CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil

Parceiros que se divertem correm menos perigo de cansar a relação

Paulo Sternick Publicado em 17/03/2008, às 10h04

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Paulo Sternick
Paulo Sternick
Uma piada ilustra a caricatura socialmente compartilhada a respeito da duvidosa alegria que duas pessoas podem sustentar após algum tempo juntas. A mulher comenta com o parceiro, ou vice-versa, que não há nada interessante para verem naquele dia na televisão e sugere: "Que tal se saíssemos e fôssemos nos se divertir?" O outro concorda: "Excelente idéia! O primeiro que voltar deixa a chave debaixo do capacho". Essa visão pessimista do casal, entediado e sem esperança no prazer conjunto, incapaz de curtir a vida e invejoso da condição avulsa, retrata só uma faceta da realidade de pares que vivem unidos faz muito tempo. Há outros que, embora se desanimem aqui e ali, em vários momentos conservam a vitalidade e a alegria espontânea de viver e se divertir a dois. A piada serve de advertência para o que poderia ser a máxima da auto-ajuda: casal divertido jamais será vencido! Mas é curioso que a maioria dos conselhos nesse sentido não considera que, para que isso ocorra, é preciso que eles estejam bem consigo próprios, e um com o outro, e encontrem satisfação recíproca. Já imaginaram: saírem para se divertir porque o psicólogo mandou, cada um mais frustrado do que o outro - e com aquela tromba? Na verdade, a saúde do casal pode ser medida pela disposição dele e dela de aproveitar a vida juntos, pelo vigor das iniciativas espontâneas de lazer e entretenimento. Distrair também tem o sentido de se afastar de certa direção - e esta pode ser o desgaste a que estão sujeitas as convivências. A corrosão cerca todas as atividades humanas. Isso é o que Sigmund Freud chamava de pulsão de morte, que se opunha às forças do amor e da vida. Deixar-se arrastar pelas ondas negativas é sinal de que algo vai mal, sendo necessário até buscar auxílio especializado. Se todos estamos sujeitos a derrapar nas armadilhas da corrosão, o que diferencia o saudável do patológico é aquilo que se faz para deter ou acentuar o processo e quais providências se é capaz de tomar para dar a volta por cima. Há sabedoria em contornar os impasses que se avizinham e administrar os limites frustrantes que impedem a (impossível) plenitude da satisfação e da felicidade. Elas não são ilimitadas e o amor está sujeito a altos e baixos. Distrair-se também tem o sentido de se desviar de uma inclinação negativa, o divertir-se é o desejo da vida que pulsa a dois, "mágica" com a qual podemos tornar relativas as nuvens do desânimo. Não se deve concedê-las a arrogância de querer tampar o céu, escondendo de nós o sol, as estrelas e a esperança. Mas o incrível é que há indivíduos que desmerecem a diversão, ignoram ou desprezam o riso e sacrificam a alegria ao rígido cumprimento do dever - como se só assim fossem pessoas sérias! São é seriamente amargos. O casal, porém, deve se precaver de se submeter a uma ordem que emana da doida cultura em que vivemos. A ordem é: divirtam-se! Pulem, dancem, riam, beijem, transem - tudo isso para, enfim, passar a verdadeira mensagem mercadológica: consumam! É mais saudável proteger a singularidade e se divertir com aquilo de que se gosta. O divertimento, aliás, não deve servir para nos distrair, no sentido de tirar o foco do que temos de pensar sobre nossa vida e a relação do casal. Distração não é fuga, tóxico nem remédio. E, para se divertir a dois, ele deve estar atento às preferências dela, e ela às dele. Isso é um sinal de atenção de um para com o outro e de harmonia do casal.