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Jogos de ação e reação entre os parceiros minam a convivência

Solange Maria Rosset Publicado em 24/05/2006, às 17h01

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Solange Maria Rosset
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Quando um casal ultrapassa a fase da paixão, começa a pôr em ação seus padrões compulsivos de funcionamento. Tais padrões têm por objetivo organizar defesas para manter a união e preservar os cônjuges de se confrontar com suas dificuldades e impotências. Um deles, que aparece na maioria dos casais, pode ser chamado de "assédio e distanciamento". Nessa forma de relacionamento, um dos parceiros, o "assediador", busca crescente envolvimento, intimidade, contato, diálogo, sexo ou companhia, enquanto o outro, o "distanciador", procura cada vez mais a separação e a privacidade. Quanto mais o parceiro assediador requisita o outro, mais este se sente preso e maior é sua necessidade de escapar. Quanto mais o parceiro distanciador precisa escapar, mais abandonado sente-se o assediador e maior é sua necessidade de perseguir. O assediador acusa o distanciador de ser reservado, de não ser amoroso, não querer se comprometer ou temer a intimidade. O distanciador acusa o assediador de querer se agarrar a ele, de ser implicante e exigente e ter necessidade de controlar. O assediador sente-se abandonado e reage, perseguindo o outro. Em contrapartida, o distanciador sente-se acossado e se retrai. Os exemplos desse jogo relacional são inúmeros. O conteúdo pode variar, mas o mecanismo se mantém. Alguns casais apresentam o esquema no que diz respeito ao relacionamento com as famílias de origem: um quer a aproximação, outro prefere o distanciamento. Há parceiros que mostram o padrão na vida sexual: um insiste em que ela deve ser incrementada e o outro se recolhe. A mesma coisa pode ocorrer na tal "discussão da relação": um acha que devem conversar toda vez que se desentendem, enquanto o outro irrita-se e diz que tais discussões são inúteis. Um casal, com o qual discuti sobre essa forma de funcionar, conseguiu deixar claro o que levava os dois a repetir o comportamento. O homem explicou que a cada dez vezes que procurava a parceira para o sexo, ela consentia em uma; por isso, toda hora ele tentava. A mulher, por sua vez, argumentou que o marido era tão insistente e repetitivo que, caso não se negasse, estaria envolvida com os desejos dele o tempo todo. O primeiro passo para o casal sair desse "jogo do sem fim" é os cônjuges tomarem consciência de que estão apresentando um problema comum a todos os casais. Isso os deixa mais tranqüilos, facilitando enxergarem quando e como desencadeiam o mecanismo. Também é decisivo saberem que ambos têm pontos de vista importantes e que o parceiro está tendo dificuldade em aceitá-los. Portanto, valeria a pena descobrirem formas diferentes de comunicar idéias e sentimentos. Precisam saber, ainda, que uma pequena diferença de desejos e opiniões no início da união pode aumentar com a insistência do outro. Por exemplo: originalmente, o distanciador até tem vontade de conversar, passar o tempo junto, fazer amor, envolver-se com as famílias. Porém, quanto mais é criticado por não fazer tais coisas, menos quer fazê-las. Ao enxergarem a situação sob esse novo ângulo, os cônjuges têm condições de perceber como o comportamento de um desencadeia e mantém o do outro e podem deixar de se acusar repetidamente, compreendendo que o problema resulta de uma construção de ambos. No início, essa percepção não resolve a questão, mas possibilita que se converse sobre ela. A troca de idéias, desprovida de acusações, os ajuda a entender os desejos e sentimentos de cada um antes que o padrão se repita. Com persistência, o casal pode desmontar o mecanismo. E, mesmo que não alcance esse objetivo, no mínimo haverá mais aceitação e menos raiva quando a situação ocorrer.