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Por lembrar o trovão, do latim turbone, declinação de turbo, estrondo, que sempre assustou o homem, a pólvora...

...não foi bem-vinda na época de sua invenção. Hoje, na forma de fogos de artifício, traz beleza e perigo às festas que marcam o início, do latim initium, de um novo ano.

Deonísio da Silva Publicado em 28/12/2007, às 11h02

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Brinde: de origem controversa, pode ter vindo do italiano brindisi ou do francês brinde, em ambas as línguas redução do dito alemão proferido no ato de beber "Ich bringe dir's", que em português seria "eu te ofereço isso", seguido de desejos de saúde e às vezes de pequenos choques entre os copos. Brinda-se no mundo todo. Diz-se "santé" em francês; "salute", em italiano; "cheers", em inglês; "Prost", em alemão. No francês antigo escrevia-se bringue, palavra presente desde 1611 no Dicionário das Línguas Francesa e Inglesa, de Randle Cotgrave (?-1634), acompanhado da seguinte definição: "a drinking to" (beber para alguém). Quanto aos desejos de saúde, originaram-se no conceito de que as bebidas estavam vinculadas a um dom dos deuses e, mais tarde, de que funcionavam como remédio. É o caso dos licores, tidos como estimulantes do apetite e digestivos, e apontados como elixires de longa vida. As ordens religiosas estão presentes na memória das bebidas com que se brinda, a começar pelo champanhe, inventado em 1668 pelo monge beneditino dom Pérignon (cerca de 1638-1715), abade de Hautvillers. Ele observou que na safra daquele ano o vinho das uvas da região de Champagne, 145 km a noroeste de Paris, apresentavam fermentação irregular, que fazia estourar as garrafas. Enquanto os vinhateiros atribuíam a desordem ao demônio, o religioso criou uma técnica para controlar tal fermentação e inventou o champanhe, utilizando arame para prender as rolhas de cortiça às garrafas. Feriado: do latim feriatus, feriado, que está em festa, em férias, ligado ao verbo feriari, festejar. O significado está vinculado também a festo, dia em que na tradição romana era bom começar alguma coisa, em oposição a nefasto. Os feriados religiosos móveis, diferentes do Natal, que é fixo, são definidos a partir da Páscoa, que ocorre no primeiro domingo depois da primeira Lua cheia que ocorrer após 21 de março. A Sexta-Feira Santa, ou da Paixão, é a que antecede o domingo de Páscoa. A terça-feira de Carnaval dá-se 47 dias antes da Páscoa. E a festa de Corpus Christi (Corpo de Cristo) ocorre 60 dias depois da Páscoa. Já o Domingo de Ramos é o último domingo antes da Páscoa. Quaresma é o período de 40 dias entre o Carnaval e o Domingo de Ramos. E, 39 dias depois da Páscoa, temos a festa da Ascensão de Jesus ao céu. Dez dias depois dela, comemora-se o domingo de Pentecostes. Início: do latim initium, início, começo, princípio, designando ainda inauguração, fundação, preâmbulo. No Aurélio, o verbete é abonado com uma frase do livro Falar, Ler e Escrever, de Aires da Mata Machado Filho (1909-1985): "Falar bem é início de escrever bem". Ao começarmos um novo ano, deixamos dezembro para trás. O mês que tem este nome, do latim december mensis, décimo mês, porque o primeiro calendário romano, que, acredita-se, foi criado por Rômulo, personagem lendário, tido como o primeiro rei de Roma, provavelmente entre 753 e 715 a.C., tinha apenas dez meses, já que não computava os sessenta dias entre dezembro e março. Os dois primeiros meses do ano seriam acrescentados por seu sucessor, Numa Pompílio, que teria reinado entre 715 e 672 a.C., com os nomes de fevereiro e janeiro. Fevereiro foi o primeiro mês do ano até 46 a.C., quando o calendário Juliano, que tem este nome por causa de Júlio César (100-44 a.C.), inverteu as coisas. Nosso calendário atual é o gregoriano, imposto pelo papa Gregório XIII (1502-1585), em 1582. Trovão: do latim turbone, declinação de turbo, barulho, estrondo, ruído. Desde tempos imemoriais, o trovão foi concebido pelos homens primitivos como expressão da cólera dos deuses e sempre causou susto e medo. Machado de Assis (1839-1908), por exemplo, numa viagem a Minas Gerais, deixou de visitar famosas igrejas porque trovejou e ele foi se esconder no quarto do hotel. A população das cidades medievais ficou desconcertada com a invenção da pólvora, no século XIV, que lembrava o trovão. Petrarca (1304-1374) lamentou a novidade: "Não bastava que do céu trovejasse a ira de Deus imortal, era necessário que o homúnculo trovejasse também da terra: a loucura humana imitou o inimitável raio (como diz Virgílio), e aquilo que desce das nuvens agora floresce de um instrumento infernal". Mais tarde, Miguel de Cervantes (1547-1616) também deploraria o invento: "Faz chegar uma bala disparada por alguém que se assustou e fugiu com o resplendor do fogo da maldita máquina". A pólvora, aliás, utilizada nos fogos de artifício, tornou tanto belas quanto perigosas as festas de fim de ano.