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Rico, do gótico reiks, poderoso, é quem tem muito dinheiro. Para obter...

...riqueza, o inglês Ronald Biggs assaltou em 1963 um trem pagador. De 1966 a 2002, ele viveu no Brasil como foragido, do provençal forreissit, aquele que deixou sua jurisdição.

Deonísio da Silva Publicado em 10/08/2006, às 11h05

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Doceta: do grego doktaí, doceta, do verbo dokéo, parecer. Os docetas, adeptos do docetismo, foram hereges do primeiro século de nossa era. Defenderam, entre outras coisas, que Jesus não tinha um corpo. Docetas ilustres aparecem no romance O Nome da Rosa, do italiano Umberto Eco (74). É provável que São João (século I) tenha pensado neles ao escrever o seu Evangelho e defender com ênfase que "o Verbo se fez carne e habitou entre nós". Fez questão também de dar detalhes da crucificação. Existiram 315 evangelhos, mas o Primeiro Concílio de Nicéia, no século IV, reconheceu só quatro como canônicos, isto é, que atendem às regras dogmáticas da Igreja. Deveria ser grande a preocupação com os docetas, pois de São João, que os combatia, foram adotadas também três epístolas e o Apocalipse. O evangelista, natural de Betsaida, era o discípulo preferido de Jesus. Foi confundido com Maria Madalena na interpretação que o jornalista Dan Brown (42) faz do quadro A Última Ceia, do italiano Leonardo Da Vinci (1452-1519), no livro O Código Da Vinci, já transposto para o cinema. Foragido: da expressão latina fora exitu, saído, no sentido de fugir para escapar à Justiça, pelo provençal antigo forreissit, designando o que deixou o fórum, não o prédio onde funcionavam os tribunais, mas a jurisdição na qual vivia e onde as leis o alcançavam. No sentido atual, designa o cidadão que vive escondido, até em outro país, com leis diferentes do lugar onde nasceu, nem sempre clandestino, mas, ao contrário, à vista de todos, como fazia o ladrão inglês Ronald Biggs (77), que morou no Brasil de 1966 a 2002, após fugir de uma prisão inglesa. Seu crime foi assaltar, em 1963, um trem pagador que levava 2,6 milhões de libras (algo como 10,5 milhões de reais) de Glasgow, na Escócia, para Londres, na Inglaterra. Foragido é também, para o dicionário Houaiss, "o indivíduo que foge da polícia por haver cometido um delito, ou que foge da prisão onde cumpria pena, escondendo-se em lugar incerto". Lança: do latim lancea, lança, arma de ataque dotada de ferro na ponta da haste, em geral de madeira. Certa igreja da Armênia guardaria a ponta da lança com a qual um soldado romano trespassou o peito de Jesus, de onde "saiu sangue e água", segundo o Evangelho de São João. Mas a relíquia é disputada por uma igreja de Viena. A tradição cristã conta que foi o centurião Longino (século I) quem trespassou o peito do Crucificado com a lança quando os soldados foram tirar o corpo da cruz. Ao fazê-lo, o sangue espirrou em seus olhos, curando-o de uma inflamação. Convertido,ele foi depois martirizado. No Brasil, o santo é conhecido como São Longuinho e é invocado para achar objetos perdidos com esta prece simplória: "São Longuinho, São Longuinho, se eu achar (nome do objeto), dou três pulinhos". Quando a pessoa encontra o objeto, precisa cumprir a promessa. Há, por força de tal crendice, uma imagem cômica do santo, já usada em publicidade. Personagem lendário, provavelmente seu nome veio do grego lógkhé, lança. Miscelânea: do latim miscellanea, misturas, plural neutro de miscellaneum, misturado, designando originalmente a alimentação dos gladiadores romanos, composta de ingredientes diversos, sem preocupação com o sabor ou com a nutrição, já que quase todos morriam no circo onde se exibiam, em geral o Coliseu, cujas ruínas ainda hoje impressionam os turistas. Por metáfora, passou a ser aplicado a outras reuniões, como a de textos de diversas procedências, de um ou mais autores. Rico: do gótico reiks (pronunciado riks), poderoso. O espanhol rico e o italiano ricco atestam que talvez essas línguas, como o português, acolheram o gótico sem o "s" final, acrescentando-lhe "o". Etimologicamente, rico e pobre procederam de modo idêntico para formar riqueza e pobreza. Ambas as palavras surgiram pela adição do sufixo "eza". "A riqueza é o nervo das coisas", disse o orador grego Demóstenes (384-322 a.C.). Já o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), em As Alegres Comadres de Windsor, faz o cavalheiro Ford dizer, na cena II do Ato II: "Se o dinheiro vai na frente, todos os caminhos se abrem." Ao que retruca Sir John Falstaff: "O dinheiro, senhor, é um bom soldado; avança sempre". Para proteger o patrimônio, Shakespeare deixou de reconhecer um filho fora do casamento, William Davenant (1606-1668). Esquecido no testamento, o rapaz confiscou parte do que lhe era devido e escreveu Macbeth de Davenant, plagiando o pai. No mundo atual, a riqueza aparece sobretudo na produção e no consumo de bens supérfluos. Talvez a indústria dê razão ao dito do filósofo francês François Marie Arouet (1694-1778), o Voltaire: "O supérfluo, coisa muito necessária". No original: "Le superflu, chose très nécessaire".