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Mulher que trabalha fora ainda enfrenta resistência do parceiro

Paulo Sternick Publicado em 01/11/2006, às 17h18

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por Paulo Sternick* A revista mais lida no Brasil pelas mulheres na d écada de 50, Querida, dava conselhos úteis para o sucesso na vida amorosa, transmitindo valores culturais da época. Um dos conselhos dizia assim: "Lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa masculiniza". Lendo-os hoje, após a revolução nos costumes, dá vontade de rir. Mas rimos da mesma forma que quando nos identificamos com os personagens confusos de um filme cômico, vendo neles nossas imperfeições. Pois, escondido na alma do homem moderno, que já cresceu vendo o "sexo frágil" se afirmar, ainda pode residir o menino, e a antiga aspiração de ver a mulher como uma "mãe boa", inteiramente dedicada a ele, ao lar e aos filhos. Hoje, há parceiros ainda implicantes com o trabalho da cara-metade. Quando podem, até cobrem o salário para que ela fique em casa. Como se a questão fosse só monetária e não também de realização pessoal dela. É sabido que a mulher que trabalha acaba fazendo "dupla jornada", pois, além do serviço, há tarefas domésticas que duplicam sua faina. Mas não é apenas por ser magnânimo, com pena do sacrifício, que o homem se indispõe com o trabalho dela. Jogando contra o próprio patrimônio - afinal, ao trabalhar, ela agrega renda e ainda o poupa de pensão em caso de eventual separação -, há parceiros que sentem, na verdade, insegurança e medo com o fato de sua mulher, ou namorada, sair todo dia para trabalhar em ambientes nos quais há contato com outros homens. Aparentemente, reclamam do fato de terem menos tempo para eles, o lar e os filhos - o que não deixa de ser verdade -, mas não gostam de reconhecer que ficam assombrados e ameaçados com a vida autônoma da mulher, enciumados e ainda temendo competição. O parceiro ressabiado não entende que a própria relação pode melhorar em qualidade, até se tornar mais estimulante. Alguns chegam ao limite de imaginar que, se ganharem dinheiro, não desejarão mais ficar com eles - como se o único motivo para ela ficar junto a ele fosse a capacidade dele sustentá-la. Que paciência deve ter a mulher cujo companheiro pensa e age assim! Mas é preciso lembrar que ainda vivemos numa época de transição entre velhos e novos valores. Apesar de 43% das pessoas que trabalham hoje no Brasil serem mulheres, elas eram proibidas de fazê-lo sem autorização do pai ou do marido até a instituição do Estatuto da Mulher Casada, em 1962. E que dizer do futebol feminino, que chegou a ser proibido na ditadura militar! A verdade é a seguinte: ao longo da história, quanto mais a mulher tem sido vital para a segurança emocional primitiva do homem, mais ele tem o impulso de oprimi-la. Com o avanço da cultura - e da mente masculina -, felizmente, a relação entre os sexos tende a ficar mais civilizada. Hoje ainda temos resquícios de um ranço cultural antiquado. O mais interessante é que atinge ambos os parceiros: uma mulher de espírito independente, que vê no trabalho um direito inalienável de realização pessoal, raramente prolonga a relação com parceiro intolerante a isso, mesmo porque tal postura não costuma ser atitude isolada de outros traços dele - incompatíveis com a mulher insubmissa. Assim, o problema surge mais quando é a própria mulher que teme o mundo: ela duvida de sua competência, de seu direito à vida profissional, e sente culpa por não dar tanta atenção ao lar e aos filhos. O que, para as outras, afinal, é um preço. Aí, sofre um conflito, fica ambivalente, abrindo brecha para brigas e discussões com o parceiro crítico. Mesmo porque a atitude dele, reivindicando maior atenção, é percebida ingenuamente por ela como "zelo", e a atitude possessiva e enciumada, é também interpretada como expressão do "amor apaixonado" dele. Mas, tomando maior consciência das razões e ilusões de cada um, o casal pode evoluir e chegar, se possível, a um acordo construtivo.