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O que os olhos não vêem hoje é o que o coração mais sentirá amanhã

Alberto Lima Publicado em 05/05/2008, às 18h40

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Quando uma pessoa afirma que "não quer nem saber" de alguma coisa, referindo-se a assunto relevante dentro de uma relação, ela dá voz a uma defesa, mas se mete em tremenda encrenca: conta para si mesma uma mentira e contraria uma força psíquica imperiosa, o desejo de saber. Exemplos desse posicionamento: "Não sei quais são os ganhos de meu marido, nem conheço o modo como ele lida com o dinheiro; não me interessa". Ou: "Não faço a menor idéia sobre como minha mulher resolve as dificuldades com as crianças e também não quero saber". Acontece que um evento psicológico não deixa de existir só porque a pessoa não toma acordo dele. Podemos dinamitar o dito popular e afirmar, sem medo de cometer um erro de avaliação: "O que os olhos não vêem é justamente o que o coração mais sente". O coração sente, a alma se deixa impactar, o espírito responde. Ao retirar um tema de seu campo de visão, a pessoa obriga seu coração, sua alma e seu espírito a realizar por ela o trabalho que deveria caber à sua consciência. Não é justo. É doentio. Problemas varridos para debaixo do tapete não tardam a putrefazer-se. Exigirão ser conhecidos pelo pior caminho e no momento mais inoportuno possível, quando já tiverem causado irreversíveis corrosões. Saberes impedidos de circular com liberdade facilmente se transformam em fofoca, quando não vazam e burlam os controles de quem os quer manter escondidos. Em outras palavras, forçam sua entrada na consciência - e pela porta dos fundos. Resultado: aquilo que poderia ser uma útil ferramenta para o manejo de conflitos na relação acaba assumindo o caráter de sombra, passando a atazanar os envolvidos, causando-lhes ressentimento, culpa ou raiva. Ao lado das pessoas que fecham os olhos ao conhecimento, há também as que sonegam informações. As primeiras sacaneiam a si mesmas (pois forjam uma espécie de cegueira) e abandonam o outro (pois o compelem a assumir responsabilidades que não são só de um). As segundas sacaneiam o outro (pois o excluem da ordem da vida) e, imaginando-se espertas, tornam-se apenas presunçosas, quando não bandidas. O desejo de saber e o desejo de dar a conhecer são desígnios psíquicos fortes e saudáveis. Se a consciência não pode se ocupar responsavelmente com eles, de imediato o inconsciente constrói um sistema de compensações, que pode assumir vários formatos: a formação de doenças, muitas vezes graves; o surgimento de sentimentos intensos e de difícil assimilação, como o ciúme patológico, os sentimentos persecutórios, a revolta e a indignação; a experiência da injustiça; a culpa; o ódio e o conseqüente desejo de vingança. É natural que haja um apetite pelo saber e quando não é saciado se abre espaço à ansiedade. Para contornar essas dificuldades, seria importante as pessoas experimentarem a liberdade de incluir-se no mundo ao qual pertencem. Se isso não for possível, cabe indagar o que faz alguém em um contexto no qual sua liberdade de movimento é cerceada. Sentimentos de menos-valia costumam estar presentes nessas situações. Além disso, será bem-vinda a delicadeza de incluir o outro em sua experiência. Se isso tampouco é possível, deve-se indagar o que faz a pessoa com alguém que ela não acolhe em seu mundo. Arrogância e onipotência são sintomas desse tipo de funcionamento.