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Relação â¬Saberta⬠é uma tentativa de conciliar casal e vida de solteiro

Paulo Sternick Publicado em 18/10/2006, às 16h29

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O site de um grande jornal de São Paulo fez uma pesquisa on-line. Perguntou aos leitores se aceitariam manter uma "relação aberta", cada um tendo a liberdade de sair e relacionar-se com outras pessoas. Dois terços deles responderam negativamente e 33% disseram que sim. A mídia é um termômetro da cultura. E o fato de o assunto ser pesquisado revela um dos dilemas amorosos vividos no mundo de hoje: o conflito que alguns enfrentam entre a estabilidade de um vínculo e o desejo de uma vida livre. Mas a maioria ainda quer uma relação exclusiva - e ela ganhou no primeiro turno. Claro que em nossa sociedade cosmopolita, individualista e liberal as chances surgem e seduzem até fiéis e leais membros de um par. A ponto de 70% de homens e mulheres ingleses confessarem numa pesquisa que um flerte inocente faz com que se sintam mais confiantes e sexies. Eles criaram um termo - flir-delity - que tenta conciliar o prazer de um flerte com o dever da fidelidade (em português seria "flerdelidade"). Mas a volúpia dos dias atuais aumentou a desconfiança e tirou do flerte certa inocência que fazia dele espécie de válvula de escape para o desejo da mulher comprometida de se sentir atraente e desejada, e a sede de conquistas do homem casado. Uma pessoa ciumenta, como lembrava Sigmund Freud (18576-1939), "não crê que um flerte possa ser uma salvaguarda contra a infidelidade real". O mundo de hoje perdeu a inocência e... aumentou o ciúme. O que provoca o risco de uniões asfixiantes. Uma relação "aberta" não fica apenas na sedução - pelo menos não sempre. Convenciona-se que os pombinhos terão liberdade de transar com outras pessoas. Nesse caso, eles sabem que serão reciprocamente infiéis, porém não desleais. A relação é aberta - e o jogo também! "Aberto" opõese a "fechado" - este último termo pode significar, para alguns, sufoco! A relação está em crise. Um ou ambos precisam de uma fresta, de uma festa, de momentos de folga, nos quais respiram o ar renovado da liberdade. Desse jeito, tentam triunfar sobre o ciúme, o sentimento de posse e os riscos da perda, e comemoram a diversidade. Mas, quando o casal aceita uma relação assim, é difícil dizer se ainda permanece casal. Às vezes, um dos parceiros concorda com a situação para ver se mais adiante consegue salvar o par, tendo paciência com a "crise" do outro. Mas, se há demora, não raro acaba também "se abrindo". É muito difícil prever como será a capacidade real de se administrar a situação. "Relação aberta", porém, também é um nome - eu diria, eufemismo - que se dá quando: ou nunca houve um sentimento real ou ele já acabou. Porém, quando só intervêm o desejo e a simpatia - não o amor -, é mais fácil manter múltiplas situações. Hoje se aceita cada vez mais que não há apenas uma forma de se relacionar. Costuma dar certo uma relação aberta de "pós-casais", os constituídos por intelectuais ou desiludidos do amor. Já viveram muitos sentimentos (ou se defenderam deles) ao longo da vida e hoje são mais cúmplices que entendem o desejo de não se envolver - e as travessuras recíprocas - do que um par que se ama possessivamente, interessado em proteger o casal do assédio sedutor. Sabemos que a sexualidade desimpedida não garante saúde mental nem é passaporte seguro para a felicidade. Ao contrário, sexo indiscriminado já figura ao lado de outros consumos, como o de drogas, numa cultura desesperada em busca do "prazer". Quanto mais o exigente pulsar da sexualidade humana for capaz de se atrair por um variado cardápio de oportunidades, paradoxalmente, mais o amor monogâmico entre duas pessoas se valoriza. Tanto pela renúncia aos outros de que é capaz, protegendo o casal de intrusos invejosos, quanto pela indispensável alegria e satisfação amorosa do estar a dois, que serve de suporte a essa renúncia - e a justifica.