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Opinião, julgamento pessoal, veio do latim opinione, fantasia,...

...conjectura, crença. Para prender alguém, a polícia não pode se basear em opiniões. Ela necessita investigar, do latim investigare, ou seja, seguir os vestígios, as marcas deixadas pelo suspeito.

Deonísio da Silva Publicado em 22/06/2006, às 11h43

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Execução: do latim exsecutione, declinação de exsecutio, conclusão, execução, fim. Na linguagem cotidiana, os significados mais freqüentes são realizar (um projeto), tocar (um instrumento musical, uma obra) e matar. Na linguagem jurídica, entre outros significados, estão os seguintes: mover ação em processo judicial, objetivando efetivação de sanções, civis ou criminais, determinadas por sentenças condenatórias; e ajuizamento de dívida líquida e certa representada por documentos públicos ou particulares. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo identificou várias execuções entre os 132 mortos levados ao Instituto Médico Legal após a onda de violência deflagrada pelo crime organizado no mês passado, na capital paulista. Nesse contexto, execução designa tiro na nuca. A palavra exéquias - cerimônias ou honras fúnebres -, que no português só existe no plural, tem a mesma raiz. Investigar: do latim investigare, investigar, seguir o vestígio, procurar. Vestígio veio do latim vestigium, que designava originalmente a planta do pé, de homem ou de animal, evoluindo depois para indicar onde os pés estiveram, pelas pegadas, pelos rastros. Investigar tem, portanto, o sentido original de seguir os passos dados pelo investigado. Modernamente, os passos ganharam outras conotações e os vestígios de onde andou o investigado podem ser procurados no extrato do cartão de crédito, nas contas do telefone fixo ou do celular, em fotos da placa do carro feitas pela fiscalização de ruas, estradas e pedágios, nas passagens aéreas, marítimas e terrestres, na movimentação bancária, entre outras "pegadas". Opinião: do latim opinione, declinação de opinio, opinião, fantasia, coisa imaginada, conjectura, crença. Nas sociedades politeístas, a opinião estava ligada aos deuses, confundindo-se com falsa expectativa, julgamento equivocado, principalmente por deficiência na interpretação dos recados divinos. Os consulentes gregos iam aos oráculos perguntar sobre o futuro. O mais famoso era o de Delfos. Ali, no templo que lhe era dedicado, o deus Apolo ditava suas previsões à sacerdotisa pítia, também denominada pitonisa, encarregada de pronunciar seus oráculos. O ditado "A voz do povo é a voz de Deus" nasceu em sociedades em que os sacerdotes tinham grande prestígio e seu objetivo era desqualificar a opinião popular. Com o tempo, porém, passou a significar endosso ao que o povo diz. O primeiro registro está em Isaías 66,6: "Vox populi de civitate, vox de templo, vox Domini reddentis retributionem inimicis suis" (Voz do povo da cidade, voz do templo, voz do Senhor que dá retribuição a seus inimigos). O erudito inglês Alcuíno (732-804), um dos mestres da escola de Aixla- Chapelle (hoje Aachen), instalada pelo imperador Carlos Magno (742-814) no próprio palácio, adverte o imperador para a falsidade da opinião popular: "Nec audiendi qui dolent dicere vox populi, vox Dei, cum tumultuositas vulgi semper insanias proxima sit" (Não devem ser ouvidos aqueles que costumam dizer voz do povo, voz de Deus, porque a confusão do vulgo sempre toca as raias da loucura). A tradição, porém, consagrou como verdadeira a voz do povo. Diz-se, por exemplo, "quando o povo fala ou é, ou foi, ou será" e no Brasil há um instituto de pesquisas de opinião chamado Vox Populi. O humorista gaúcho Carlos Nobre (1929-1985) fez graça com a expressão "Não confunda a força da opinião pública com a opinião da Força Pública."Remissão: do latim remissione, declinação de remissio, entrega, restituição. No português mesclaram-se remissão e remição porque as duas palavras, conquanto radicadas em verbos diferentes - remissão tem origem em remittere, remitir, perdoar; e remição em redimere, redimir, resgatar -, ganharam significados semelhantes. Na linguagem jurídica, ainda há quem insista em tomar remição com significado diferente de remissão. Veja o que escreveu o jurista Pontes de Miranda (1892- 1979): "Remição vem de remitir, que vem de remittere, e a remissio é que corresponde remissão. Não se remitem pecados, redimem-se, rimem-se, a despeito do milenário erro de latim. Redentor redime, rime; não remite." O célebre jurista estava enganado. Não se trata de erro. Nem de latim nem de português. Escrever uma palavra com "ç" ou com "ss" procede de imposição de gramáticos, funcionando o "ç" às vezes como variante de "ss" ou mesmo de "s" apenas. E vice-versa. E, no latim, remittere e redimere têm significados idênticos. Alguns exemplos: (1) o Credo, decretado no ano 325 pelo Concílio de Nicéia, na Ásia Menor - no qual a palavra remissio aparece declinada em remissionem, porque o verbo confessar exige o objeto direto, que no latim vai para o caso acusativo -, "Confiteor unum baptisma in remissionem peccatorum" (Confesso um só batismo para a remissão dos pecadores); (2) o Salmo 30 - ou 31, em algumas edições da Bíblia -, "Redimisti me, Domine, Deus veritatis" (Vós me redimistes, Senhor, Deus da verdade); e (3) "Confide, filii, remittuntur peccata tua" (Confia, filho, teus pecados te são perdoados).