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O pequeno pássaro tico-tico, do tupi tik tik, expressão pela qual os indígenas o chamavam, imitando seu canto...

...emprestou o nome à primeira revista infantil lançada no país. Era uma publicação que conhecia muito bem o segredo, do latim secretum, de falar com as crianças.

Deonísio da Silva Publicado em 19/05/2008, às 11h55

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Bordão: do francês bourdon, bordão, alteração do latim burdone, declinação de burdo, filho de cavalo com jumenta. O animal, talvez por ser pequeno e forte, passou a significar apoio e a servir de montaria a crianças. A palavra que o designa tornou-se sinônimo de báculo, cajado, vara, esteio, arrimo, antecessores da bengala, assim chamada porque os cajados eram feitos de cana de Bengala, ou cana-da-índia. No francês, bourdon veio a designar também o ruído que faz determinada espécie de abelhas e depois a corda que tem o som mais grave entre as dedilhadas. E foi talvez da repetição de algum estribilho de música que bordão adquiriu o significado de recurso de divulgação e de propaganda. Cinqüenta: do latim quinquaginta, cinqüenta. Consolidou-se como cinqüenta por influência de cinco, cinque em latim. E o trema, que pode ser abolido em breve, surgiu para unificar as diversas outras formas, todas já suprimidas, como cinquaenta, cinquanta e cincoenta. Na década de 1950, quando o médico, militar e político mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) se tornou presidente da República, surgiu a expressão "50 anos em 5", repetida nos meios de comunicação como síntese do seu projeto de governo. Quem criou este bordão foi o escritor carioca Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), autor de muitos discursos de Juscelino Kubitschek. Como editor, Schmidt lançou os primeiros livros do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001) e também do alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), entre vários outros. Empreendedor, fundou a rede de supermercados Disco e outras empresas, como a Panair, que em 1958 levou uma desacreditada seleção brasileira à Suécia e trouxe de volta os primeiros campeões mundiais de futebol. Segredo: do latim secretum, secreto, lugar isolado e escondido, derivado de secretus, supino de secernere, separar, escolher. O supino do verbo latino não existe em português: significa inclinado para trás. Segredo é a confidência entre duas pessoas - ou mais, mas poucas, do contrário perde a essência - e também aquilo que é ocultado por vários motivos, como o segredo de Estado, ou um modo particular de alcançar determinado objetivo. O Brasil começou com um grande segredo. O país já estava descoberto, mas como Portugal negociava com a Espanha os limites da dominação das novas terras, o que foi feito em 1494, com o Tratado de Tordesilhas, não podia revelar por que as navegações tinham sido aceleradas após a descoberta da América, em 1492. Feito o acordo, Portugal ainda guardou segredo de um documento enviado pelo cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira (?-1533) ao rei dom Manuel (1469-1521), em 1498, que dizia: "Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados". O título desse documento, Esmeraldo de Situ Orbis, em latim, disfarça seu objetivo: contar um segredo bem guardado. Esmeraldo é anagrama de Emmanuel e Eduardus, origens hebraica e latina, respectivamente, do nome do rei (Manuel) e do navegador (Duarte). Situ orbis significa "lugar do mundo". Tais revelações só se tornaram possíveis pelas pesquisas do historiador da Universidade de Coimbra Jorge Couto (56), autor de A Construção do Brasil. Tico-tico: do tupi tik tik, modo de os indígenas denominarem um pássaro pelo som de sua voz. Com 15 cm de comprimento, de cabeça estriada de cinza e negro com pequeno topete, garganta branca e colar ferrugíneo, ele é conhecido também pelos nomes de jesus-meu-deus, maria-é-dia e maria-judia. E deu nome a O Tico-Tico, primeira revista infantil do Brasil, lançada em 1905. Tinha quadrinhos, charadas, história, ciência, adivinhações, variedades. Escreveu Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): "O Tico-Tico é pai e avô de muita gente importante. Se alguns alcançaram importância mas fizeram bobagens, O Tico-Tico não teve culpa.O Dr. Sabe-Tudo e o Vovôensinavam sempre a maneira correta de viver, de sentar-se à mesa e de servir à pátria. E da remota infância, esse passarinho gentil voa até nós, trazendo no bico o melhor que fomos um dia. Obrigado, amigo!"