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Parceiros íntimos demais correm o perigo de vir a perder a atração

Paulo Sternick Publicado em 06/12/2006, às 12h52

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Paulo Sternick
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Ao comentar sua separação do ator Reynaldo Gianecchini (33), no final de outubro, após oito anos de união, a jornalista e apresentadora de televisão Marília Gabriela (58) disse: "Com o tempo, casamento também vira incesto". E esclareceu: "Você acaba casada com seu irmão, seu tio, seu pai, sua mãe ou sua prima", referindo-se ao par que fica familiar demais. O efeito pouco romântico que o tempo provoca também tinha sido notado pelo escritor mineiro Silviano Santiago (70), para quem "qualquer casal, depois de sete anos, vira parente". Claro que podemos gostar muito de nossos parentes, até amá-los, porém o romance, o desejo sexual, é o que distingue a relação de amor de outras relações. Quando se usa o termo "incesto" para classificar a união, ou "parentes" para definir o par, é que houve infiltração de relacionamentos familiares passados, que "corromperam" a relação atual, esvaziada de sua força inovadora e de paixão. Mas, se os leitores pensam que os adjetivos usados para nomear a deterioração do amor pelo tempo terminam por aí, se enganam! A psicóloga inglesa Susie Orbach, que atendeu a princesa Diana (1961-1997) por causa da anorexia que teve na ocasião de sua crise com o príncipe Charles (57), disse que a monotonia que toma conta de uniões estáveis é assunto freqüente em seu consultório. Os poucos casais bem-sucedidos que conheceu são os que não são nem muito próximos nem distantes demais. Claro que se forem muito distantes não serão exatamente um casal. O mais interessante, porém, é o que ela concluiu sobre os muito grudados: a falta de distância faz com que as pessoas sintam que estão fazendo sexo consigo mesmas, "experiência frustrante e fatal para a paixão!" Pudera! Afinal, é preciso que o outro seja o outro. É a diferença que estimula, não apenas diferença de temperamento, idade ou classe social. A verdade é que, após um tempo de relação, o outro pode achar que já nos conhece. Ou concluirmos que o conhecermos. Pela lógica de um psicanalista, isso não seria possível, pois, na própria vivência que temos de nós mesmos, convivemos com um estranho, que somos nós. Habitamos um ser do qual não temos conhecimento completo: afinal, parte de nós é inconsciente. Além do mais, estamos sempre mudando. Ora, se nem somos familiares a nós mesmos, como poderíamos ser para nosso par, ele próprio também ignorante a respeito de muita coisa dele? A impressão de familiaridade, de já conhecido, de repetição monótona acontece quando os integrantes do casal já não conseguem estimular o novo que pode surgir deles mesmos. E entre eles. Suas imagens ficaram reciprocamente congeladas. Tornaram-se viciados nas mesmas coisas, infiltrados pelas vivências passadas com familiares. Esqueceram a preservação do clima inovador da convivência e se deixaram ser colocados no papel de um parente - pai, mãe ou irmão - da cara-metade, terminando por cavar a própria armadilha: o tédio e a confusão em que a relação se transformou. Claro. Há casais que têm potencial de vida longa e outros em que o passar dos anos expõe limitações intransponíveis. As estatísticas oficiais no Brasil revelam que a média de duração do casal é de cerca de dez anos. Mas um indivíduo, felizmente, pode ser bem diferente da média estatística. A atualidade entende que ficar ou não junto é opcional. A cultura moderna abriu espaço para pessoas sozinhas, ou que mantêm, de forma alternativa, algum tipo de amor que valha a pena. É avanço libertário, que livra o indivíduo de carregar o fardo de relações sem viço. Mas também é verdade que não existe lei infalível que dissolve casais depois de algum tempo. Ao contrário, há relações em que o tempo revela diferenças criativas e estimulantes. Nesse caso, é preciso sabedoria para suportar altos e baixos, não esperando do amor mais do que pode dar. E que esteja apaziguada a ambição por luzes novidadeiras.