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Provavelmente originado no latim medieval gradale, Graal é o cálice...

...no qual, segundo a tradição cristã, Jesus tomou o último gole de vinho. O livro O Código da Vinci, no entanto, diz que é o útero de Madalena. Enganar, do latim vulgar ingannare, significa debochar.

Deonísio da Silva Publicado em 20/07/2006, às 18h32

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Amêndoa: do grego amygdale, pelo latim amygdala, amêndoa, fruto da amendoeira, que, por metáfora, passou a designar as bolinhas de tecido linfóide situadas à entrada da garganta. Tecido semelhante, representado por pequena massa carnosa pendente do palato, em forma de bago de uva, é denominada úvula, do latim uvula, uvinha, sendo conhecida também por campainha. Nossa boca está repleta de metáforas. O palato, por exemplo, é conhecido como céu da boca. Por influência de amêndoa, o fruto subterrâneo de uma herbácea que os índios denominavam mandubi, mendubi e mendubim recebeu dos portugueses o nome de amendoim. Torrado, descascado, triturado e posto em calda de açúcar, acrescida de temperos como a erva-doce, o amendoim vira pé-demoleque. Outra vez, a metáfora: cortado em pedaços pequenos, o doce pareceu, ao primeiro olhar da confeiteira, o pé de um menino. Enganar: do latim vulgar ingannare, debochar, arremedar, ironizar, ações vinculadas a gannire, ganir, latir, como os cães, ou regougar, como as raposas. Quando a ironia ou a falsidade é levada a sério, pode acontecer de um adolescente que goste dos filmes de Steven Spielberg (59) e tenha uma cultura semelhante à do jornalista americano Dan Brown (42), autor de O Código da Vinci, acreditar que a Arca da Aliança, onde foram postos os Dez Mandamentos, foi realmente descoberta por Indiana Jones. Brown engana os leitores. As Olimpíadas gregas não eram dedicadas a Vênus, mas a Zeus. Nem eram realizadas a cada cinco anos, mas a cada quatro anos. As cinco argolas foram colocadas como símbolo apenas em 1913, indicando que tinham sido realizadas em cinco países. A estrela de seis pontas não é exclusiva dos judeus. A bandeira do Marrocos ostenta uma, bem no meio. O jornalista e humorista carioca Stanislaw Ponte Preta, o Sérgio Porto (1923-1968), já fez melhor, há muitas décadas, mas não deu entrevistas para aludir a provas científicas ou históricas do que descobrira no Samba do Crioulo Doido: "Foi em Diamantina/ Onde nasceu JK/ Que a princesa Leopoldina/ Arresolveu se casá/ Mas Chica da Silva/ Tinha outros pretendentes/ E obrigou a princesa/ A se casar com Tiradentes/ O bode que deu vou te contar/ Joaquim José/ Que também é Da Silva Xavier/ Queria ser dono do mundo/ E se elegeu Pedro II/ Das estradas de Minas/ Seguiu pra São Paulo/ E falou com Anchieta/ O vigário dos índios/ Aliou-se a dom Pedro/ E acabou com a falseta/ Da união deles dois/ Ficou resolvida a questão/ E foi proclamada a escravidão". Graal: de origem controversa, provavelmente do latim medieval gradale, cálice no qual, segundo a tradição popular cristã, nascida nos romances de cavalaria, Jesus teria bebido o último gole de vinho na última ceia e que depois teria sido utilizado por José de Arimatéia para nele recolher o sangue jorrado do Crucificado quando o centurião romano lhe enfiou a lança no peito. No romance O Código da Vinci, de Dan Brown, a denominação tem origem fantasiosa, própria dos romances, mas acatada por multidões de otários desidratados de cultura. Segundo ela, o Santo Graal, expressão presente em numerosa literatura, não designa a célebre taça de vinho, mas o útero de Madalena, que teria tido filhos com Jesus. Para tanto, ele inventa que a figura do apóstolo João, o mais jovem de todos e ainda sem barba, não era homem, nem apóstolo, mas a apóstola Madalena. Ora, imaginar não é apenas direito, mas obrigação de romancistas. Misto: do latim mixtus, escrito também mistus, misturado, reunido, confundido, designando reunião de elementos diversos num conjunto, como se faz com o misto-frio e o misto-quente, nomes de lanches feitos com pão, queijo e presunto. Vários livros, cuja qualidade foi rebaixada, têm feito sucesso comercial mediante mistura de elementos diversos, sem que sequer o autor domine o assunto, comoé o caso de O Código da Vinci. Seu autor, procurado por jornalistas que mais o incensavam do que o entrevistavam, pois não se sabia quem era mais ignaro, os entrevistadores ou o entrevistado, começou a aludir a "provas científicas" de suas afirmações absurdas. Acabou enredado num cipoal de lorotas. Nem sequer as datas e as ligações que faz são confiáveis. A Igreja de Saint- ulpice, em Paris, construída entre 1642 e 1745, não pode ter sido obra dos templários. A ordem foi suprimida em 1312 pelo papa Clemente V (1260-1314). O último grão-mestre, Jacques de Molay (1243-1314), e todos os seus seguidores foram presos e, depois de processos que envergonham a humanidade, levados à fogueira entre 1310 e 1314. Ensina o respeitado romancista e medievalista italiano Umberto Eco (74), autor de O Nome da Rosa: "A única maneira de distinguir a seriedade de um livro sobre os templários é verificar se ele se encerra no ano de 1314, a data em que o grão-mestre da ordem foi queimado na fogueira."