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Parceiros do mesmo sexo sofrem desafios singulares em seu amor

Paulo Sternick Publicado em 29/07/2008, às 14h26

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Paulo Sternick
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Desejar um par do mesmo sexo para se relacionar não é uma escolha que, dependendo da vontade, poderia ser evitada, como alguns ingenuamente imaginam. Em muitos casos, não há outra alternativa: para a homossexualidade, transar com o sexo oposto, como é a prática da maioria das pessoas, é algo impossível e até repugnante. Calculase que 10% da população seja composta de gays assumidos, mas isso não é suficiente para livrá-los de preconceitos e estigmas de uma cultura que continua intolerante à diversidade e às diferenças em relação a uma suposta norma. Isso provoca nos casais do mesmo sexo dificuldades adicionais às dos demais. Eles se sentem culpados diante dos pais e acuados pela sociedade, que não os deixa passar despercebidos. É necessário que desenvolvam caráter firme, consciência e ternura recíproca, numa solidariedade em relação a essas opressões. Elas não se limitam à relação deles com a sociedade ou a família. Parte das pressões se origina dentro deles, pois nem todos estão à vontade ao se sentirem portadores de um desejo que contrariaria a ordem natural das coisas. É comum carregarem o peso de uma transgressão, quase a de serem mutantes de sua espécie. Por isso, é de esperar que sejam mais sensíveis e vulneráveis. Será que, segundo a teoria, são mais narcisistas e exóticos do que a média? Neles, o ciúme pode até ser mais intenso, em especial se aparece um ou uma rival do sexo oposto, pondo em risco o par e a escolha sexual, ameaçada pelo sedutor convite à heterossexualidade, "normal" e mais aceitável. Mas as questões dos casais do mesmo sexo se parecem muito mais com as dos heterossexuais do que se imagina. É lógico que em alguns casos as pessoas desfrutam uma sexualidade dupla e, em certo momento, podem optar por uma ou outra direção, ou permanecer em conflito. Nesses casos, a psicoterapia pode ajudar o indivíduo a saber qual é a sua, embora - cuidado psicanalistas e psicólogos! - não deva nunca ser vista como uma terapia de correção sexual. Pois as causas dessa variante sexual continuam um mistério, indo desde uma constituição orgânica, cerebral, até os fatores ambientais e a história familiar, com seus recíprocos entrelaçamentos. Um exemplo: em 9 de abril de 1935, Sigmund Freud, aos 79 anos, respondia à carta aflita de uma "mãe americana", que, ao falar do filho, evitou o termo "homossexual". Ele comentou: "Por que o evita? A homossexualidade não é uma vantagem, mas não tem nada de que se envergonhar. Não é vício, nem degradação, nem podemos classificá-la como doença. É uma variação da função sexual produzida por certa interrupção do desenvolvimento sexual". Ele não prometeu à mãe que a Psicanálise poderia fazê-lo heterossexual - "na maioria dos casos, já não é possível" -, mas acrescentou algo importante: "O que a análise pode fazer por seu filho é assunto diferente. Se é infeliz, neurótico, atormentado por conflitos, se se sente inibido em sua vida social, a psicanálise poder trazerlhe harmonia, paz mental, plena eficiência - quer continue gay (termo meu) ou não." Freud podia ser conservador ou moralista, mas mostrava sua grandeza de espírito e compreensão generosa da alma humana ao retirar o foco da questão da escolha do objeto sexual, recusando-se a ver o indivíduo apenas pelo prisma de se ele é hetero ou gay - ao contrário, por exemplo, do que costuma fazer o simplismo da maledicência popular.