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Relacionar-se com ex de amigo ou amiga não deveria ser problema

Redação Publicado em 05/06/2012, às 12h56 - Atualizado às 13h08

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Já ouvi de mais de um jovem a declaração taxativa de que não poderia se interessar por uma moça por ter sido ela namorada de um amigo dele. Não são casos isolados. A proibição de relacionamentos com ex-namorados ou ex-namoradas de pessoas que façam parte de um determinado grupo (amigos de infância, colegas de colégio, de cursos ou mesmo de trabalho) tem se tornado comum nos últimos anos entre nossos adolescentes e adultos jovens — mas também é encontrável entre gente mais madura.

O que estamos vendo é o ressurgimento de um comportamento chamado “totêmico”, já observado em diversas culturas, por diferentes antropólogos. Em seu clássico livro Coming of Age in Samoa (Chegando à Maioridade em Samoa), a norte-americana Margareth Mead (1901-1978) observou que em algumas culturas as pessoas eram filiadas a diferentes grupos, cada qual cultuando seu específico totem, em geral um animal considerado sagrado pelo grupo. A característica mais marcante do comportamento dos grupos era o fato de que a pessoa que pertencia a um determinado totem estava proibida de se relacionar sexualmente com todas as outras pessoas do mesmo totem. Tal relacionamento era considerado tabu e punido.

Sigmund Freud (1856-1939), o criador da Psicanálise, dedicou todo um livro (Totem e Tabu) ao estudo do assunto. Ele deixou claro que o tabu era uma extensão do conceito de incesto a todo um grupamento, em vez de ser restrito, como usualmente o é, a pessoas do mesmo sangue e parentes muito próximos. Freud explicou o tabu como sendo uma forma de proteger as relações pessoais dentro de um grupo da perspectiva de disputas amorosas potencialmente destrutivas. O tabu, ao determinar a proibição da aproximação sexual, preserva o grupo da possibilidade de ocorrerem situações de ciúme e consequentes agressões dentro do grupo. Em nossa cultura, porém, a recriação deste clima de tabu totêmico só reforça o estímulo a uma atitude de ciúme que tende a se perpetuar irracionalmente.

Pude constatar isso recentemente, quando soube que um jovem agrediu um conhecido por este estar se mostrando interessado em uma antiga namorada sua. É como se um namoro — e mais ainda um casamento — criasse um laço afetivo eterno e indissolúvel, mesmo após o término da relação. Esta situação representa uma doentia prorrogação do sentimento de ciúme para além do fim de um relacionamento.

Felizmente, existem pessoas de bom senso que se posicionam criticando o cultivo desses sentimentos. Um jovem me relatou que, quando interpelado por um amigo por ter “ficado” com a ex-namorada dele,  perguntou se o amigo ainda estava interessado na moça, ao que ou outro respondeu: “Não, não tenho mais interesse nenhum nela, mas ela foi minha namorada até quatro meses atrás e você precisa me respeitar”. A resposta imediata e irônica do jovem foi: “Afinal, qual é então o ‘prazo de validade’ de um antigo namoro para você?” E continuou: “Por quanto tempo você pretende se aborrecer por causa dela?” O amigo, sem melhores argumentos, acabou por aceitar que não havia razão para se indispor com o outro por alguém que já não lhe interessava. Lamentavelmente, porém, a verdade é que nem sempre se chega a um final racional e inteligente como este.