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Parceiros que querem apimentar a vida a dois devem evitar as certezas

Paulo Sternick Publicado em 17/05/2007, às 13h14

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Para quem vive apenas relações esporádicas, encontrar o par já é situação excitante, pois há a novidade do instante, temperada pela falta de compromisso com o dia seguinte ou com encargos. Os descolados, em triunfo momentâneo sobre a solidão, comemoram o prazer da efêmera união e a brindam com a promessa de satisfação - e da liberdade mútua. Eles nem desconfiam do vazio que os espera caso continuem a se defender de uma relação dita estável. Mas essa admirável leveza da sensualidade também ocorre no caso de os pombinhos estarem no início de seu romance, quando ainda festejam a descoberta recíproca de seus encantos e celebram o acaso que os uniu. Se o novo, ou a ausência de compromisso, é o tempero dessas uniões, como apimentar relações de casais que ficam juntos de maneira (supostamente) estável? Há uma quase inevitável armadilha de os pombinhos acharem que já se conhecem. Desse modo, a "comida" pode se tornar enjoativa. O risco da monotonia os assombra. Por isso lhes são dirigidos conselhos e dicas de como estimular namoros ou casamentos nos quais o tempo já fez o implacável trabalho de substituir as ilusões pela realidade da vida a dois. Desta, alguns fogem devido a dificuldades inescapáveis de um casal, transformadas de forma fantasmática em verdadeiras assombrações. Então, como evitar os impasses, os terríveis labirintos, e não cair nos constantes becos sem saída das relações prolongadas, em que ambos se desanimam? O que fazer para os pombinhos se pouparem do tenebroso mergulho na quase insuportável mesmice do outro - claro, do outro, porque não se vê a própria mesmice! -, a monótona repetição de experiências, o tédio e o desencanto? Há, para isso, os superficiais conselhos picantes, maliciosos, que não passam de paródias, clichês de criatividade: a surpreendente roupinha de enfermeira, os gadgets eróticos das sex-shops, os filmes pornôs, o convite inesperado para o motel, as massagens na banheira - enfim, o último exercício sexual oriental. Há nisso um esforço para os pombinhos se "descongelarem", ganhando novas identidades. Claro que até o mais feliz dos pares pode brincar, gozando essas fórmulas em várias situações picantes, pois é certo que quanto mais lúdico, brejeiro for um casal, para mais longe ele afastará os fantasmas da monotonia. Mas é uma contradição se tentar apimentar uma união com fórmulas convencionais. Cedo elas causariam tédio. Não existem truques que temperem e garantam a renovação consistente. Há, isso sim, atitudes singulares que sustentam a individualidade de cada pombinho, a criatividade e o ânimo da vida, as inquietações partilhadas com o outro. Por exemplo, não existem temperos mais explosivos do que verdade e franqueza. Mas devem ser expressas com jeito, considerando a capacidade do outro de suportá-la. Uma relação prolongada aumenta a intimidade, mas isso pode liberar ou inibir. Se as imagens recíprocas são congeladas, cheias de certeza, formalizadas, fica-se com vergonha de experimentar coisas novas e, assim, se joga água na fogueira da renovação. Se os dois reconhecem que cada um não se limita ao que já conhecem, o vínculo ganha fôlego. O maior tempero é a constatação de que tudo é instável: mudamos a cada dia; sentimentos podem se alternar entre amor e repúdio; emoções se revezam entre satisfação e frustração; o clima oscila da monotonia à mudança. Se o amor e o desejo suportam as intempéries, o tempo se torna o picante tempero de um casal. A libido acostumada é testemunha do bem que o outro lhe faz. Caso contrário, o tempo poderá ser o seu túmulo.