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Relação com a família do outro exige estratégia de conciliação

Paulo Sternick Publicado em 10/01/2007, às 16h57

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Paulo Sternick
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A relação com os familiares - os "contraparentes" - é das situações mais delicadas e complexas do casal, capaz de se transformar em perigosa armadilha. De um lado, envolve pessoas queridas e íntimas de cada parceiro. E, ao mesmo tempo, nem sempre próximas do outro. O convívio pode ser fonte de prazer e intimidade, quando a sorte traz para junto dele ou dela familiares simpáticos, com os quais logo se identificam. Mesmo as diferenças, se assimiladas com tolerância, podem estimular, provocando a ampliação de experiências. Existem situações assim, quase mágicas, em que o amor dos pombinhos se confirma numa afeição estendida aos parentes recíprocos. Não raro, os contraparentes de ambas as partes também encontram entre si amizades duradouras que prosseguem, algumas vezes, até quando o casamento, ou a relação, já acabou. Mas a vida não rola sempre de acordo com cenários ideais. E o fato de alguém ser parente de seu amor não o livra de suas inconveniências. É preciso, no entanto, respeitar reciprocamente a força emocional dos vínculos que o outro mantém desde os primórdios de sua vida com pais, avós, tios ou irmãos. O amor que surge com a nova união não apaga nem substitui as filiações afetivas primordiais. Mas os parceiros também devem entender que, se a relação seguir em frente, estarão construindo uma nova família, com autonomia e protocolos próprios. Quando não são possíveis entrosamento espontâneo e identificação fácil com os contraparentes, será preciso respeitar os limites e as necessidades recíprocas de cada um. Se um deles, por exemplo, não gosta de ver a sua casa constantemente freqüentada pelos parentes do outro, há que se lembrar que o casal é quem primeiro precisa ser preservado. Mas como privar os familiares da alegria de ver o casal junto, os netos? Há um mínimo a ser respeitado, renúncias que ambos os lados devem fazer para não causar mágoas e ofensas. Se o outro não gosta dos contraparentes, também encrenca com os seus, com os amigos e com todos, é de se desconfiar que ele não foi exatamente uma escolha feliz. Será que, para evitar confusão, vale a filosofia do minimalismo em relação às famílias, que dita a sentença "menos é mais?" Não sei. Cada casal deve encontrar sua medida. Mas a verdade é que, se a paixão entre duas pessoas nem sempre se converte em afeição e simpatia por seus familiares, também não precisa - seja por ciúme, seja por competição ou animosidade - se expressar em distante e fria antipatia. Caso isso ocorra, cuidado. Na opinião do escritor satírico norte-americano Henry Louis Mencken (1880-1956), o homem detesta os parentes de sua mulher pela mesma razão que não gosta dos dele, pois seriam uma grotesca caricatura dos próprios defeitos. E também porque os parentes dela lembram as imperfeições da própria mulher. Mencken é muito engraçado, imaginem se ia poupar a sogra: "De todos eles, a sogra é obviamente a mais repugnante, porque ela não apenas macaqueia sua mulher, como antecipa o que provavelmente se tornará". Maldades e clichês à parte - afinal, quantas sogras não são fofinhas? -, muitos conflitos podem ser evitados com bom senso, tolerância e espírito magnânimo. Há que se achar uma sábia linha de conduta entre o respeito à privacidade de um e a necessidade do vínculo familiar do outro, e vice-versa. Também a proporção em que prestigiam ambas as famílias. Mas é claro que nenhum amor suporta ver a sua casa a todo momento se tornar um acampamento para os parentes da cara-metade. Ou ser obrigado a bater ponto toda hora na casa dos contraparentes. Por isso, a questão deve ser conversada previamente. O outro não é um corpo, um sorriso ou um ser abstrato: é constituído por família, cultura e sua maneira de ser. Enfim, seu caráter. Por isso, a questão da relação com a família deve ser discutida e pactuada antes que o conflito contribua para o desgaste do amor.