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Responsabilidade e respeito mútuos favorecem bom atendimento médico

Maria do Patrocínio Tenório Nunes Publicado em 09/08/2007, às 14h38

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Maria do Patrocínio Tenório Nunes
Maria do Patrocínio Tenório Nunes
Até as paredes do complexo Hospital das Clínicas/ Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) sabem: a relação médicopaciente interfere - e muito! - na prevenção, no diagnóstico e no tratamento de doenças. Fizemos uma experiência. Com a autorização dos envolvidos, colocamos estudantes do primeiro ano para observar consultas. E, antes de o paciente entrar, eu fazia várias perguntas. Uma história me marcou; os nomes são fictícios. - Dona Ruth, é a sua vez. Que consulta é essa? - Terceira, doutora. - O que a senhora acha do seu médico? - Gentil, agradável... - O que veio fazer aqui? - Saber se o meu problema é do pulmão ou do coração. Dona Ruth entrou. Junto, o estudante observador. Terminada a consulta, conversamos de novo. - E aí, dona Ruth, como foi? - Legal, o doutor Carlos me explicou tudo. O estudante - quase tão leigo quanto dona Ruth - interrompeu. - Realmente, ele colocou a radiografia naquele negócio de luz branca (o aparelho chama-se negatoscópio) e explicou tudo... - Então, dona Ruth, o seu problema é no coração ou no pulmão? - O médico é legal, mas eu não entendi. - Ele deu remédio? A senhora vai tomar? - Claro, o médico é ótimo, mas não entendi. - Mas por que não perguntou? - Ah... não perguntei. Isso se repete sempre nos serviços públicos e privados, inclusive nos consultórios que só atendem a particulares. Do lado do paciente,às vezes há receio, desinformação, mas o fator principal é o modelo equivocado aprendido: colocar o médico no pedestal - ele fala, eu obedeço. E não é bem assim. Estamos no mesmo patamar. Nós temos algumas habilidades, mas quem decide o que é melhor para você é você. Do lado dos médicos, vários fatores complicam a sua interação com os pacientes: Ï Cultura familiar. É o ponto de partida. Se em casa o colega não aprendeu a respeitar a faxineira, a empregada doméstica, irá repetir o mesmo comportamento no atendimento médico. Ï Formação deficiente. Muitas vezes o colega falha não porque tem má índole, mas porqueé malformado. O estudante que não tem a oportunidade de presenciar o exercício adequadoda Medicina não tem como praticá-la. Por isso,é melhor fazer cinco anos de cursinho e entrar numa boa escola do que cursar uma qualquer. Gostar de gente e de estudar são prérequisitos para ser médico. Ï Condições de trabalho. Hoje, poucos médicos são profissionais liberais. A maioria tem dois grandes patrões: os governos e as empresas de convênios e seguro saúde. Ou seja, somos - sem qualquer demérito - operários da saúde. Para ter recursos para pagar as contas, muitos colegas trabalham em dois ou três lugares, atendem a 20 pacientes em quatro horas. Se algum rejeita receber 20 reais por consulta - é, em média, o que os convênios pagam-, há os que fazem por 10. Resultado: a relação médico-paciente está desgastada. Quase todas as denúncias ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo devemse ao fato de não ter havido boa interação entre pessoas. Uma das partes chama-se médico. A outra, paciente e/ou familiar. O que fazer? Nós temos um defeito de formação: a linguagem hermética. Ao mesmo tempo, somos seres humanos como qualquer outro: com defeitos, qualidades, problemas, sofrimentos, alegrias. Daí, recomendo: se, na consulta, você ficar com dúvida, pergunte até entender. Isso contribui para prevenção, diagnóstico e tratamento adequados. Exerça a cidadania. Respeito e responsabilidade mútuos favorecem a todos nós.