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Lavar e pentear, de pente, do latim pecten, tipo de ancinho, os

cabelos são hábitos higiênicos, termo originado no grego hygieinós, saudável. O homem demorou a adotar esses costumes, mas hoje estão arraigados na maioria das culturas, pois se sabe que reduzem o risco de doenças.

Deonísio da Silva Publicado em 05/05/2008, às 18h04

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Espritado: da redução de espiritar em espritar, verbo formado a partir de espírito, do latim spiritus, sopro vital, espírito, a parte imaterial do ser humano, a alma. Em latim, spirare é soprar. Diz a Bíblia, em bela metáfora: "Deus criou o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas um hálito de vida, e fez do homem uma alma vivente". Predominavam em spiritus valores positivos, mas quando a palavra chegou ao português, no século XIII, como espírito, já trazia a tensão da luta entre bem e mal. É quando surge um dos principais apelidos do demônio: "espírito das trevas", em oposição ao "espírito da luz", terceira coisa que Deus criou, depois do "céu e da terra", ao dizer "fiat lux" ( faça-se a luz), acabando com a escuridão do caos. Um dos mais antigos dicionários de língua portuguesa, de Antônio de Morais Silva (1757-1824), já define espritado como "pessoa inquieta, que parece ter o espírito maligno". A variante espiritado, de acordo com a obra, é "inspirado" e "endemoinhado". Espírito de porco é quem complica a situação. Higiênico: de higiene, do grego hygieinós, saudável, são, aquele que adota práticas que lhe garantam a saúde, sendo uma delas a limpeza pessoal. Não só lavar o rosto e o corpo, mas cuidar também dos cabelos, pêlos, barba e unhas. A humanidade fez um longo percurso para formar hábitos higiênicos. Os índios do Brasil, na ocasião de seu descobrimento, eram muito asseados, segundo Pero Vaz de Caminha (cerca de 1450-1500) informa em sua carta ao rei de Portugal, dom Manuel (1469-1521): "Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha". Não raro, as sociedades antigas, nas quais os sacerdotes tinham grande poder, fundamentaram os cuidados com a higiene em recomendações religiosas. Quando as cidades se transformaram em grandes concentrações urbanas, a falta de higiene se tornou um problema, pois eram muitas as doenças advindas de práticas milenares danosas à saúde e difíceis de serem erradicadas. Muitos palácios não tinham privadas nem esgoto até o século XIX. O papel higiênico, criado pelo norte-americano Joseph Gayetty, em 1857, como nos informa Marcelo Duarte (43) em O Livro das Invenções (Companhia das Letras), teve escassas vendas até que o britânico Walter Alcock passou a fabricá-los em rolos. Até então, utilizavam-se jornais e catálogos de lojas. Quando o banheiro foi instalado nas residências, o papel higiênico se tornou necessário e as vendas explodiram. Pentear: de pente, mais ar, indicando ação. Pente veio do latim pecten, que entrou para a língua portuguesa no século XIV, primeiramente designando utensílio semelhante ao ancinho, do latim uncinus, ligado a uncus, gancho. O ancinho, porém, tem os dentes curvos. Os dentes do pente são retos. Seu primeiro modelo foi encontrado na natureza: uma concha com ranhuras. Pentear-se indica civilidade, cultura, cuidado com a aparência. O cabelo desgrenhado é considerado sinal de loucura. Um dos demônios da Divina Comédia, de Dante Alighieri (1265-1321), chama-se Scarmiglione. Em italiano, significa que tem os cabelos despenteados: scarmigliare veio do latim excarminare, enredar, embaraçar. O pente é objeto antigo. Fabricado de osso ou de madeira, às vezes cravejado de pedras preciosas, era item indispensável das egípcias nobres. Foi levado para Roma por soldados, e seu uso se espalhou. A penteadeira, com espelho e gavetas, tornou-se móvel do quarto de dormir no século XX. Sujo: do castelhano sucio, úmido, pegajoso, do latim sucus, suco, ligado a succidus, gorduroso. Carneiros e ovelhas, tosquiados no começo do verão, apresentavam a lã cheia de suor, úmida, sendo necessário limpá-la. Veio daí o significado de sujeira para a palavra. Sujeira, aliás, é a primeira característica de belzebu, senhor das moscas, em hebraico. Segundo a Bíblia, quando Jesus expulsou os demônios de um homem da Galiléia, eles, autodenominando-se legião, pediram para entrar em porcos que pastavam na região, em vez de serem lançados no abismo. Jesus permitiu, mas os porcos se jogaram num lago e morreram afogados. Atualmente, na linguagem coloquial, para se dizer que surgiu complicação, diz-se "sujou".