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Luta de personalidades é normal, mas pode comprometer a relação

Nahman Armony Publicado em 17/08/2007, às 10h32

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Nahman Armony
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Todo mundo tem medo de ser influenciado e, assim, perder a identidade. Tal sentimento pode ser percebido nas várias esferas das relações humanas, desde as que envolvem povos até as que se dão entre funcionários de uma empresa ou as partes de um casal. Porém, não é fácil reconhecê-lo. Somos inconscientes dele, embora influencie nossas ações e esteja incrustado no ser humano desde o início da vida: em nossos primórdios tendemos a nos perder, desaparecer dentro da mãe, e essa tendência se mantém em nosso íntimo enquanto age o desejo de individualização. Assim, as conquistas territoriais, os massacres de populações, a imposição de cultura podem ser considerados, em parte, uma defesa contra a invasão de um grupo sobre a individualidade de outro. Do mesmo modo, quando um casal discute sobre o modo de usar o tubo da pasta de dentes, cada um querendo provar que a sua maneira é a melhor, trata-se na realidade de uma luta de personalidades. Qual personalidade vai prevalecer? Quem vai desaparecer e virar uma sombra para que o outro possa ocupar um espaço pleno ou ficar tranqüilo quanto à ameaça de ser invadido, colonizado, controlado? Na economia das relações entre os seres vivos, o grupo funciona com mais eficiência quando se estabelecem relações hierárquicas. Se cada um saísse atirando para um lado e não houvesse uma sinergia de ações, o grupo tenderia a desaparecer, destruído por outros. Essa é uma herança que os humanos carregam consigo para todos os lados, em todas as situações. Inclusive nas relações amorosas. É preciso fazer um esforço para identificar esse receio atávico e tentar neutralizá-lo. Os casais precisam ficar atentos às pequenas disputas. Não só elas podem esconder problemas maiores da relação como estar vinculadas a essa questão primordial que é o medo de desaparecer na voragem do outro. Sem dúvida, existe a necessidade de autoafirmação para estabelecer limites e espaços. Cada parte do casal tem sua forma própria de pensar e agir. Mas, quando um tenta convencer o outro de que seu modo de pensar é o verdadeiro, entra no terreno da disputa, da conquista, do desejo de ocupar com sua personalidade o máximo de espaço, movido pelo medo de ver sua individualidade anulada pela do outro. Quanto maior for a auto-estima de cada um, a certeza de ter um centro autônomo e criativo, menos esse tipo de disputa aparecerá, pois a força individual se definirá por uma potência intrínseca e não pela dominação sobre o outro. É bom lembrar, porém, que a dominação traz lucros não só para o dominador como, de certa maneira, também para o dominado, que, conhecendo seu papel, goza de tranqüilidade e segurança, ainda que fictícias. Só que medo de ser influenciado e perder a identidade, que leva um a querer dominar o outro, a partir de certo momento tende a alimentar o gosto pelo poder, provocando situações cruelmente injustas. Recentemente assisti ao depoimento de uma mulher que deixou o encargo das finanças para o marido. Certo dia, separaram-se e ela ficou sem recursos. Depois de mais de uma década de aparente segurança e tranqüilidade, seu mundo desmoronou. Para evitar essas situações, é importante que o casal perceba que a tentativa de imposição de seus pequenos gostos pessoais pode ser a materialização do medo primitivo de desaparecer como individualidade, um sentimento que, para ser administrado, precisa, antes, ser reconhecido.