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Querer que só o outro o procure às vezes revela desejo de dominação

Nahman Armony Publicado em 06/06/2007, às 21h54

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Nahman Armony
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A questão "quem costuma procurar quem" aparece muito na relação entre namorados - e, em geral, esconde uma disputa de poder. Se eu procuro, então preciso dela (ou dele) e, assim, ficarei em uma posição de inferioridade para discutir o estilo de vida e os valores do casal e terei de ceder mais que o outro. Todos desejamos ter poder, pois isso nos dá uma sensação de segurança, de sermos intocáveis e podermos impor nosso modo de vida. Estar em uma posição superior dá poder. Nas relações amorosas o poder muitas vezes se manifesta em questões como "quem precisa mais de quem", "quem procura quem". Os namorados seguram o impulso de procurar o parceiro por medo de rejeição ou por medo de ficar "por baixo" e ter de ceder aos desejos do outro. "Ele tem de telefonar primeiro" e "não vou procurá-lo" fazem parte desta síndrome. Muitas vezes uma relação promissora não vai adiante em função desse comportamento, que pode ser chamado de orgulho. Numa união saudável os parceiros deveriam sentir-se iguais e, em vez de impor a sua vontade, negociar as diferenças, sabendo que cada um terá de ceder um pouco, como em toda negociação. Na relação de poder, sempre haverá um dominador e um submetido, mesmo que o casal não perceba a situação. A pessoa dominada se sentirá desvalorizada e sofrerá com isso, podendo adoecer psíquica e fisicamente, o que recairá sobre o dominador, que terá um problema nas mãos. Ou então o submetido, ressentido com a situação, se vingará de seu opressor de muitos modos sutis, podendo tornar a vida do casal desagradável. Como já foi dito, todos desejamos ter poder. Por vários motivos. Um deles - e esse interessa em especial à situação de casal - tem a ver com a tendência a sermos influenciados. A afirmação dos valores próprios é um modo de manter a identidade. Mas não basta. Sendo o ser humano sujeito a influências, poderá não conseguir defender seu modo de ser e de viver adotando só uma atitude de suficiência. A imposição de nossos valores a outros tem a ver (embora não só) com um velho ditado: "A melhor defesa é o ataque". Convencendo o outro e trazendo-o para nosso campo, somos nós quem o influenciamos e estamos, assim, a salvo de sua influência. Se não formos proativos, correremos risco maior de sermos sugestionados. No casal, a questão mais séria e assustadora é o medo de perder a personalidade. Ao trabalhar sobre esse medo, diminuindo-o ou neutralizando-o, evitam-se certas situações de disputa. A questão "quem procura quem", então, deixa de ser um termômetro de poder e torna-se sinal de interesse. Se eu o procuro é porque o amo e espero que retribua meu amor procurando-me quando sentir falta de mim. Estamos aí no registro da troca, da confiança mútua, do amor, não no registro do orgulho, da teimosia, da competição, da luta por um poder duvidoso. Pela mesma razão, isto é, para não se enfraquecer diante do companheiro, aspectos de nossa personalidade ou de nossa vida que poderiam desvalorizar-nos são escondidos. O pretexto para tal atitude é o direito à privacidade. Temos direito à privacidade, mas é preciso entendê-la bem. Quando está a serviço da manutenção da superioridade psicológica e do poder psicológico pode levar a uma relação afetiva problemática. Pergunte-se: "Por que escondo tal coisa dele ou dela?" Se a resposta for "Porque quero me manter poderoso", algum trabalho psíquico deverá ser realizado.