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Os novos poderes da mulher ainda tumultuam as relações amorosas

por <b>Nahman Armony</b>* Publicado em 11/01/2010, às 10h49

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Os novos poderes da mulher ainda tumultuam as relações amorosas
Os novos poderes da mulher ainda tumultuam as relações amorosas
Por milênios não se contestou a ascendência do homem na família. Ele era o poderoso caçador, o homem público, aquele que tinha uma profissão socialmente reconhecida e valorizada, o provedor sem o qual os filhos e a mulher morreriam de fome. Apesar da importância da função feminina no âmbito doméstico - criando e cuidando dos filhos, mantendo um lar com sólida base afetiva e organizacional que dava estabilidade, segurança e confiança ao cônjuge -, a sociedade sempre teve um olhar desdenhoso para as mulheres, como se seu trabalho fosse de tão pouca valia que nem merecesse consideração. Essa atribuição de inferioridade à mulher e de superioridade ao homem desencadeou a luta feminina pela conquista de uma posição de maior poder na família. Mas as armas da mulher - a influência sobre os filhos, a recusa ao sexo, o jogo da indiferença e do ciúme, entre outros - dificilmente poderiam se igualar à grande arma do homem: a dependência financeira e social da família. Faz algum tempo que essa situação começou a mudar. Hoje, muitas mulheres gerenciam a família e ganham mais que o homem. Ficou na sua alma, porém, uma marca ancestral de subordinação e conciliação que as atrapalha no uso deste poder - que poderia ser empregado para estabelecer uma relação igualitária. Um exemplo comovente da dificuldade em aceitar e assumir a situação de privilégio nos foi fornecido na entrevista que a cantora americana Whitney Houston (46) deu há pouco, falando de suas dificuldades com um marido menos famoso e menos abonado - que, sentindo-se inferiorizado, a agredia. Ela contou de seus esforços para preservar a união, esforços que tinham a ver com sua educação religiosa, com o valor dado à presença do pai perto dos filhos e com a crença numa conciliação possível. Para atingir seu objetivo, Whitney tentou se apagar para que o marido pudesse sobressair. Pode-se prever o resultado disso. Ela se deprimiu, tornando-se usuária de drogas, entrou numa posição masoquista de quem está disposta a qualquer coisa para preservar o casamento, o que só fez estimular a atuação sádica do marido. No final do processo, já arrasada, ela finalmente se separou e pôde começar a se afastar das drogas. Na minha clínica, tenho outro exemplo. Um marido que inicialmente detinha o saber e o poder, ao ensinar o que sabia da profissão à esposa, veio a se sentir superado por ela. Ela, que compensava com seu não-saber o profundo sentimento de desvalia do marido, permitindo-lhe aceder ao tranquilizador sentimento de autoafirmação e autoestima (que dependia da superioridade que sentia em relação à esposa), se tornou a algoz que mobilizava seu sentimento de inferioridade. Decorreu daí um comportamento agressivo do marido e a recusa da esposa em continuar com ele. Os dois casos ilustram uma situação nova, que desestabiliza os casais e exige um esforço de conhecimento de si e da dinâmica da vida a dois. Não há outra saída: o homem deverá trabalhar seus sentimentos de inferioridade advindos de uma posição superior da esposa, e esta deve tomar cuidado para não alimentar o sentimento de humilhação e inferioridade do marido, mas sem amortecer sua própria potência de realização. Ambos precisam ter sensibilidade para lidar com a nova realidade.