Ele interrompeu a apresentação e disse: 'Esta sala está cheia de portugueses, mas tem um irmão nosso que todos os dias nos lembra Portugal'. O maior ídolo brasileiro reconhecendo nosso trabalho. Há sempre a alma do Brasil me protegendo.