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Parceiros precisam reinventar a delicadeza e a elegância na relação

Alberto Lima Publicado em 07/04/2008, às 12h43

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Não basta uma pessoa ter o que dizer a outra e ser capaz de dizê-lo, principalmente em relações interpessoais significativas. É necessário que tenha também senso de oportunidade, isto é, a capacidade de avaliar se o momento atual é o tempo apropriado para comunicar o que tem a dizer. E não é tudo. Não é suficiente que se tenha um conteúdo a veicular; é necessário achar a forma adequada para transmiti-lo. Se a pessoa quer ser ouvida, é prudente que encontre um jeito de, a um só tempo, assegurar que a comunicação seja eficaz e passível de assimilação. De que adianta usar palavras como açoites? O outro recebe as chibatadas (pois com elas é golpeado), mas não pode acolher o núcleo do que se quis comunicar. O conteúdo a veicular, a capacidade de dizê-lo, a escolha da hora certa, a escolha de uma forma assimilável são alguns dos principais ingredientes para uma comunicação amorosa. É comum, em brigas de casal, justamente quando estão no clímax da exaltação, um despejar sobre o outro um caminhão de acusações e críticas, berrando aos ouvidos do parceiro ou da parceira coisas que requereriam muito cuidado para se expressar. Críticas e ataques feitos em momento inoportuno são um desperdício. Poderiam muito bem ser transformados em expressões de sentimentos e assinalamentos, desde que veiculados em momento oportuno, situação em que certamente poderiam ser mais bem recebidos, pois úteis. As coisas que temos a dizer são jóias, não bijuterias baratas. Foram feitas para ser recebidas e para promover ganhos, não para ferir e acentuar a refratariedade do outro. Se o parceiro inventa de criticar a mãe da parceira no calor de uma discussão, ele faz mau uso da oportunidade: a crítica pega carona em um monte de baboseiras irracionais, como as que se costumam dizer nessas horas, e o resultado é que não serão recebidas, pois terão necessariamente um caráter bélico. Se a parceira decide botar defeito no novo automóvel no momento em que o casal está tendo um bate-boca, contribui para o acirramento das oposições do marido. Ele, que já estava esquentado, agora se encontra também ofendido e não terá a menor disponibilidade para ouvir o que lhe está sendo dito. Assinalamentos restritivos ou queixas requerem cuidados. O momento e o contexto em que são manifestos precisam ser amorosos, elegantes, éticos. Há pessoas que se sentem claras, sinceras e inteligentes e, em razão de tudo isso, experimentam total falta de cerimônia no tocante às coisas que têm a dizer. Escolhem mal a oportunidade e pisam fundo no acelerador. O receptor da mensagem se sente golpeado e impotente para mudar a situação. Outras pessoas, diferentemente, sentem-se constrangidas, tímidas e, em razão disso, privam o outro do privilégio de conhecer o que têm a dizer. As primeiras precisariam de um filtro; as tímidas têm excesso de filtro e, não raro, se sobrecarregam com as coisas não ditas, muitas vezes desejosas de poupar o outro. Acontece que pessoas não estão aí para ser atacadas nem poupadas. Atacar é golpear sem dó, é um perverso exercício de poder. Poupar é subestimar a capacidade do outro, desqualificando-o e superqualificando-se perante ele. Há um termo mais equilibrado de consideração pelo outro: expressar o que há de ser dito, desde que se possa fazê-lo em momento oportuno e de modo assimilável. É urgente reinventarmos a delicadeza e a elegância nas relações, ou se reduzirão a meros depósitos para nossa loucura.