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Na segunda união, o uso emocional do dinheiro pode desgastar a todos

Nahman Armony Publicado em 05/04/2006, às 17h01

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Vivemos em um mundo inconstante, no qual a rotina é freqüentemente assaltada pelo inesperado. Temos de aprender a conviver e a lidar com o imprevisto. Bem diferente do tempo de nossos avós, quando se contava com um mundo estável, de hábitos consolidados. Não havia então o imperativo de uma avaliação ininterrupta do impacto dos acontecimentos sobre a subjetividade de cada um, nem a necessidade de se olhar para além do manifesto e explícito. As estruturas em vigor absorviam as insatisfações e conflitos porventura existentes. Tomemos como exemplo a circulação de dinheiro em uma família tradicional para confrontá-la com uma família pós-moderna. Na primeira o homem detinha o poder econômico, pois trabalhava e sustentava a todos, enquanto a esposa cuidava da casa e dos filhos. Disponibilizar para ela maior ou menor numerário tinha a ver mais com a satisfação do marido em relação ao comportamento da esposa do que com a realidade econômica do casal. A mulher, por seu lado, tentava compensar sua frustração no casamento realizando gastos excessivos. Os conflitos e as insatisfações, porém, não ameaçavam a estabilidade do casamento, que era "para sempre"; podiam permanecer ocultos, negados, pois a hipótese da separação era impensável. Os hábitos e as convenções da época seguravam o casamento, os afetos se equilibravam nas ações e reações. Pensemos agora em uma família pós-moderna composta de marido e mulher em segundas núpcias, uma ex-esposa e um filho do primeiro casamento. O homem terá de se relacionar com a primeira mulher, tendo em vista os gastos com a criança e o exercício da função de pai. A circulação de dinheiro, que na família patriarcal fluía no interior da instituição do casamento, agora obedece a uma determinação externa, a da pensão. Nesse caso, a posição de ex-esposa a deixa mais livre e motivada para reivindicar aportes extras. Estes nem sempre são por exclusiva necessidade econômica: ocorre com freqüência haver raiva e ciúme da nova relação. Ela busca então se vingar, sobrecarregando o ex com pedidos extemporâneos; ao mesmo tempo poderão persistir nela resquícios de apego e a contribuição extra poderá ter o significado de ele sentir o mesmo. E mais: se ele cede às suas demandas, ela encontra conforto na idéia de que ainda o controla. A segunda esposa percebe esses significados inconscientemente e exacerba sua rivalidade e competição com a ex. Sua sensação é a de não ser mais a única mulher com a qual o marido se importa. Existe outra a receber agrados; o dinheiro que poderia ser utilizado por ela e pela família escoa-se para a antiga esposa por fraqueza e por um elo afetivo indevido do marido. O que a ex-esposa pede para o filho é percebido como um pedido pessoal. A criança, aqui, perde a sua singularidade, sendo confundida com a mãe. Como não existe uma contenção institucional para essa constelação familiar, a situação pode não se equilibrar com as ações dos implicados, vindo a atingir a região do insuportável quando sucede algo radical: ou a separação do novo casal, ou o rompimento do marido/pai com a família anterior. A fratura, no entanto, poderá ser mais facilmente evitada se cada membro da família se der conta da própria dinâmica psíquica. A nova esposa precisa conscientizar-se de sua rivalidade e competição com a ex; esta deverá perceber o mesmo em relação à atual e, ainda, o ódio e amor residual pelo ex-marido. Já o marido terá a tarefa de compreender o que move as duas mulheres nas discussões com ele. Só assim será possível atenuar os efeitos de tão fortes emoções, protegendo a continuidade dos relacionamentos.