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Arquivo / Joias e Acessório

Moda e Sustentabilidade: Eco Chique

Cresce a preocupação com o consumo sustentável. E o mercado de alto luxo leva vantagem nessa corrida

Redação Publicado em 12/07/2010, às 20h01 - Atualizado em 20/07/2010, às 11h37

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Desfile da estilista Stella McCartney, que usa matérias-primas ecologicamente corretas em suas criações - Márcio Madeira/ Zeppelin Photo
Desfile da estilista Stella McCartney, que usa matérias-primas ecologicamente corretas em suas criações - Márcio Madeira/ Zeppelin Photo
Quem pensa em produtos de luxo, imediatamente imagina uma logomarca e um nome centenário. Sem dúvida, essas são características, mas já não as únicas. Hoje, a preocupação ecológica e social também se torna definidora do luxo. Mas o uso de matériaprima orgânica ou reciclada não basta para algo ser sinônimo de sustentável. Mão-de-obra de qualidade, e que não envolva trabalho escravo ou infantil, segurança e ciclo de vida do produto são outras implicações desse conceito tão falado, mas ainda pouco aplicado. Por sua natureza, as marcas de luxo acabam levando vantagem. Os métodos desenvolvidos para melhor aproveitar as matériasprimas nobres e escassas, além da durabilidade, associada à qualidade e mão-de-obra qualificada empregada na produção, são qualidades distintivas do mercado de altíssimo nível e que vão ao encontro dos ideais de sustentabilidade. "Os buracos que você faz na terra para fabricar um relógio que dura seis meses ou 20 anos são do mesmo tamanho", diz o professor Silvio Passarelli, coordenador do MBA Gestão de Luxo, da FAAP. "Pela própria definição do ciclo de vida do produto, o mercado de luxo está intrinsecamente ligado à questão da responsabilidade socioambiental", afirma Passarelli. Nestes casos, a substituição muito menor. "Uma bolsa Hermès é feita para durar muitos anos", exemplifica. Grandes grifes se destacam pela escolha das matérias-primas e investem em pesquisa. A própria Hermès estuda há anos o couro ecológico e tem uma linha de escritório feita com esse material. No Brasil, a carioca Redley usa malha produzida com plástico PET, algodão orgânico e o chamado recouro, feito a partir de sobras processadas, para desenvolver produtos e sustentáveis, mas aplicarem apenas parte do processo. Infelizmente, o crescimento do mercado sustentável ainda encontra barreiras. Apesar de muitos consumidores acharem o discurso politicamente correto interessante, são poucos os que estão dispostos a pagar mais para colocá-lo em prática. Desenvolver um novo processo, fazer os testes para aprová-lo, envolver mão-de-obra especializada e trabalhar quase que artesanalmente tem um custo alto. E, ainda sim, precisa ser lucrativo e viável. "É papel da marca estimular esse tipo de consumo", diz Fernando Modenesi, gerente de marketing da Redley. "Temos que acreditar nessa ideia e investir nas possibilidades", afirma. A Osklen também mantém esse compromisso. Por meio do projeto e-fabrics, criou critérios de avaliação de materiais sustentáveis a serem utilizados pelas indústrias da moda têxtil. Atualmente, recebem o selo e-fabrics mais de 20 diferentes categorias de materiais de origens recicladas, orgânicas, naturais ou reaproveita materiais na decoração das lojas. Uma das pioneiras desse tipo de moda é a inglesa Stella Mc-Cartney. A estilista é vegan e não consome qualquer produto de origem animal, que tenha sido testado em animais ou que inclua qualquer forma de exploração animal nos ingredientes ou processos de manufatura. Ela também é ativista do Peta (organização de proteção aos direitos dos animais). Em suas coleções, Stella usa matériasprimas como couro vegetal e algodão orgânico. Existem produtos sociais, os ecológicos e os sustentáveis. "A sustentabilidade seria a combinação de tudo isso", diz Samy Menasce, dono da Todaba, uma consultoria ambiental que trabalha com clientes como o Greenpeace. "Ter qualidade é imperioso até por uma questão de respeito ao consumidor, mas apenas isso está longe de ser sustentável", diz. Para Samy, esse é um processo longo e que caminha passo a passo. Uso de matéria-prima renovável, sistema de produção o mais limpo possível, com gasto de energia reduzido e sem trabalho infantil ou escravo, e embalagens que não agridam o meio ambiente são a perfeição. Mas pequenas atitudes são um começo importante. "Não é preciso fazer tudo de uma vez, mas é fundamental falar a verdade", lembra Samy. É comum empresas se dizerem artesanais, desenvolvidas por comunidades, cooperativas ou grupos industriais. Uma vez criadas e aprovadas, todas essas experiências tendem a se tornar mais baratas e, consequentemente, mais acessíveis. Num ciclo virtuoso, as rodas do luxo e da consciência devem girar juntas. Enquanto isso, algumas niciativas já geram novos negócios e tecnologias. Indústrias substituíram determinados produtos e passaram a usar materiais certificados. A captura dos crocodilos, por exemplo, deixou de ser feita de forma predatória e deu origem às fazendas de criação. Empresas como Dior e Cartier têm essa preocupação com seus fornecedores e processos. Investir em tecnologia e transformar algumas técnicas permite, inclusive, curtir o couro de uma maneira menos agressiva por meio do uso do tanino, uma substância encontrada na casca das árvores. Em 2007, a Louis Vuitton inaugurou o primeiro armazém verde que, entre outras coisas, aproveita a luz solar e a água da chuva. Investimentos em transporte por vias marítimas e sistemas de pedidos por gravação de voz - nos quais não é utilizado papel algum - também pretendem reduzir o desperdício. Usar mão-de-obra local e poluir pouco são comportamentos ideais em tempos de aquecimento global. No mercado de luxo não existem grandes fábricas e elas estão próximas às residências dos artesãos. Isso, no mínimo, estimula a economia da região e coloca menos carros nas ruas. "O método de produção dessas marcas clássicas é igual há séculos", diz Passarelli. A Baccarat, por exemplo, sopra vidro como há 300 anos. Ajudar comunidades carentes e participar de ações sociais também são ações positivas. A Redley já monitorou baleias na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro,e contribuiu com campanhas para limpeza das praias. A Fundação Hermès apoia projetos de promoção do artesanato tradicional, incentiva as artes e o comprometimento com a educação e o meio ambiente. "As pessoas consomem luxo, basicamente, por dois motivos", avalia Passarelli. "Ou por conhecimento, por saber que aquilo é realmente bom, ou por dostentação". Mas há de chegar o dia em que os valores intrínsecos terão um peso maior. "Tudo tem a ver com eucação", acredita Samy. E quando isso acontecer, nossos netos viverão em um mundo mais agradável e sustentável.