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Relação problemática dificulta a desejável leveza do encontro

Paulo Sternick Publicado em 22/09/2008, às 17h24

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Paulo Sternick
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Às vezes o amor provoca nos pares soma tão grande de problemas que lembra a célebre frase do saudoso e irônico cronista carioca Antonio Maria: "Na vida, a gente ama vinte vezes. Uma por inexperiência, dezenove por castigo". Na verdade, nem é possível amar tantas vezes: pesquisa indica que o êxito surge, em média, no quarto ou no quinto romances. Mas, para ter sorte no amor, não se deve negligenciar o uso de uma balança - não para calcular se os pombinhos ganharam ou perderam uns quilinhos e sim para avaliar em que medida o desfrute da leveza supera o peso recíproco dos problemas. Porque, em conseqüência dos dissabores que experimentam nas relações, há pessoas decepcionadas que desenvolvem fobia do amor, que se converte em uma espécie de tomada que dá choque, passaporte para o sofrimento, ameaça à sobrevivência psíquica. Evidente que nenhum amor é festa permanente - exceto para os que mantêm só vínculos de alta liquidez. Em todo convívio prolongado, os pares atravessam momentos difíceis. Uma relação real experimenta nessas ocasiões crises e testes decisivos que ajudam a consolidá-la. Pensar na leveza do amor, pois, não é sinônimo de negação dos problemas, superficialismo. É atenção para com a saúde do vínculo, no sentido de se anima ambos a desfrutar as coisas boas e também a encarar de forma consistente as adversidades. O que é diferente de deixar a relação ser inundada por amarguras, desconfianças, dores da existência e antigos ressentimentos. Já vi situações nas quais o par vira um muro das lamentações infinitas e outras em que não percebe que está no "buraco". Nessa ocasião, o melhor a fazer é parar de cavar, senão ele fica ainda mais fundo, pois ali só se acha amargura. É preciso cavar no lugar certo onde há poços de alegria e vontade de viver. Sigmund Freud dizia que os que perguntam sobre o valor da vida não estão bem. Relacionamento não é terapia. Quando se vê mais o lado sombrio e escuro da vida, em vez do luminoso, está na hora de se rever e se conhecer melhor - de preferência, na psicanálise. Mas por que isso ocorre? Por que uma relação que deveria ser de amor, conhecimento e satisfação pode se converter em peso e sofrimento. E por que se permanece nela? O caso mais simples é o de pessoas que não se amam mais, embora dependam uma da outra, e têm medo de tentar outra vida, ou não o fazem por falta de dinheiro. Mas há situações mais complexas. Cada indivíduo se relaciona a partir de recursos emocionais de sua vida mental, maior ou menor predisposição para a saúde e as coisas positivas da existência. Quando a bagagem não foi muito promissora, a tendência pode ser a de derramar no amor traumas e frustrações, reproduzindo e dramatizando impasses afetivos. Caso encontre um parceiro que aceita contracenar a partir de seus próprios problemas, a situação pode complicar. Afinal, neuróticos também amam. Em todas as idades há os que têm prazer não com o desfrute das coisas boas, mas com o lado dark, sofrido - às vezes por pessoas melancólicas, que se alimentam da própria dor. Talvez nem saibam viver o outro lado leve, alegre, e até vociferam contra os que o vivem, achando-os fúteis e vazios. O peso é confundido com profundidade, a leveza com superficialidade. Mas são casos extremos. A maioria deseja a leveza feliz e sequer calcula a culpa que sente por não consegui-la.